Leandro Braz da Costa


OUTRAS VOZES DA CANÇÃO POPULAR BRASILEIRA NO ENSINO DE HISTÓRIA


 

Consolidação e inflexões necessárias
Desconfianças quanto à disposição da música, especificamente acerca da canção popular brasileira [letra e música] enquanto fonte para a escrita da história, sobretudo, em virtude de uma considerável produção acadêmica com densidade teórica e metodológica, proveniente de artigos, livros, dissertações e teses, foram gradativamente sendo superadas no Brasil a partir da década de 1980. Estudiosos de diferentes áreas do conhecimento foram alguns dos precursores na proposição de abordagens que contribuíram para o atual estágio de desenvolvimento das pesquisas.

Com a consolidação dessa seara, gradativamente a canção acabou sendo utilizada enquanto material didático fecundo que passou a orientar e contribuir no processo de ensino e aprendizagem histórica, compreendida neste trabalho enquanto “a consciência humana relativa ao tempo, experimentando o tempo para ser significativa, adquirindo e desenvolvendo a competência para atribuir significado ao tempo.” [Rüsen, 2010, p. 79], afinal, “a música é um artefato cultural que auxilia o ser humano a estabelecer relações com o meio. As formas e objetivos com que esse artefato foi e é utilizado ao longo de nossa trajetória histórica são variáveis em seus contextos históricos e sociais.” [Soares, 2017, p. 83].

Enquanto reflexo do desenvolvimento das pesquisas realizadas no país o ensino de história acabou concentrando preferencialmente abordagens acerca da utilização de canções produzidas por compositores consagrados pelo público, com nível considerável de vendagem de discos e exposição midiática, atuantes no mercado cultural brasileiro e no exterior, com participação em grandes eventos e inseridos em movimentos musicais que marcaram época, como a Bossa Nova, a Jovem Guarda, o Tropicalismo ou a MPB, como por exemplo, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Aldir Blanc, João Bosco, Elis Regina, entre outros [Cunha, 2009, p. 6]. 

Quando os enfoques abarcam, por exemplo, a história referente à Ditadura Civil-Militar brasileira, tanto no que diz respeito à produção historiográfica, quanto ao ensino de história através da utilização da produção musical das décadas de 1960, 70 e 80, pesquisadores e professores fazem uso, preferencialmente, das canções censuradas ou engajadas [Napolitano, 2001, p. 117], bem como, da biografia dos grandes nomes da época a fim de desenvolverem finalidades especificas de ensino e [ou] pesquisa, uma vez que, nas décadas de 1960 e 1970 o Brasil vivenciou um período extremamente fértil de produção musical autoral, influenciado diretamente pelos inúmeros festivais de música que ocorreriam em diversas regiões do país, mesmo “diante da vigilância, repressão e censuras enquanto reflexos do autoritarismo vigente aos setores de oposição ligados as manifestações artísticas” [Napolitano, 2002, p. 11]. Dentre esses eventos musicais os mais destacados e pesquisados ainda são os Festivais de Música da Televisão, que tiveram sua gênese logo após o Golpe de 1964, promovidos pelas emissoras Excelsior, Record, Rio e Globo entre os anos de 1965 a 1985 [Mello, 2003].

Na esteira das preferências de pesquisa e ensino no Brasil, o historiador e professor do Ensino Fundamental, Paulo Cesar de Araújo rompeu o status quo da historiografia da música popular brasileira ao publicar, em 2002, a obra Eu não sou cachorro, não: música popular cafona e ditadura militar. Indagando acerca dos motivos pelos quais as letras de canções utilizadas em livros didáticos ignoravam expressivas parcelas de compositores com os quais a maioria da população brasileira se identificava – Nelson Ned, Odair José, Benito de Paula, Wando, Agnaldo Timóteo, entre outros – o pesquisador apontou como jornalistas, críticos musicais, pesquisadores, produtores e alguns artistas intelectualizados subjugaram e menosprezaram artistas de classes sociais menos favorecidas, procurando silenciar a música considerada ‘cafona’ por meio da exclusão e do preconceito, expondo a coleção História da música popular brasileira, vendida em bancas de jornal e do acervo de entrevistas do Museu da Imagem e do Som [MIS] do Rio de Janeiro, no qual os dirigentes ou curadores se omitiram sobre este segmento artístico da nossa música popular.

