Lucimar Alberti


O USO DA METODOLOGIA CIENTÍFICA COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE HISTÓRIA


Introdução
O ano de 2018 trouxe um elemento novo para a mesa de debates que é a Educação. Desde dezembro deste ano, quando o Congresso Brasileiro aprovou a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), muito passou a se discutir e a se pensar nas transformações que esse documento iria exigir no processo de readequação dos currículos, das metodologias e dos processos avaliativos. De maneira geral, a BNCC apresenta um conjunto de dez competências, que são o alvo de todo processo educativo enquanto que as disciplinas presentes na Base são constituídas por competências e habilidades específicas de cada disciplina. Entre as competências gerais apresentadas pelo documento destaco a segunda que propõe, em linhas gerais, “exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências” [BNCC, p.9, 2018]. Dessa maneira, a partir das proposições da BNCC, pretendo, neste espaço, refletir sobre as possibilidades de utilizar a metodologia científica enquanto uma ferramenta pedagógica nas aulas de História, mais especificamente nos anos finais do ensino fundamental. Mesmo que o espaço seja breve acredito que trazer esse tipo de discussão para um espaço público, de grande visibilidade como a internet pode contribuir para qualificar as práticas pedagógicas na disciplina de História. Além disso, no meu entendimento, a prática de pesquisa constitui uma das chamadas metodologias ativas as quais abrem um espaço maior para o protagonismo do estudante e, também por isso, devem ser incentivadas no espaço escolar. Em parte, por permitir uma prática mais conectada ao momento que vivemos e também por possibilitar que os estudantes assumam uma postura menos passiva em frente a sua aprendizagem.

A Educação em tempos de Base Nacional
De acordo com seu próprio texto, em seu capítulo introdutório, a BNCC [2018] se define como “um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica” [2018, p.7]. Sua origem pode ser encontrada ainda na Carta Constitucional de 1988, quando no seu artigo 210 propunha a criação de “conteúdos mínimos” a serem aprendidos pelos estudantes. Alguns anos depois, ainda na sequência do movimento iniciado pela Constituição Federal, a LDB de 1996, em seu artigo 26, afirma que “os currículos do nosso ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura” [BRASIL, 1996]. Como podemos perceber, trata-se de um movimento de integração das aprendizagens de maneira a assegurar que todos tenham, na medida do possível, as mesmas oportunidades ao mesmo tempo em que mergulha de uma vez por todas a educação brasileira nas discussões propostas por Perrenoud (2000).

De acordo com a BNCC, competência consiste em mobilizar recursos diversos, como conceitos e procedimentos, práticas cognitivas ou socioemocionais, atitudes, valores e posicionamentos para, de uma maneira consciente, “resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho” (BNCC, 2018, p.8). Já as habilidades, por sua vez, consistem nas “práticas”, sejam elas “cognitivas e socioemocionais” (BNCC, 2018, p.8), que podem ser explicadas como as ações que iremos desenvolver para alcançar as competências gerais ou as específicas de cada área ou disciplina. Assim, para a Base, realizamos determinadas ações a fim de construirmos uma ou mais competências. Lembrando que o objetivo final do processo educativo, a partir da publicação da BNCC, é fazer com que esse estudante desenvolva, ao longo de toda Educação Básica, as dez competências gerais. Percebemos então uma relação de interdependência entre habilidades e competências, com as primeiras atuando em conjunto para o desenvolvimento da segunda. Dessa maneira entendo que o planejamento dos professores precisa levar em conta um duplo movimento, onde de forma micro se pensa a habilidade que se pretende desenvolver naquela aula ou conjunto de aulas enquanto etapas de um processo mais longo, que possui como objetivo final do processo pedagógico atingir as competências listadas para aquela disciplina de maneira específica e de forma mais ampla para toda Educação Básica. Ou, em outras palavras, construir através desse movimento de duas vias um “conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais” [BNCC, 2018, p.7].

A proposta que apresento busca refletir acerca das possibilidades de uma prática pedagógica que permita o desenvolvimento de uma das competências gerais listadas pela Base. No caso específico, a competência de número dois a qual propõe “exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas” [BNCC, 2018, p.9]. Simplificando, podemos perceber que a Competência citada trata do uso da metodologia científica como meio através do qual os estudantes devem construir sua aprendizagem.

