Willyan da Silva Caetano


O PENSAMENTO DE JÖRN RÜSEN SOBRE A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA E SEU USO COMO UMA FERRAMENTA NO COMBATE AO ENSINO DE HISTÓRIA DE CARÁTER BANCÁRIO



A história se projeta sobre a memória coletiva das pessoas principalmente por meio de memoriais, monumentos, museus, textos, livros, da escola e dos meios de comunicação, objetivando fazer com que os indivíduos inseridos em um grupo social passem a compartilhar de uma mesma recordação/memória, a fim de que uma comunidade deixe de ser um “conjunto de eus” e passe a ser de “nós”. [Rosa, 2007, p. 57]

Contudo, a memória histórica é principalmente algo construído individualmente, se trata de uma faculdade de cada sujeito, dependendo muito daquilo que é relevante para cada pessoa e seus ideais. Escolhemos o que preferimos esquecer e a maneira como desejamos recordar de algo, a partir da nossa liberdade de interpretação das experiências acumuladas no tempo, conforme as intenções de ação que temos. Essa operação mental efetua-se a partir da consciência história, que produz uma “constituição de sentido da experiência do tempo”. [Rüsen, 2001, p. 59, grifo do autor]
Apesar da possibilidade da existência de diferentes versões sobre os fatos históricos, mediante as múltiplas interpretações que podemos fazer das experiências do passado, o ensino de História presente na maioria das escolas da educação básica tem insistido em transmitir uma visão unilateral dos fatos ocorridos, estrangulando tal liberdade interpretativa e a criatividade do estudante por optar pela sistemática do ensino tradicional. [Schimdt; 2000; Moreno, 2019]

Nesse bojo, a chamada Didática da História, que tem como principal expoente o historiador e filósofo alemão Jörn Rüsen, busca suplantar a educação tradicional no que diz respeito a essa disciplina, por meio de pesquisas e da construção ferramentas teóricas voltadas para o fortalecimento de uma Educação Histórica balizada pela chamada consciência histórica. [Moreno, 2019]

Dependendo do posicionamento do educador temos o favorecimento da autonomia dos educandos, ou, pelo contrário, o reforço comportamentos de controle sobre eles [Berbel, 2011]. As aulas tradicionais restringem o conhecimento a uma abstração imposta pelo professor de forma opressiva sobre o aluno, cabendo a este memorizar mecanicamente os conteúdos narrados pelo docente. [Freire, 2017]

 O modelo tradicional de ensino é chamado por Paulo Freire de “educação bancária”, porque os estudantes são tratados como “vasilhas”, as quais o docente vai “enchendo”, conforme realiza a transmissão dos conhecimentos, como se estivesse realizando “depósitos”. Nesse modelo, acredita-se que quanto mais depositar conteúdos sobre os alunos, melhor será considerado o professor, por sua vez “[...] quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores os educandos serão”. [Freire, 2017, p.80]

A Educação Histórica, que tem como referencial teórico o pensamento de Jörn Rüsen, também critica a ideia de transmissão de conteúdos, pois considera que a aprendizagem não ocorre pela recepção, mas pela a interação do estudante com o conhecimento, para que desenvolva argumentações e ideias próprias.  Não se aprende a história decorando inúmeros fatos e datas, quando estes são informações mortas sem quase nenhum significado para a vida dos jovens hoje. Portanto, são muito mais relevantes e geradoras de aprendizados as experiências históricas que são resgatadas porque se se relacionam de alguma maneira com o que os estudantes vivem, pensam ou acreditam, ajudando-os a descortinar o funcionamento da sociedade onde vivem. [Moreno, 2019]

A Didática da História é um campo do conhecimento próprio da Ciência Histórica, porém, que tem como singularidade o estudo da aprendizagem histórica, pesquisando empiricamente como a história é ensinada e aprendida, e tendo como principal objeto de estudo a consciência histórica. Esta pode ser basicamente compreendia como o modo de relacionar as três dimensões temporais: passado, presente e futuro. Além disso, parte-se do pressuposto de que ensino de História pode contribuir com uma função de orientação na vida prática. [Rüsen, 2001]