A primazia que anteriormente comprometia a compreensão ampla dos aspectos socioculturais e políticos que compõem as manifestações populares no Brasil, ao longo das décadas de 1960 e 1970, expostas através das concepções sociais dos compositores da nossa música, foi duramente criticada através da problematização proposta por Paulo Cesar de Araújo. Além disso, a obra pode ser considerada como um divisor de águas que inaugura uma nova etapa na historiografia da música popular brasileira, influenciando nas pesquisas acadêmicas e refletindo no conteúdo didático para o ensino de história.

Em vista das escolhas e esforços que promovem constantes debates e avanços no campo do ensino e da pesquisa em história e música no Brasil, atualmente torna-se imprescindível, chamar a atenção, ainda, para o fato da existência de uma expressiva produção musical que foi manifestada no país por compositores, intérpretes e instrumentistas que no passado estiveram totalmente desvinculados do mercado fonográfico e que, por esse motivo, não tiveram canções comercializadas em formato de disco ou cassete, bem como, consequentemente, não foram difundidas pelos veículos de comunicação da época [rádio e televisão], motivos pelos quais, fazem com que essa produção periférica não apareça no conteúdo de livros didáticos de história, muito menos seja abordada em sala de aula pelos professores que, em grande medida, desconhecem sua existência. Esses compositores periféricos e suas vozes serão brevemente problematizados nas linhas a seguir.

Outras vozes da canção popular
Em relação às canções populares enquanto produções socioculturais de sentidos e significações no tempo, protagonistas ou auxiliares na instrumentalização de processos cognitivos em história, observadas suas peculiaridades objetivas e subjetivas, bem como, suas temporalidades, através das “camadas de memória” [Thompson, 1992, p. 197] existentes em seu conteúdo musical cantado e [ou] escrito, inerentes ao seu processo social e individual de composição,“... o passado se torna presente de modo que o presente é entendido e perspectivas sobre o futuro podem ser formadas. A perspectiva sobre o passado domina, é claro, uma vez que a consciência histórica funciona através da memória... a memória encontra-se intimamente ligada as perspectivas futuras. O próprio presente é visto, interpretado e representado como um processo em curso na estreita relação da memória com a expectativa de futuro.” [Rüsen, 2010, p. 79]

A atribuição de significado ao tempo através da utilização do conteúdo de canções enquanto processo cognitivo e consciente acerca do passado histórico pressupõe o devir enquanto espaço inacabado de compreensão do presente. Portanto, refletir acerca do ensino de história através da música, especificamente em relação à utilização da canção popular enquanto representativa das manifestações socioculturais e políticas relacionados a determinados períodos históricos, além de auxiliar na condução de processos cognitivos de aprendizagem, pode ainda favorecer na elaboração de projetos futuros, os quais possam ser orientados por questões referentes às identidades históricas, “Pode-se, em suma, definir esse ato de rememoração como o ato de dar sentido à experiência do tempo. A consciência histórica funciona por meio da memória; ela aproxima as três dimensões do tempo; cumpre a função prática de orientar um sujeito em direção ao tempo.” [Rüsen, 2010, p. 80]

Jörn Rüsen sublinha que a “consciência histórica vem à tona ao contar narrativas, isto é, histórias, que são uma forma coerente de comunicação, pois se referem à identidade histórica de ambos: comunicador e receptor.” [Rüsen, 2010, p. 80], uma vez que, a memória da consciência histórica é determinada pelas exigências dos sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem, neste caso, pesquisadores, professores e alunos. Ao rememorar o passado através da utilização do conteúdo de canções populares construídas neste período conturbado da história brasileira, os professores devem privilegiar a exposição de fontes com visões antagônicas, oportunizando aos alunos a ampliação das narrativas históricas que possam num primeiro momento, orientar sua identidade histórica, uma vez que: “Como ser social, os alunos não são iguais. Constroem-se nas vivências e nas experiências sociais em diferentes lugares, em casa, na igreja, nos bairros, escolas, e são construídos como sujeitos diferentes e diferenciados, no seu tempo-espaço. E nós, professores, não estamos diante de alunos iguais, mas jovens ou crianças que são singulares e heterogêneos socioculturalmente, e imersos na complexidade da vida humana.” [Souza, 2004, p. 10]