É importante considerar que essa Competência Geral encontra similaridade com o exposto quando a BNCC aborda as especificidades da disciplina de História que apresenta em sua terceira competência específica, que os estudantes precisam se tornar capazes de “elaborar questionamentos, hipóteses, argumentos e proposições em relação a documentos e interpretações e contextos históricos específicos, recorrendo a diferentes linguagens e mídias, exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos, a cooperação e o respeito” (BNCC, 2018, p. 402]. Percebe-se aqui a ênfase na linguagem científica própria da ciência histórica e, que nas palavras da própria Base Nacional propõe que nas aulas de História os alunos possam assumir uma “atitude historiadora” [BNCC, 2018, p.401]. Essa “atitude” referida, expressa, na minha opinião enquanto autor, a necessidade de atividades que possibilitem a produção de conhecimento histórico. O que não significa formar historiadores mirins, mas, sim, possibilitar uma prática pedagógica pautada por uma postura mais ativa por parte dos estudantes, onde a responsabilidade da aprendizagem não esteja apenas na figura do Professor.

Uma proposta de trabalho
Nesse processo de construção de uma “atitude historiadora” e conectando essa compreensão com as competências apresentadas anteriormente e que evidenciam a necessidade da adoção de uma postura mais conectada à prática científica, acredito que devemos considerar o uso de temas que dialoguem com o presente. Pois, de acordo com Pinsky e Pinsky [2009] “o passado deve ser interrogado a partir de questões que nos inquietem no presente portanto as aulas de História serão muito melhores se conseguir estabelecer um duplo compromisso com o passado e o presente” [PINSKY; PINSKY, 2009, p.23]. Assim, buscando um tema que faça sentido para a sociedade no presente e que inquieta as pessoas atualmente, esbarro nas notícias sobre a pandemia produzida pelo Covid-19. Como bem expressam comentadores dos mais variados noticiários, é algo que nossa geração ainda não havia visto e, também por isso, desperta muitas dúvidas. Então, na disciplina de História, poderíamos propor um estudo sobre as epidemias do passado, como a Peste Negra na Europa Medieval ou a Gripe Espanhola da segunda década do século 20. A título de exemplo e por se demonstrar mais prático, acabo por optar pela Gripe Espanhola que afetou um número significativo de pessoas no Brasil quando da sua ocorrência. No entanto, refletindo um pouco mais sobre a pandemia atual lembro de outro assunto, este, bem contemporâneo e que nos acompanha ainda mais de perto: a disseminação de notícias falsas ou fake news.

A partir deste momento tenho diante de mim dois temas diferentes: primeiro, as inquietações produzidas pelos efeitos do Covid-19; em segundo, a disseminação de fake news que invadem as redes sociais. Analisando friamente, as questões da pandemia podem ser utilizadas como um ponto de partida para um estudo acerca das condições de saúde da população brasileira nos anos entre 1918 e 1920. Por outro lado, as fake news permitem demonstrar aos meus alunos a importância de termos certeza das informações que divulgamos. Ou, em outras palavras, posso demonstrar como devemos proceder quando em contato com alguma notícia e a relevância de conferirmos suas origens a fim de evitar a proliferação de informações equivocadas. Em ambos os casos temos possibilidades de desenvolver uma atividade de pesquisa que resulte em uma “atitude historiadora” e, ainda mais importante que isso, convém lembrar que os temas não cessam por aí. Podem aparecer outros temas conforme as características de cada comunidade escolar ou evento que possa ter impactado os alunos naquele momento. Assim, entre os temas possíveis, a prática que proponho envolveriam alguns elementos, dos quais: a) um estudo sobre as condições de saúde da população brasileira no período da Gripe Espanhola estabelecendo um comparativo entre a situação do passado com o momento presente; b) o uso de elementos do método científico para responder a um problema - ou vários deles - previamente escolhidos com a orientação do Professor; c) levantamento de dados junto a comunidade escolar; d) análise dos dados levantados produzindo um estudo comparativo entre passado e presente a partir das questões elencadas pelos alunos.