 Todavia estamos vivendo uma época de retrocessos educacionais que atingem diretamente o conhecimento histórico escolar, como corrobora a reforma do ensino obrigatório defendida pela OCDE em um relatório de 1996, com o intuito de tornar a educação básica mais direcionada para o mercado de trabalho. Nesse viés, incentivando o surgimento de um grupo minoritário de pessoas com alta qualificação e na outra ponta, uma maioria provida apenas de conhecimentos básicos, esvaziando uma formação humana ampla, ao voltar-se principalmente para as competências laborais exigidas pelas empresas atualmente, especialmente, as de flexibilidade e aprendizagem contínua. O objetivo de tal proposta é preparar os jovens para um mercado de trabalho instável e provisório, caraterísticas existentes na sociedade do desemprego estrutural, atualmente vigente. [López Facal, 2003]

As orientações internacionais quanto ao ensino de História, desde o final da década de 1990, concentram esforços para que os conteúdos escolares trabalhados nesta disciplina tenham como objetivo desenvolver e fortalecer o patriotismo, os bons costumes, a moral e a religiosidade.  Contudo, ao contrário, diante dessa realidade, que tenta vendar os olhos dos trabalhadores, o ensino de História deve ser uma ferramenta de emancipação, tanto pessoal como social. As aulas de História precisam ter um compromisso com a reflexão, a argumentação, a análise e a conscientização sobre os problemas que afligem o mundo, evitando a repetição, ou seja, a pura decoreba, e priorizando a crítica, capaz de munir os jovens com conhecimentos que sirvam para se protegerem contra as apresentações míticas da história. [López Facal, 2003]
O ensino tradicional de História gera uma conscientização histórica controladora, causando o esmagamento do pensamento autônomo e limitando o pensar historicamente, por isso, ao longo de décadas, o sentido da disciplina como um alicerce para orientar a vida prática foi sendo relegado e sua utilidade colocada em cheque pelos estudantes [Moreno, 2019], já a “aprendizagem histórica”, visa fazer com que as informações sejam transformadas em conhecimentos, proporcionando uma “alfabetização histórica”, isto é, uma literacia histórica, cujo objetivo é desenvolver nos educandos o pensamento histórico, dialogando com outras épocas e espaços para compreender o que motivou a ação das pessoas no passado e ao mesmo tempo analisar e entender como se refletem atualmente. [Schmidt; Cainelli, 2009, p. 66]

Denomina-se “aprendizagem histórica” as mudanças geradas na estrutura da consciência história, tal aprendizagem não pode ser confundida com o simples conhecimento do passado, independentemente do número de informações retidas sobre ele, todavia, consiste na forma como utilizamos as experiências passadas, almejando que progressivamente vamos deixando de pensar a partir da consciência histórica tradicional, seguindo rumo ao pensamento histórico de caráter genético. [Rüsen, 2010, p.51]

O pensamento histórico está embutido no cotidiano humano, trata-se de uma condição da própria essência da humanidade, que habitualmente demarca a passagem do tempo, inicialmente observando a natureza da sua própria vida. Assim, de modo geral, dividimos a nossa existência em nascimento, infância, vida adulta, envelhecimento e morte, que servem como marcos temporais iniciais para orientar as escolhas que fazemos no dia a dia, implicando em determinadas opções no presente e no futuro. [Cerri, 2001]

Isso ocorre porque “o homem precisa estabelecer um quadro interpretativo sobre o que experimenta como mudança de si mesmo e de seu mundo ao longo do tempo” [Rüsen, 2001, p.58], ou seja, esse quadro é a chamada consciência histórica, que é o modo com que cada ser humano interpreta o mundo e si próprio a partir do seu conhecimento sobre o passado.  

Porém, as experiências vividas não bastam para compreendermos o mundo que nos rodeia. É aí que as experiências acumuladas ao longo do tempo pelos nossos antepassados exercem um peso muito grande, permitindo-nos ultrapassar o tempo biológico limitado da existência humana, e constituir uma memória histórica que atravessa diferentes épocas e é indispensável nesse processo de orientação prática. Ela, por sua vez, se insere dentro de uma cultura histórica, responsável por embutir nos membros que dela fazem parte uma determinada concepção de mundo, de moral e de valores, isto é, um tipo de consciência histórica. [Rüsen, 2001]