É necessário que a contumaz homogeneização relacionada à seleção de memórias individuais e coletivas retratadas nas canções populares com conteúdo censurado e de compositores engajados ao longo da última ditadura brasileira seja atualizada enquanto recurso didático para o ensino de história, dado à heterogeneidade sociocultural e polarização política da época, que em certa medida ainda é experimentada em diversificados ambientes que não estejam propriamente subordinados as atividades escolares dos alunos. “[...] ensinar história na escola significa permitir aos estudantes abordar as historicidades de suas determinações socioculturais, fundamento de uma compreensão de si mesmos como agentes históricos e das suas identidades como construção do tempo histórico. O presente, que é espaço/tempo dos estudantes, de onde eles olham para si mesmos e para o passado, torna-se histórico, na medida em que, passo a passo, o professor de História consegue historicizar as instituições, as políticas, os modelos culturais, os modos de ser e, sobretudo, as identidades. Trata-se de levar as novas gerações a conhecerem suas próprias determinações, a construir relações de pertencimento a um grupo, a uma história coletiva e a lutas coletivas.” [Pereira & Saffer, 2008, p. 119]

Diante da variedade obtida com a inserção e utilização de outras vozes da canção popular com conteúdos dissonantes, provenientes de artistas que ocupam a periferia da música brasileira – desvinculados dos meios de comunicação – é possível vislumbrar o processo de ensino enquanto instrumento capaz de trazer à tona uma consciência histórica heterogênea, em razão da pluralidade cultural de seus compositores, afinal, é evidente as tensões entre as experiências temporais, as identidades históricas e as expectativas de futuro de todos os envolvidos no alcance da ação narrativa do passado exposta pelo professor em sala de aula, articulada a utilização didática da canção popular. “A incorporação da linguagem musical ao ensino de História reclama do professor e do aluno uma percepção mais consciente da canção popular. Trata-se de uma fonte de pesquisa, onde a forma e o conteúdo integram-se como força de expressão, como referencial de manifestação e comunicação. Desvelam-se contextos, tempos e espaços, na voz do compositor, microfone do povo, de um determinado povo, em determinada condição. São emoções, aspirações, sonhos, alegrias, frustrações que ganham coro e sentido a partir de expectativas comuns. É o diálogo entre palco e plateia: nas linhas da emoção, como a desilusão amorosa, o desejo, a saudade, a paixão; nos valores políticos, sociais e morais; e nas reivindicações de larga abrangência dos direitos sociais.” [David, 2012, p. 102].

Enquanto procedimento metodológico complementar a inserção de canções produzidas por compositores locais contribui sobremaneira com a investigação sobre a história local, que tem sido indicada como necessária para o ensino, possibilitando a compreensão do entorno do aluno, identificando o passado sempre presente nos vários espaços de convivência – escola, casa, comunidade, trabalho e lazer – igualmente por situar os problemas significativos da história do presente. A memória é, sem dúvida, aspecto relevante na configuração de uma história local tanto para historiadores como para o ensino. A final, “O papel do ensino de História na configuração identitária dos alunos é um dos aspectos relevantes para considerar ao proporem-se estudos da história local.” [Bittencourt, 2005, p. 168-169].

Luis Fernando Cerri chama nossa atenção para o caráter das identidades no processo de formação da consciência histórica. “A formação da consciência histórica é fenômeno social com múltiplos elementos e variáveis. Ao considerar o conceito, dimensiona-se o efetivo papel da disciplina de história na escola, ou seja, o de um dos fatores intervenientes nesse fenômeno. Assim, a Didática da História passa a exigir um redimensionamento, também, dos objetivos disciplinares, deixando para trás as listas de conteúdos como centro do debate. Esse centro passa a ser a preocupação com a identidade de quem receberá a ação do professor de história. Num contexto de crise de todos os grandes sistemas explicativos do tempo e que têm a pretensão de definir os destinos das pessoas, os objetivos do ensino deslocam-se para promoção de identidades que possam ser refletidas e assumidas seletiva e criticamente pelo sujeito, em vez de impostas desde fora. Em outros termos, os objetivos do ensino deslocam-se para a promoção de identidades com maior autonomia, bem como para a prevenção de identidades não-razoáveis.” [Cerri, 2010, p. 270-271].