Uma vez apresentado o tema sobre o qual irá ocorrer a pesquisa passo a explorar possibilidades de dúvidas ou curiosidades que os alunos possam ter em relação ao tema proposto. Dessa conversa espera-se que surjam questões que poderão ser utilizadas como problema de pesquisa para a atividade. Perguntas tais como “quantas pessoas morreram? ”, “como acabou a gripe espanhola? ”, “quais eram as formas de tratamento utilizadas? ”, ou, ainda, “como as pessoas evitavam a doença? ”, podem aparecer nesse momento. Uma vez que se produz o levantamento das dúvidas e distribuição das mesmas entre os grupos formados o passo seguinte consiste em descobrir quais as respostas esses alunos teriam para as questões propostas. Neste caso teríamos construído até o momento um tema de pesquisa, comum a todos os alunos; um problema de pesquisa específico para cada grupo; e agora partimos para o levantamento das hipóteses ou respostas provisórias que esses alunos teriam para as questões elencadas. Importante destacar que essa atividade se daria sempre pensando na articulação entre passado e presente, ou seja, sempre partindo das dúvidas que os alunos possuem no presente firmando assim aquilo proposto por Pinsky e Pinsky [2009] no “duplo compromisso” [Pinsky; Pinsky, 2009, p.23].

Uma vez pensadas as hipóteses cada grupo deve então decidir os procedimentos metodológicos para construir uma resposta satisfatória ao problema de pesquisa. É importante considerar que esses procedimentos variam conforme o tipo de problema proposto para investigação. De maneira geral as atividades de pesquisa em História exigem uma revisão bibliográfica, que podem ser realizadas através da leitura de artigos em sites e blogs na Internet. O levantamento de dados pode ocorrer através do contato com a própria comunidade escolar. O uso de formulários online, construídos em plataformas como o Google Forms e disponibilizados através de aplicativos de comunicação permitem o acesso a uma grande quantidade de pessoas. Esse tipo de estratégia mostra-se útil quando se pretende identificar a opinião ou mesmo o comportamento de um grupo de pessoas, sejam estudantes, familiares dos alunos ou mesmo membros da comunidade escolar de maneira geral. Outra forma de localizar informações qualificadas pode se dar através de entrevistas com especialistas que estejam ao alcance dos alunos. Ou, em alguns casos, o próprio Professor pode agendar uma conversa na forma de palestra com algum profissional que possa esclarecer aspectos do tema pesquisado e, ao final, o profissional, se assim considerasse importante, poderia disponibilizar um momento para responder perguntas dos estudantes.  

Feito o levantamento dos dados, seja através de palestras, rodas de conversa, entrevistas ou por meio do uso de formulários disponibilizados de maneira on line, o importante agora a demonstrar aos alunos como esses dados podem ser utilizados para responder a pergunta que está sendo investigada. Mesmo que em um primeiro momento não sejam criadas grandes análises ou não se alcancem respostas definitivas - estamos falando de alunos dos anos finais do Ensino Fundamental - importa aqui é desenvolver o processo de pesquisa através da metodologia científica. Em outras palavras trata-se de demonstrar aos alunos que o uso de questionamentos associado à busca de informações provenientes de boas fontes contribui para o não disseminação de informações incorretas, o que acaba sendo uma aprendizagem que ultrapassa os limites da Escola. Assim, além de realizar uma aprendizagem mais significativa sobre as questões de saúde, tanto no início do século XX e atualmente, os estudantes passam a conhecer o método científico enquanto ferramenta para sua aprendizagem.

Considerações Finais
Quando falamos em produção do conhecimento é de extrema importância pensarmos também na socialização dos resultados encontrados. Talvez caberia aqui a organização de um seminário ou ainda a divulgação dos resultados através de plataformas digitais, como um blog, uma página no Facebook ou mesmo por meio de gravações das apresentações e sua posterior postagem no Youtube. O que importa, de fato, é fazer que essa experiência ultrapasse os limites da Escola, alcançando a comunidade escolar. Primeiro por ser uma maneira de prestar contas junto a sociedade daquilo que nós professores estamos fazendo em sala de aula. Ou seja, como uma prestação de contas perante a sociedade. E, mais que isso, convém lembrar que toda ciência precisa ser comunicada e, a partir do momento que os estudantes passam a aprender a produzir conhecimento, é de extrema importância que eles também sejam inseridos nesse processo de submeter suas descobertas - por mais simples que sejam - ao olhar crítico que nos cerca.