 Existem variadas teorias que tratam sobre a origem e o desenvolvimento da consciência moral, dentre elas podemos citar aquelas que foram propostas e comprovadas empiricamente por Piaget, Konlbrg, dentre outros, seguindo tais exemplos, Rüsen se propôs a elaboração de uma teoria semelhante, porém, calcada na investigação do relacionamento da moral com a forma de cada pessoa relatar e interpretar o passado, dando origem a uma teoria da aprendizagem histórica situada na própria História, apesar de ser ainda embrionária, pois necessita de mais pesquisas a fim de ser confirmada por dados empíricos. [Rüsen, 2010]

A mais importante finalidade da aprendizagem histórica é o desenvolvimento da consciência histórica dos estudantes, visando à superação da consciência histórica tradicional e exemplar, pautadas em um tempo linear e também da consciência crítica, que rompe totalmente com o passado, almejando que os educandos passem a ter uma consciência crítico-genética, considerando as complexas relações entre passado e presente, e utilizando as experiências vividas por pessoas de outras épocas como orientação para a vida prática na contemporaneidade. [Schmidt; Cainelli, 2009]

A aprendizagem histórica possui uma tipologia geral, que foi desenvolvida por Rüsen [2010], para servir como ferramenta metodológica na análise empírica de relatos históricos e entrever seus vínculos com a moral de diferentes épocas. O objetivo dessa tipologia é explicar quais são as estruturas mentais básicas que compõem o pensamento histórico. Este é representado pelas diferentes maneiras existentes de argumentar historicamente e de articular o passado, o presente e o futuro, expressas por quatro tipos de consciência histórica:

1] “Tipo tradicional”:  busca-se fazer referência ao passado para resguardar a continuidade das tradições, reforçando modelos culturais pré-estabelecidos e que devem ser seguidos obrigatoriamente. Neste caso, os valores morais são considerados inquestionáveis e os únicos corretos, assim, busca-se trazer à tona a origem de determinado costume para legitimar sua validade e a necessidade de repetição deste permanentemente. Portanto, nota-se a continuidade do passado no presente e no futuro, estabelecendo-se modelos de comportamento compreendidos como atemporais e identidades que são impostas pela tradição. [Rüsen, 2010, p.64-65]

2] “Tipo exemplar”: o passado é recordado para servir de lição ao presente e ao futuro, partindo de regras de condutas e de valores tidos como gerais e atemporais, porém, aqui o foco não é mais tradição, mas determinadas ações passadas de pessoas, governos ou de países julgadas como bons ou maus exemplos. Por exemplo, as barbaridades e atrocidades cometidas devem ser evitadas, para não cometer os mesmos erros do passado, já as experiências passadas boas devem ser reproduzidas. A identidade do sujeito é formada com base nos comportamentos considerados sensatos e prudentes os quais possuem caráter generalizador. [Rüsen, 2010, p.65- 66]

3] “Tipo crítico”: elabora-se uma “contranarração” para romper com determinadas tradições, que passam a ser consideradas falsas e enganosas e por isso são negadas. Uma de suas principais estratégias é afirmar que os costumes do passado não valem mais nada hoje porque vivemos em uma época totalmente diferente. Pretende romper com os sistemas de valores antigos, o passado é visto como algo negativo, que precisa ser superado, gerando formas de orientação temporal desvinculadas dele. Quanto à identidade, ela vai sendo autoconstruída pelo próprio sujeito por meio da negação dos modelos culturais preestabelecidos, e buscando levantar evidências histórias que demostrem os equívocos na origem dos sistemas de valores, além de apontar suas consequências negativas [imorais]. Esse tipo relativiza os valores, defendendo o respeito à singularidade natural de cada indivíduo e a sua liberdade. [Rüsen, 2010, p.65-68]

4] “Tipo genético”: o passado não é negado, mas é questionado. Leva em consideração que a mudança é inerente ao próprio tempo, sendo a cultura é dinâmica, por isso às vezes tradições antigas permanecem, contudo são renovadas com outras roupagens, mais adequadas para a época presente, porém, os comportamentos modificam-se. Embora não ocorra uma ruptura total com o passado, este não se repete intacto no presente e não irá permanecer no futuro, porque se desenvolve outra opção de futuro. [Rüsen, 2010, p.68]