Utilizar canções populares dissonantes para o ensino de história, além de promover identidades com maior autonomia, pode ainda auxiliar sobremaneira na prevenção de identidades não-razoáveis. Neste sentido, pontualmente através de canções produzidas nas décadas de 1960 e 1970 desvinculadas dos meios de comunicação de massa e da indústria fonográfica, utilizadas nas aulas de história sobre a temática referente à Ditadura Civil-Militar, uma interessante perspectiva teórica reside na exposição das concepções sociais de seus compositores observadas às manifestações de conformismo e resistência enquanto aspectos das culturas populares que compõem o Brasil [Chaui, 1987]. Vejamos dois exemplos de canções com tais perspectivas no contexto de festivais de música que ocorreram ao longo da década de 1970 na cidade de Rio Grande - RS.

O jovem Farydo Salomão Junior, filho do ex-prefeito da cidade cassado logo após o Golpe de 1964, construiu a canção vencedora de um festival de música, denominada “Apelos”, com o objetivo de manifestar implicitamente seu descontentamento e inconformismo em relação às práticas antidemocráticas levadas a cabo após o Golpe de 1964.

Manhã branca / Maré mansa / Brisa calma à beira-mar / Jangadeiro se despede / Da Maria e vai pescar / O Jangadeiro pega a rede / A jangada e vai pro mar / Tem no peito uma esperança / A tardinha retornar / Aconteceu que o bom tempo / Foi ingrato em alto-mar / Transformou-se em vento forte / Querendo a jangada virar / E ao bom homem do mar / Janaina foi buscar / E o levou pra outras terras / As boas terras de Aiocá / Jangou, Jangou / Jangadeiro foi pro mar / Lançar sua rede / Nas águas de Iemanjá / E agora seus apelos são: / Ah! Se eu pudesse voltar.

A licença poética inerente à temática de sua canção acerca da atividade pesqueira – atividade muito presente no cotidiano da cidade – lhe autorizou a driblar a censura da época fazendo uso do trocadilho “Jangou, Jangou”, em letras maiúsculas, para se referir a figura do ex-presidente João Goulart. O nome da esposa do “Jangadeiro”, “Maria”, aparece enquanto uma menção à esposa de Goulart, Maria Teresa Goulart e “Janaína” também cultuada nas religiões de matriz africana como Iemanjá, é citada como a responsável por buscar e conduzir o “Jangadeiro” até as terras “Aiocá”, uma alusão à ida de Jango para o exílio no Uruguai. Nas últimas linhas da canção, o compositor concluiu a ideia através do restabelecimento da democracia no país, destacando que o “Jangadeiro” faz “apelos” para retornar ao seu lugar, ou seja, retomar o cargo de presidente do Brasil.

No mesmo evento a canção premiada com o 4° lugar, denominada “E o gigante despertou” de autoria de Lindomar Duarte, expunha através do conformismo uma mensagem de otimismo em relação aos rumos do Brasil, destacando também as belezas e potencialidades do país e do seu povo de modo ufanista, e, exaltando a política praticada pelo Governo Militar, inclusive citando o slogan “Ninguém segura mais esse país”.

Brasil, o meu Brasil / E o gigante despertou / Brasil dos campos imensos, das praias sem fim / De um povo que canta, que samba / És terra do amor / Estradas vão se desbravando / É o petróleo jorrando, é um povo a vibrar / Com a magia do teu futebol / Salve meu Brasil, sigamos a corrente / Avante meu país continente / Do futuro sorridente de todas as gerações / Vai mostrar ao mundo inteiro / Do que é capaz o brasileiro / Mobral, é a Transamazônica, é o homem do campo plantando feliz / Ninguém segura mais este país.

Diante do conformismo e resistência expostos através das concepções sociais destes dois compositores com visões antagônicas em relação a um mesmo contexto sociocultural e político qual canção tomar como representativa da época? Essa é uma reflexão extremamente necessária quando pesquisadores e professores utilizam canções populares como fonte de ensino e pesquisa, pois cabe a eles fazerem uso da pluralidade de elementos culturais e da polarização política tão característica da sociedade brasileira ao longo dos anos 1960 e 1970, refletida através das canções como contribuições efetivas para debates construtivos acerca do entendimento do passado, presente e das perspectivas de futuro. Até porque, os mesmos indivíduos que se identificam com a religiosidade retratada, por exemplo, na canção “Apelos” podem não concordar com o teor político nela inserido.