Encaminhando para um final a essa reflexão considero importante também pensarmos na adaptação desse tipo de proposta para outras disciplinas e etapas da Educação Básica, pois, conforme demonstrado no início deste texto, “recorrer à abordagem própria das ciências” [BNCC, 2018, p.9] faz parte das competências que todas as disciplinas precisam alcançar. Logo, é necessário pensarmos em maneiras de compartilhar esse tipo de prática com outras colegas de diferentes áreas. Assim, na medida em que agregamos novas parcerias, tornamos o processo de pesquisa científica em nossas escolas uma prática mais orgânica. Com isso, melhores as pesquisas e os alunos passam a assumir uma postura mais ativa diante dos desafios que tanto a Escola como o mundo contemporâneo passam a apresentar. O que não significa dizer que investir no uso do método científico seja a salvação da Educação, mas certamente é uma entre outras ferramentas que podemos utilizar em nossas salas de aula.

Referências
Lucimar Alberti é Mestre em Educação (UFRGS, 2017) e Licenciado em História (ULBRA, 2006) e atua como Professor de História nas redes municipais de Tupandi e Maratá, ambas no Rio Grande do Sul.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC. 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_20dez_site.pdf . Acesso 11 de outubro de 2018. [intetnet]

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação-LDB. Brasília, DF, 1996. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 18 de abril de 2020. [intetnet]

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acessadoo em: 18 de abril de 2020. [internet]

PERRENOUD, Phillipe et al. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: ArtMed, 2000. [livro]

PINSKY, Jaime; PINSKY,Carla Bassanezi. O que e como ensinar - Por uma História prazerosa e consequente. In.: KARNAL, Leandro (org.). História na Sala de Aula - conceitos, prática e propostas. São Paulo: Contexto; 2009. [livro]

12 comentários:

  1. Parabéns pelo texto! 

    Fico empolgado, como professor da rede pública estadual de SC, com essas ideias. Mas algo que tem me incomodado há tempo, e que com a situação atual aumentou, é acerca das ferramentas digitais. Isso porque a BNCC fala sobre essa competência e o seu texto também faz referências a várias ferramentas que, no meu caso pelo menos, a maioria dos estudantes não tem acesso nem em casa e nem na escola (como smartphone e internet banda larga). 

    A questão para pensarmos juntos é: quais seriam as opções que teríamos para educar num mundo digital sem as ferramentas digitais?


    Matheus Mendanha Cruz

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    1. Boa tarde Matheus. Muito feliz pelo seu comentário pois ele me possibilita avançar em relação algumas coisas que o texto não pode abordar. Indo para tua questão acerca do "educar num mundo digital sem as ferramentas digitais?", gostaria de propor algumas reflexões sem, no entanto, tratá-las como definitivas.

      O mundo digital está posto, é uma realidade. Mas apesar das grandes possibilidades que podemos encontrar no espaço virtual e por meio das suas ferramentas, acredito que muitas dessas coisas foram, na verdade, adaptadas ao virtual, com sua origem fora dali. Vamos tomar um exemplo: a disseminação de fake news. É um movimento potencializado pelos meios virtuais, mas não é nascido dele. Ou seja, já existia e, assim sendo, ele possuía uma forma de funcionar independente dos recursos digitais. Um outro exemplo seriam as pesquisas escolares. Mesmo potencializadas pelos meios digitais elas os antecedem. O quero demonstrar com isso é que algumas habilidades do meio digital tem sua origem no espaço anterior a Internet. Assim sendo acredito que podemos sim desenvolver essas habilidades sem o uso de recursos eletrônicos/digitais/virtuais.

      Dito isso, vamos pensar de maneira mais prática, direcionando essa reflexão ao que foi proposto no texto. Se os estudantes não podem fazer pesquisas online, por que não disponibilizar aos alunos alguns textos retirados de enciclopédias, revistas, livros ou mesmo textos oriundos de uma pesquisa prévia, realizada pelo professor, em sites confiáveis? A metodologia de pesquisa não necessariamente precisa passar pelo uso de tecnologias. Elas facilitam nossas vidas, mas não são fundamentais na grande maioria dos casos. Aliás, esse talvez seja um dos seus problemas: a tecnologia tenta nos convencer que é fundamental, quando na verdade não é.