A mudança temporal não é mais vista como uma ameaça às tradições, mas como um caminho diferente que abre outras opções de mundo.  Assim, o presente surge como um tempo de transição, “uma intersecção”, que está conectada ao passado, mas ao mesmo tempo o modifica e tece uma nova perspectiva de futuro, gerando uma visão de que a sociedade tende a evoluir ou progredir, em relação ao passado, para uma configuração que seja mais positiva.  Faz parte do tipo genético a aceitação de pontos de vista plurais e da diferença, representada pelo “outro”. Um exemplo que denota esse pensamento histórico é “a ideia de Direitos Humanos Universais”, quebrando a lógica de valores morais legitimados sob a ótica de grupos específicos que querem manter o status quo e abrindo espaço para várias perspectivas históricas. No que diz respeito à identidade não é considerada como algo fixo, mas como mutável e em constante formação.  [Rüsen, 2010, p.68-70]

O diálogo com as experiências passadas, mediado pela consciência história, ensina a pensar historicamente, mas exige que o estudante tenha uma postura semelhante a do historiador, que reconstituir e interpretar os fatos do passado, fazendo questionamentos às fontes históricas estudadas. Nesse caminho, é necessário que o aluno consiga selecionar os aspectos mais relevantes sobre os fatos estudados, dando atenção especial aqueles que são mais importantes para explicar o presente, depois precisa também organizá-los numa perspectiva temporal, identificando rupturas e permanências. [Schmidt; Cainelli, 2009]

A forma linguística pela qual a consciência histórica se apresenta é a “narração”, que aponta como o pensamento histórico é utilizado pelo sujeito na sua orientação temporal, entende-se por narração “o relato de uma história”, neste os valores morais do indivíduo e sua “síntese histórica das dimensões do tempo” mesclando-se. [Rüsen, 2010, p.57]

Contudo, antes de narrar, é importante que o estudante aprenda a ler, a questionar e a interpretar diferentes tipos de fontes históricas; o que possibilita que construa explicações próprias sobre a história de diferentes povos, conhecendo o modo de vida de outras pessoas do passado, mas sempre buscando relacionar com a sua história pessoal. Quanto à forma de expressar o seu pensamento histórico, por meio de um relato, abre-se um amplo leque, que engloba desde meios escritos e imagens até linguagens as tecnológicas hoje disponíveis. [Schmidt; Cainelli, 2009]

Na perspectiva da aprendizagem histórica, mostra-se fundamental que o educando entenda que toda história é sempre uma interpretação. Esse entendimento proporciona que ele próprio veja-se como capaz de organizar e construir o seu conhecimento histórico, desenvolvendo uma narrativa autêntica e original.  Nela analisam-se as ações dos sujeitos históricos estudados, contextualizando-as em suas devidas temporalidades, concomitantemente procurando identificar as suas marcas e significados no tempo presente. Dessa forma, os conhecimentos obtidos passam ter uma utilidade como elemento que serve para a orientação temporal nas escolhas da vida real e na intervenção sobre a realidade social. [Schmidt; Cainelli, 2010]

Por sua vez a competência narrativa geral, citada acima, se subdivide em outras três: [a] “competência de experiência”: consiste na sensibilidade de olhar para o passado atentamente, buscando informações importantes com base nas vivências de épocas passadas, mas diferenciando-as das do tempo presente; [b] “competência de interpretação”: trata-se de resgatar o passado à luz do presente, enxergando aquele como uma ferramenta para a compreensão do agora e para a projeção de expectativas futuras, assim, reduzindo a distância entre diferentes épocas, vistas como um continuum temporal; [c] “competência de orientação”: refere-se à utilização prática da consciência histórica como guia para orientar as escolhas na vida real, motivando determinadas ações, decisões e posicionamentos, que estão relacionadas com a identidade de cada sujeito, percebendo-se como parte da trama histórica. [Rüsen, 2010, p.61]

A ideia da consciência histórica busca contribuir para que os discentes tenham uma visão de mundo assentada em princípios que valorizem a igualdade, a justiça, a democracia, os direitos humanos, a liberdade de religião e de expressão, a diversidade cultural e sexual, a preservação ambiental, a cidadania, e o respeito quaisquer diferenças, porém, antes precisam entender que:                                                                                                                       