Nesse processo de exposição das canções com elementos comuns compartilhados e contraditórios deve-se agir, no intuito de estabelecer significado ao tempo, sobretudo, através de narrativas que extrapolem a polarização política enquanto manifestação sociocultural característica dos processos históricos brasileiros, visando à promoção de identidades autônomas, prevenindo identidades não-razoáveis e mantendo problematizações que fomentem debates orientados pela pluralidade cultural promotora de transigências, onde projetos futuros com orientações democráticas possam se tornar viáveis através de identidades vivenciadas no tempo presente.  


Considerações finais
Refletir acerca das relações entre história e a canção popular brasileira enquanto suporte didático, elencando possibilidades teóricas e metodológicas através de inflexões que contribuam para a ascensão de “outras vozes” da música popular brasileira, expõe a necessidade de darmos um passo adiante na construção de trajetórias de pesquisas que possam subsidiar novas perspectivas de ensino e aprendizagens históricas.

Essa intrincada relação exige dos historiadores atitudes de pesquisas positivas no que diz respeito à conscientização e experimentação acerca das temporalidades, bem como, a elaboração de problematizações que desenvolvam novas competências de atribuição de significado ao tempo, sobretudo, no sentido de desvelar novos contextos e agentes históricos intrínsecos às manifestações socioculturais inerentes a produção musical desvinculada dos meios de comunicação de massa e da indústria fonográfica.

Dinamizar as pesquisas acerca da música popular brasileira através da desmitificação dos artistas consagrados, levando em consideração a pluralidade cultural do povo brasileiro enquanto participe do processo de construção da história da música e da canção popular em nosso país, para então esboçar a gênese de caminhos ainda mais participativos e inclusivos, pode garantir a ampliação de diálogos permeados e intermediados por identidades culturais que são orientadoras de experiências temporais fundamentais para o ensino e a aprendizagem em história. 

Referências Bibliográficas
Leandro Braz da Costa. Bacharel em História - Universidade Federal do Rio Grande [FURG], Mestre em História - Universidade Federal do Rio Grande do Sul [UFRGS] e Doutorando em História pela Universidade Federal de Santa Maria [UFSM]. Atua como historiador contratado pela Associação dos Professores da Universidade Federal do Rio Grande [APROFURG].

ARAÚJO, Paulo César. Eu não sou cachorro, não. São Paulo: Record, 2005. [livro]

CERRI, Luis Fernando. Didática da História: uma leitura teórica sobre a História na prática. Revista de História Regional 15[2]: 264-278, Inverno, 2010. [artigo]

CHAUI, Marilena. Cultura do povo e autoritarismo das elites. In: VALLE, Edênio & QUEIRÓZ, José J. A cultura do povo. 4ª Ed., São Paulo: Cortez: Instituto de Estudos Especiais, 1988. [livro]

                            . Cultura e democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Ed. Moderna, 1980. [livro]
                            . Conformismo e Resistência: Aspectos da cultura popular no Brasil. Editora Brasiliense: São Paulo, 6° Edição, 1987. [livro]

CUNHA, Lázaro José de Medeiros. História do Brasil e Música nos livros didáticos. Anais do XXV Simpósio Nacional de História – Fortaleza, 2009. [artigo]

DAVID, Célia Maria. Música e ensino de História: uma proposta. Revista Digital Conteúdos e Didática de História – Universidade Estadual Paulista, 2012. [livro]

MELLO, Zuza Homem de. A Era dos Festivais: Uma Parábola. São Paulo: Ed. 34, 2003.  [livro]

NAPOLITANO, Marcos. A arte engajada e seus públicos [1955/1968]. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, nº 28, 2001. [artigo]
                            . Seguindo a canção: Engajamento político e indústria cultural na MPB [1959-1969]. São Paulo: Editora Annablume, FAPESP, 2001. [livro]
                            . A música popular brasileira dos anos 70: resistência política e consumo cultural. Participação no IV Congresso de la Rama latinoamericana del IASPM [Cidade do México, abril de 2002]. [artigo]
                            . A MPB sob suspeita: a censura musical vista pela ótica dos serviços de vigilância política [1968-1981]. Revista Brasileira de História. São Paulo, V. 24, n° 47, 2004. [artigo]
                            . História e música. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. [livro]