      Avançando um pouco no que diz respeito ao digital, acredito que o mais importante é fazer com que os estudantes compreendam as lógicas de funcionamento desses recursos. Assim, fazendo pesquisa em um biblioteca é possível ensinar a pesquisar em sites. Principalmente se tomarmos que cada livro é um site, e cada cada capítulo é uma página ou postagem, ainda assim teríamos uma grande quantidade de informações.

      Sei que não é suficiente, mas as vezes precisamos começar com o pouco que temos.

      Uma vez mais agradeço pelo questionamento. Espero ter ajudado. Fraterno abraço.

      Lucimar Alberti

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  2. Boa noite, parabéns pelo texto. E quais os desafios dos professores para incorporar as novas tenologias no ensino?

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    1. Boa tarde Sueli.

      Primeiramente gostaria de agradecer pelo teu questionamento. Espero poder contribuir para nossa reflexão com algumas ideias.

      Pois bem. Eu trabalho em duas redes e duas escolas com perfis totalmente diferentes. Uma escola é do perímetro urbano enquanto outra é da área rural e, apenas aí, já podes perceber os tipos de dificuldades que encontramos, os quais vão desde acesso a qualidade do sinal. Logo, essa disparidade no acesso e na qualidade do sinal de Internet já se torna uma das dificuldades para pensar um uso irrestrito de ferramentas digitais.

      Além disso precisamos pensar na falta de formação das pessoas envolvidas, tanto professores como estudantes. Pois apesar de inseridos no meio digital nossos estudantes ainda enfrentam dificuldades para realizar tarefas mais básicas, principalmente aquelas relacionadas a edição de documentos de texto. Os professores por sua vez, sobrecarregados com outras demandas, nem sempre pode se atualizar para o uso dessas ferramentas.

      Assim, resumindo, identifico duas dificuldades: o acesso e o domínio das ferramentas.

      Uma vez mais agradeço pelo questionamento. Espero ter ajudado. Fraterno abraço.

      Lucimar Alberti

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  3. Letícia Maria Machado Ermelindo21 de maio de 2020 às 15:01

    Boa tarde. Primeiramente gostaria de elogiar o ótimo texto e a proposta pedagógica apresentada.
    Acredito que todo o processo de construção de um trabalho como esse seja bastante estimulante e agregador aos estudantes. Mas imagino algumas possíveis resistências a esse trabalho tanto por parte dos alunos quanto por parte dos pais. O exemplo mostrado no texto, poderia ser lido como mais simples de se apresentar posteriormente a comunidade, mas e quanto a outros temas, como gênero e sexualidade, racismo e preconceito cultural e religioso, o embasamento cientifico de tal projeto seria suficiente para os alunos desconstruírem seus próprios preconceitos e debaterem com os preconceitos que se apresentarem a eles?

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    1. Olá Letícia. Obrigado pelo seu comentário e pelos seus questionamentos.

      Sobre tua questão, tenho algumas contribuições a fazer:

      1) Já orientei projetos que tratavam de orientação sexual e preconceitos decorrentes daí. O tema, na época, foi uma escolha das alunas envolvidas que formularam, inclusive, questões para serem aplicadas na comunidade onde viviam. Foi uma experiência muito interessante pois a precisamos revisar as questões propostas pois essas questões traziam alguns conceitos "pré-estabelecidos" daquilo que elas imaginavam ser a realidade. Logo, a própria construção/revisão das questões com as estudantes já servia como um processo formativo.

      2) Sobre a resistência por parte dos pais, penso que em geral os pais ficam felizes em ver seus filhos engajados em uma atividade escolar. A questão do tema (e talvez a maneira que propus isso não foi satisfatória) precisa sempre que possível partir da escolha dos estudantes, basicamente por dois motivos:
      a) geralmente permite que os mesmos se envolvam com uma temática que faz sentido aos seus anseios naquele momento;
      b) responsabiliza os estudantes quanto as suas escolhas.

      Logo, na medida em que um tema, por mais chocante que seja parte dos estudantes, não percebo grandes dificuldades em aceitação por parte dos pais. Mas claro que isso é a partir das minhas experiências nas comunidades onde estou inserido.