                            . História e música popular: um mapa de leituras e questões. Revista do Departamento de História da Universidade de São Paulo – USP, n° 157, 2007. [artigo]

PEREIRA, Nilton Mullet & SEFFNER, Fernando. O que pode o ensino de história? Sobre o uso de fontes na sala de aula. Anos 90, Porto Alegre, v. 15, n. 28, dez. 2008. [artigo]
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; Barca, Isabel; Martins, Estevaão de Rezende [Org.] Jörn Rüsen e o ensino de história. Curitiba: Ed. UFPR, 2010. [livro]

SOARES, Olavo Pereira. A música nas aulas de história: o debate teórico sobre as metodologias de ensino. Revista História Hoje, v. 6, nº 11, 2017. [artigo]

SOUZA, Jusamara. Educação musical e práticas sociais. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 10, 7-11, mar. 2004. [artigo]

13 comentários:

  1. Muito interessante sua proposta de explorar a música autoral local como fonte a ser trabalhada em sala de aula. Minha questão: você acredita que é possível, por meio dessa abordagem, incrementar a qualidade do ensino da história local, uma vez que na grade curricular da educação básica a abordagem do tema é superficial e, muitas vezes, limitada à demanda de provas de vestibular?

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    1. Olá, Regina!

      Agradeço a leitura do texto e a formulação da pergunta.

      É totalmente possível, através dessa abordagem, incrementar a qualidade do ensino de história local. As canções produzidas por “compositores periféricos”, ou seja, aqueles que não tiveram seus registros fonográficos comercializados, ao menos, quantitativamente, representam grande parcela da produção musical brasileira, e, podem contribuir significativamente para desvelar inúmeras páginas da história local, refletindo as concepções socioculturais e políticas dos indivíduos envolvidos nas práticas artísticas musicais. Diante desse volume de fontes ainda não utilizadas e problematizadas, cabe a nós, através de atitudes simples como, por exemplo, realizar um mapeamento do cenário cultural musical, e, posteriormente, entrar o contato com os compositores locais – geralmente muito receptivos, diferente do que acontece com os grandes nomes da música brasileira - com o objetivo de solicitar cópias de seus registros fonográficos, proporcionar aos alun@s esse contato, que incrementará a qualidade do ensino de história local, bem como, da história do Brasil.

      Espero ter respondido sua pergunta.

      Permaneço à disposição!

      Abraços cordiais!

      Leandro Braz da Costa.

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  2. Gosto muito da ideia de utilização da música como fonte em sala de aula. Porém, quando você fala em "construir relações de pertencimento" me vem a mente o problema do desinteresse e da desidentificação pelo passado. A minha questão é: Pensando a partir do Ensino Fundamental II, como você acha que seria possível trabalhar a música e os diferentes movimentos musicais dos anos 1960 e 1970 quando, grande parte dos alunos, pensam que se não é 'atual' não tem importância e, por isso não vale a pena ser estudado?
    Jéssica Roberta Coelho de Novais

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá, Jéssica!

      Obrigado por ler o texto e pela formulação da pergunta.

      Acredito que os problemas relacionados ao desinteresse, a falta de identidade com o passado e a construção de relações de pertencimento, tendo como ponto de partida as contribuições possíveis através da utilização da música em sala de aula no Ensino Fundamental, seriam melhores equacionadas, caso a Lei 11.769 de 2008, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas de educação básica, estivesse sido implementada de maneira efetiva. Essa lacuna impõe um problema central de ordem estrutural na formação dos jovens, que diz respeito à educação e fruição musical, influenciando posteriormente nas tendências de consumo, dificultando a compreensão dos códigos musicais e promovendo o desinteresse por linguagens consideradas ultrapassadas, o que torna o trabalho d@s professor@s muito mais difícil, a final, desde as séries iniciais, os alunos não possuem – alguns possuem muito pouco, geralmente transmitido por familiares e amigos – contato com o passado musical do país. Nesse sentido, minha sugestão inicial é utilizar somente o conteúdo letrado de canções atemporais para contribuir em abordagens que busquem explicar assuntos relacionados ao cotidiano, fazendo com que os alunos reflitam acerca da relevância dessa produção, dos seus sentidos no passado, no presente e quais as perspectivas de futuro, se existentes, vislumbravam seus compositores, amparados por uma boa contextualização histórica, na qual, no caso da sua pergunta, os movimentos musicais estiveram inseridos. Posteriormente, de maneira gradativa, inserir a escuta da canção (registro fonográfico) como forma de apresentar os demais componentes constitutivos da linguagem musical (instrumentos, harmonia, melodia, ritmos e etc). Este tipo de abordagem, geralmente desperta o interesse d@s alun@s e, consequentemente, acaba potencializando as finalidades específicas, problematizadas na tua pergunta.
      Espero ter te respondido.