      No caso da escolha de um tema existe outro aspecto que vou ilustrar brevemente: um grupo que orientava em uma atividade dessas queria investigar abuso infantil e, como metodologia, pretendiam entrevistar crianças vítimas de abuso. Pois bem...tema impossível por questões variadas. Em nossas conversas, através de questionamentos e exemplos fui demonstrando as dificuldades/implicações legais de tentar encontrar e entrevistar uma criança vítima de algum tipo de abuso. A própria conversa nesse caso já foi suficiente para construir com eles uma noção acerca do que se pode e o que não se pode propor enquanto pesquisa. E como a questão da faixa etária dos envolvidos acaba também interferindo.

      3) Por fim, sobre teu último questionamento, se isso é o suficiente para "desconstruírem seus próprios preconceitos", a resposta é direta: não, não é suficiente. Infelizmente um preconceito geralmente possui raízes muito profundas e, neste caso, o que se consegue é começar a colocar em dúvida algumas certezas absolutas (típicas de certos preconceitos). Assim, ao pesquisar sobre bullying, por exemplo, um adolescente que lê relatos anônimos de vítimas anônimas que são seus colegas vai colocá-lo a pensar sobre os prejuízos que isso traz para os envolvidos. E este é o primeiro passo para ele deixar de praticar ou mesmo apoiar algo dessa natureza. De mesma forma no que diz respeito a preconceitos por cor, raça, gênero ou orientação sexual. Nesse processo de pesquisa alguns estudantes conseguem desenvolver um pouco de empatia e a partir dela passam a tentar combater certas atitudes, o que em si já é um passo. Mas se eu falar que eles simplesmente deixam de ter seus preconceitos, estaria mentindo para ti.

      Mas como tentei demonstrar acima, em Educação os ganhos geralmente (e infelizmente) levam tempo para acontecer. Mas eles vão se construindo no dia a dia, no passo a passo, de projeto em projeto, de discussão em discussão.

      Uma vez mais agradeço teu comentário e espero ter respondido tua questão de forma satisfatória.

      Fraterno abraço.
      Lucimar Alberti.

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  4. Lucimar, parabéns pelo texto, todos os dias eu reforço o mesmo aos nossos pares na área de História.

    Creio que uma contribuição importante para os passos sugeridos por você seria a instrumentalização dos questionamentos e respostas de Marc Bloch em Apologia da História. Nesse sentido, creio que compartilhar e estimulá-los a compartilhar o sentido da História o "para que serve a História" é essencial.

    Edmilson Antonio da Silva Junior

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    1. Olá. Obrigado pelo feedback. Fico feliz que tenhas gostado da proposta e agradeço pela sugestão.

      Sobre Bloch, estive relendo recentemente alguns trechos escolhidos para montar uma reflexão para outro espaço e acabei "esbarrando" no trecho onde ele compara o historiador e o juiz. Para Bloch ambos conhecem/descobrem os fatos, narram os fatos a partir de determinadas evidências. No entanto enquanto o historiador se limitaria a sua reflexão, o juiz poderia ir além, propondo uma sentença (o que não significa dizer que o historiador/professor não deva se posicionar frente aos absurdos que por vezes surgem!). Fiquei impressionado pois não recordava mais desse trecho e por questões de espaço e tempo ele acabou não entrando na reflexão deste evento.

      Lembrei-me agora disso pois esse tipo de posicionamento é pertinente quando se trata de produzir ciência e suas implicações e, nesse sentido, o próprio "sentido" de fazer História, ou mais precisamente, de fazer PESQUISA histórica (ou de qualquer área!). Creio inclusive que investir em posturas marcadas pela produção de conhecimento através do uso do método científico possa também ser uma arma para combater essa onda de fanatismos e fake news que ameçam nossa sociedade.

      Uma vez mais, grato pela participação!
      Fraterno Abraço.