      Permaneço à disposição!

      Abraços cordiais!

      Leandro Braz da Costa.

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    3. Ótimo! Muito obrigado pela resposta!

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  3. Inicialmente gostaria de parabenizar pelo texto. Sua abordagem proporciona uma reflexão muito pertinente acerca da noção de Canção Popular, além de problematizar o uso da mesma em sala de aula. Após a leitura pensei em duas questões. Considerando sua formação na FURG, houve em algum momento o desenvolvimento de um projeto vinculado a produção musical de Rio Grande, que possa ter sido trabalhado em algum formato este trabalho nas escolas? Como um estágio ou outra forma? Pergunto pela validade do material apresentado, que certamente contribui no uso da canção popular como fonte em sala de aula.
    Além deste ponto, qual sua análise acerca das principais dificuldades em trabalhar esta proposta em sala de aula? Novamente parabenizo pelo ótimo trabalho produzido.

    Ass: Gustavo Henrique Kunsler Guimarães

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    1. Olá, Gustavo!

      Boa noite!

      Em 2006 escrevi um projeto de pesquisa e extensão denominado “Rio Grande: Cidade dos Músicos”. O título do projeto fazia menção a frase que frequentemente escutava, disseminada pelo senso comum, quando viajava pelo interior do Rio Grande do Sul, tocando em Bandas de Baile. O projeto foi aprovado em reunião do colegiado, porém, infelizmente nunca saiu do papel. Na época, estudar História da Música, utilizar a canção como fonte de conhecimento para a escrita da História ou como recurso didático para o ensino de História, era uma tarefa pouco apreciada, ainda que, as relações entre História e Música possuíssem uma trajetória consolidada, desde a década de 1980, 1990. Durante a graduação, meu laboratório prático de ensino de História através da canção, foram os Projetos de Extensão em Educação Popular, promovidos pelos Programas de Pós-Graduação da FURG, especificamente, de forma voluntária atuando em cursos preparatórios para o vestibular. Posteriormente, trabalhei algum tempo em escolas da rede privada, no ensino fundamental e médio. Nessas oportunidades, procurava sempre estabelecer um diálogo, que julgo necessário, entre a História do Brasil, História do Rio Grande do Sul e História Local, explorando as nuances e as pluralidades que as manifestações socioculturais e políticas proporcionam ao ensino de História através da utilização da canção como recurso didático. As principais dificuldades encontradas, geralmente, consistem na falta de interesse e na resistência dos alunos em reconhecerem ou valorizarem a produção musical local. Realizar oficinas de confecção de instrumentos (procurando historicizar o processo de confecção) e, posteriormente, promover aulas de música, onde os instrumentos confeccionados serão utilizados e os alun@s se tornem participes do processo de criação de canções, tendo como agentes interlocutores artistas locais (músicos, intérpretes e compositores), podem ser estratégias interessantes para contribuir na inserção del@s nesse vasto complexo que é o ensino de História através da canção.

      Agradeço a leitura do texto, bem como, a formulação da resposta que, espero ter respondido de maneira satisfatória.

      Permaneço à disposição.

      Abraços cordiais!

      Leandro Braz da Costa.

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    2. Excelente! Muito obriga pela resposta, Leandro! Grande abraço.

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  4. Boa tarde!

    Eu me chamo, Marcelo Azevedo Trindade. Sou aluno do curso de Licenciatura Plena em História. Terceiro período. Pela Universidade Federal do Maranhão.

    Parabéns por trazer para o ensino de História, a música. Um tema que eu considero de suma importância enquanto recurso didático para maior compreensão da história da humanidade. E também enquanto produção literária e artística com seus significados! É um tema que eu particularmente me identifico muito, e gosto de mais!
    Parabéns também por da voz e vida no seu trabalho, aos artistas populares, principalmente aos anônimos. Que são esquecidos pela história. Mais que estão aí!
    São engajados e comprometidos com a história e com o social, com o meio em que vive.