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  5. Prezado autor. Gostei muito do seu texto, é muito bom ver cada vez mais pesquisas e textos que contribuem para a análise da BNCC e seu impacto na Educação Básica.
    É interessante identificar na BNCC essa necessidade e urgência de uma História voltada para o fazer historiográfico, para a pesquisa e ao mesmo tempo, ver uma redução da carga horária das disciplinas da área de Ciências Humanas como a História. Sendo assim, como seria possível conciliar a pequena carga horária da disciplina, com a infinidade de objetos do conhecimento e habilidades estipuladas pela BNCC ao mesmo tempo em que se busca estimular nos alunos a investigação?

    Janaina Soares Cecilio dos Santos

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  6. Boa noite Janaina. Desde já muito obrigado pelo teu questionamento.

    Essa questão do carga horária VS habilidades da BNCC está deixando muitos colegas assustados, para não dizer de cabelo em pé. Parar ilustrar o problema vou tomar como exemplo a disciplina de História no 9º do Ensino Fundamental. Um ano letivo tem, geralmente, 40 semanas de aula (algumas redes tem mais que isso mas vamos tomar 200 dias como referência). A BNCC na disciplina de História para o nono ano possui 37 habilidades. Assim, em um cálculo simples, estamos falando em trabalhar uma habilidade por aula (37 semanas) o que nos deixaria com TRÊS semanas para avaliações e demais questões administrativas (recuperações ou qualquer outra coisa que possa imaginar).

    Posto isso consigo imaginar duas situações:
    a) precisaremos trabalhar mais que uma habilidade por aula, de maneira a tornar viável tudo isso; ou;

    b) talvez as habilidades não sejam tão importantes assim.

    Vou retomar as duas possibilidades separadamente abaixo.
    a) A questão de agrupar as habilidades é uma alternativa, visto que isso poderia fazer com que ganhássemos "tempo". Por exemplo, as duas primeiras habilidades de História tratam das características da emergência do Brasil República (EF09HI01) e dos acontecimentos do Brasil república até 1954 (EF09HI02). Essas duas habilidades poderiam ser reunidas em uma única aula, por exemplo. É possível que talvez fique mais "pesada" ficando a critério do professor pensar em alternativas para tornar tudo isso mais dinâmico para seus estudantes.

    b) a segunda possibilidade é um pouco mais extrema visto que decorre de uma leitura particular minha. Se tomarmos a leitura da Introdução da BNCC vamos encontrar na página 8 a definição de competências. No entanto não encontramos nesse mesmo documento a definição de habilidades. Curioso isso, não? Se seguirmos a leitura da Introdução vamos perceber que espera-se que o documento dê um perfil comum a todo território nacional. Se considerarmos que posso ter acrescentando habilidades e objetos para dar conta das especificidades da minha região, logo, é possível que alunos de estados diferentes entrem em contato com habilidades diferentes num mesmo ano escolar. Mas pergunto agora: o que não muda independente da região onde estivermos? Elas mesmas, as competências.

    Escrevi tudo isso para dizer que talvez ao tratar da BNCC deveríamos manter nosso foco nas Competências e não tanto nas habilidades. Assim, utilizaríamos as habilidades como meios para atingir o fim, no caso, as competências gerais.

    Claro que essa é uma leitura minha, muito particular mas aproveitando tua colocação achei pertinente compartilhar.

    Voltando a questão da pesquisa, acredito que talvez devêssemos propor temas que se articulassem a partir da primeira proposta que apresentei. Ou seja, a tomar as habilidades ou uma versão simplificada dela enquanto problema de pesquisa ou mesmo como o objetivo da pesquisa. De qualquer maneira o desafio está posto para todos nós e precisaremos encontrar mecanismos para dar conta de tudo.

    Espero ter respondido de forma satisfatória tua questão.

    Uma vez mais obrigado pelo contato.
    Fraterno Abraço.
    Lucimar Alberti

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  7. Saudações pessoal.

    Aproveitando esse espaço maravilhoso para agradecer a todos pelos seus questionamentos e elogios. Foi muito bom estar aqui com vocês, compartilhando e trocando ideias. Caso alguém queira continuar a conversa em outras mídias ou fazer algum tipo de parceria para trabalhos futuros, vou deixar abaixo meus contatos.

    E-mail: albertybr@yahoo.com.br
    Facebook: https://www.facebook.com/LucimarAlberti/
    Instagram: https://www.instagram.com/lucimaralberti/

    Uma vez mais, meu muito obrigado.

    Fraterno abraço!

    Lucimar Alberti

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