    Segue as minhas perguntas:

    1. Como você vê a linha de produção do rap e do funk brasileiro hoje? A quem atendem? E de que forma esses gêneros musicais pode contribuem
    para o ensino da história?

    2. Como você analise a obra de Bezerra da Silva? Qual é relação que você poderia fazer com as canções de Bezerra da Silva, Brasil e o ensino de História. Principalmente diante do contexto político atual em que o Brasil vive hoje?

    3. É possível trabalhar as ações de Bezerra da Silva nas aulas de história Geral e principalmente história do Brasil?

    Mais uma vez! Parabéns pelo belo trabalho!

    Um forte abraço e um axé do povo negro!
    Amém! Axé! Aleluia! Sarava!

    Atenciosamente,

    Marcelo Azevedo Trindade
    Aluno do terceiro período do curso de Licenciatura Plena em História. Pela Universidade Federal do Maranhão.

    São Luís, MA. 20 de maio de 2020.

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  5. Olá, Marcelo!

    Obrigado pela leitura do texto e a formulação das perguntas. De certa forma, teus questionamentos estão um pouco distantes da temática do trabalho apresentado, ainda assim, vou me arriscar a tecer alguns comentários.

    Entendo que qualquer gênero musical pode contribuir para o ensino de História. A contribuição didática dependerá da forma como o conteúdo musical será trabalhado e problematizado pel@s professor@s em sala de aula. De modo geral, O RAP e ‘Funk brasileiro’ oferecem diversificadas possibilidades de abordagens que podem fomentar debates acerca do cotidiano dos indivíduos e grupos que compõem as periferias do país. Na década de 1990, eu ouvia MC Bob Rum, Racionais e Pavilhão 9. Certamente, tanto o RAP quanto o ‘Funk brasileiro’ passaram por inúmeras transformações ao longo das décadas. Mudanças que devem ser problematizadas e contextualizadas, a final, também levam em consideração aspectos inerentes à construção da identidade da população negra, porém, não somente da população negra. São questões bem complexas que merecem estudos de fôlego, mas talvez pensar numa linha evolutiva do RAP e do ‘Funk brasileiro’, da Jamaica aos EUA, sua chegada ao Brasil, suas raízes culturais e as influências do mercado cultural e indústria fonográfica nacional e internacional, como forma de auxiliar a formulação de explicações socioculturais voltadas às periferias, enquanto locais de produção artística e musical que expressam, influenciam e transformam as tendências ou identidades culturais consolidadas no país, sejam elas de aspectos políticos, morais, éticos, de gênero e etc. Existem muitas possibilidades! Apesar de não ser um estudioso, a obra do Bezerra da Silva é outro manancial inesgotável para o ensino de História, pois, em minha opinião, expõem fidedignamente, sem muitos rodeios, os vários ‘tipos’ de ser dos brasileiros. Ainda assim, entendo que ao trabalharmos com as canções do Bezerra, devemos ter o cuidado de selecionar o conteúdo levando em consideração uma classificação indicativa determinada pelo período escolar e idade dos alun@s.

    Espero ter contribuído com os teus questionamentos! Um grande e forte abraço!

    Leandro Braz da Costa.

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  6. Boa tarde!

    Peço mil desculpas!
    Peço perdão, se por um acaso os meus questionamentos em relação a temática do seu trabalho, se distanciaram e eu tomei outros rumos que não eram a sua proposta. Não tive essa intenção!
    Mais desde já, eu lhe agradeço por ter se arriscado em responder os meus rumos ignorados. Eu lhe agradeço porque você no seu ofício de historiador da observância e do arriscar - se. Me convida a refletir enquanto aluno do curso de história. Que é preciso correr riscos para salvar aquilo que parece está perdido, sem perder de vista a observância. Com o objetivo de refazer as ideias, refazer o caminho do pensamento e da ação pela história e para a história enquanto realidade.

    Valeu!

    Marcelo Azevedo Trindade

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  7. Marcelo!

    Sem problemas! Eu que peço desculpas, por não ter contemplado de maneira satisfatória as perguntas. Novamente te agradeço pelos valiosos questionamentos, que me deslocaram da área de conforto. Isso é excelente!

    Um grande abraço!

    Leandro Braz da Costa.

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