“Vivemos em uma sociedade que é como é porque pessoas que viveram antes de nós tomaram determinadas decisões que nos fizeram ser o que somos e o que não somos. Isso é importante porque leva em consideração o fato de que nossas decisões, tanto individuais como coletivas, também criam um determinado futuro para nossos descendentes. E, a respeito disso, temos compromissos em relação à moral e a ética. Apesar de não podermos modificar o passado, ao interpretá-lo e narrá-lo à luz de nossas lutas individuais e coletivas, podemos levantar questões sobre o presente e pensar o futuro a partir dos princípios de liberdade, democracia e cidadania.” [Schmidt; Cainelli, 2009, p.69-70]
A consciência histórica se revela quando agimos, sobretudo, expondo nossas ideias e pontos de vista, o que ocorre por meio da argumentação, seja falada, escrita, ou ilustrada, sendo um dos principais indicativos dela a utilização da primeira pessoa ou terceira pessoa do plural, gerando uma narração caracterizada como uma mescla entre cognição, emoção e princípios morais. [Moreno, 2019]

Pensar em consciência histórica e como ela pode auxiliar na superação de uma educação bancária no que tange ao ensino de História, nos leva ver o espaço escolar não como um local de simplificação didática e transmissão de conteúdos originados do saber erudito produzido pelas universidades, mas sim a escola como produtora de saberes. Portanto, não reproduzindo a chamada história científica, elaborada nas academias, mas construindo conhecimentos históricos próprios e qualitativamente diferentes daqueles pelos próprios educandos e educadores. [Cerri, 2001]

Referências
Willyan da Silva Caetano é professor efetivo de História na Educação Básica, atua no Ensino Médio e Fundamental, a cargo da Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande [SEMED] e também da Secretaria de Educação de Mato Grosso do Sul [SED-MS]. Possui especialização em História e Cultura dos Povos Indígenas [UFMS] e em Educação Especial [UEMS]. Atualmente é mestrando em Educação Profissional e Tecnológica no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul [IFMS].

BERBEL, Neusi. As metodologias ativas e a promoção da autonomia dos estudantes. Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, jan./jun. 2011. [artigo]
CERRI, Luís Fernando. Os conceitos de consciência histórica e os desafios da didática da história. Revista da História Regional 6[2]. Inverno. 2001. [artigo]
FREIRE, Paulo.  Pedagogia do oprimido. 64 ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2017. [livro]
LÓPEZ FACAL, R. La enseñanza de la historia, más allá del nacionalismo. In: CARRERAS ARES J. J.; FORCADELL ALVAREZ, C. Usos públicos de la História. Madrid: Marcial Pons Historia, 2003. [artigo]
MORENO, Jean Carlos. Didática da História e currículos para o ensino de história: relacionando passado, presente e futuro na discussão sobre o eurocentrismo. Transversos: Revista de História. Rio de Janeiro, n. 16, Agosto. 2019. Disponível em:
https://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/transversos/article/view/44739/30359. [internet]
RÜSEN, Jörn. Razão Histórica: teoria da história: os fundamentos da ciência histórica. Brasília: UnB, 2001. [livro]
RÜSEN, Jörn. O desenvolvimento da competência narrativa na aprendizagem histórica: uma hipótese ontogenética relativa à consciência moral. In: SCHMIDT, M. A.; BARCA, I.; MARTINS, E. R. [Orgs.]. Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: Ed. UFPR, 2010. [livro]
ROSA, Alberto. Recordar, esquecer e explicar o passado: O que como e para o futuro de quem? In: CARRETERO, Mario et al. [Org.]. Ensino de História e Memória Coletiva. Porto Alegre: Artmed, 2007. [livro]
SCHMIDT, M.A.; CAINELLI, M. Ensinar História: pensamento e ação na sala de aula. 2 ed. São Paulo: Scipione, 2009. [livro]

13 comentários:

  1. Olá, Willyan!

    Primeiramente, parabéns pelo texto. Condensou muito bem a perspectiva de educação histórica do Rüsen. Lendo o seu texto, veio-me à mente uma série de questionamentos que tenho, tanto no preparo das minhas aulas quanto quando leio e estudo, no doutorado, Rüsen e os processos de consciência histórica. Trata-se do quão difícil é para nós, professores/as de História, tentar romper a barreira do ensino tradicional e problematizar o conhecimento histórico de uma forma mais crítica e consciente. Diante de tal exposição e levando em consideração o pensamento ruseniano, gostaria de perguntar sobre como você enxerga, em linhas gerais, o modo de transposição didática do conhecimento histórico em sala de aula. Você acha que, na prática, é possível e efetivo problematizar fontes e teorias históricas anterior ao processo de narração da História, permitindo, assim, que o aluno/a "construa" explicações próprias sobre a História? Hoje, diante da cruzada aberta contra a educação, não seria também um tanto quanto pernicioso e/ou temerário "permitir" uma interpretação própria dos discentes acerca das teorias já consolidas academicamente séculos a fio?
    Espero que tenha me feito entender.

    Um abraço!
    Fábio Alexandre da Silva

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    1. Olá, caro amigo. Obrigado! Defendo que o conhecimento escolar não se trata meramente de uma transposição didática, mas sim de um saber específico, produzindo conjuntamente pelos educandos com a mediação do educador, portanto, um outro conhecimento, qualitativamente diferente. Debaber as teorias é um passo essencial no aprimoramento da prática, porém, como o próprio Rüsen frisa devemos nos esforçar para gerar dados que possam corroborar na consolidação de uma Teoria da Aprendizagem História, amparando-a empiricamente. Aqui restringi-me a especular e propor. Contudo, tal fragmente faz parte de um conjunto maior, disponível na minha dissertação, na qual investigo a construção do conhecimento pelos próprios estudantes por meio da utilização do Facebook nas aulas de História. Os resultados analisados por ora vão ao encontro da teoria rüseniana. A interpretação realizada pelos estudantes deve ser orientada pelo docente, como fiz na minha pesquisa, propondo problemáticas que os guiem. Mas já tive alunos que, por exemplo, defenderam a Ditadura Militar (1964-1985), porém, apesar de tudo, tiveram que pesquisar muito para poder confrontar as ideias da maioria da turma, podemos, contundo, sempre indicar, mediar, auxiliar, nunca impor, pois caso o façamos estaríamos reafirmando um ensino de história tradicional e opressor.

      Um abraço!

      Willyan da Silva Caetano

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    2. Muito obrigado pelos apontamentos, caro Willyan. Esclareceram algumas lacunas que eu tinha.
      Abraços.

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  2. Parabéns pelo texto.

    A questão que me veio enquanto eu lia foi: até que ponto pensarmos a Teoria da História do Rusen não inibe ou cerceia outras formas de produção de conhecimento?

    Matheus Mendanha Cruz

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    2. Caro amigo. Obrigado pela leitura. A teoria proposta por Rüsen trás grandes possobilidades para um ensino comprometido com a frutificação do pensamento histórico, também servindo como uma das ferramentas para a análise ds discursos (narrações). Porém, por mais possibilidades que ela forneça, geralmente precisa ser complementada por conceitos advindos dos textos de Peter Lee, dentre outros, como Agnes Heller, quando se visa o aprofundamento. De qualquer forma, apresenta uma possibilidade de análise promissora, dentre várias. Mas a própria teoria rüseniana não exclui outras, veja, por exemplo, o caso da historiadora portuguesa Isabel Barca, referência em educação histórica, que dialoga com todos os autores supracitados, inclusive não desconsidera as contribuições de Piget, tendo em vista que proposição por ela da "Aula Oficina", é norteada pelo construtivismo, pautando-se neste autor. Agora imagine quanta riqueza teria, e têm algumas pesquisas assim, investigar à luz da teoria da aprendizagem histórica situada na própria história as concepções históricas de crianças, dialogando com os estágios piagetianos. Só acrescenta, não limita!

      Willyan da Silva Caetano

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  4. Prezado,

    seu texto contempla de forma elucidativa os pressupostos rüsenianos e dialoga muito bem com outros autores, principalmente em se tratando das críticas à "educação bancária". Venho pensando sobre a pertinência da Teoria da História de Rüsen para enfrentarmos esse dilema da aula tradicional em História, que ainda se faz presente em diversas realidades, por mais que tenhamos avançado nessa desconstrução. Percebo isso nas mídias e nas representações que a TV faz da aula de História, onde geralmente o professor é o centro da narrativa e os alunos apenas assistem. Será que a universidade ainda 'reproduz' esse/a professor/a-narrador/a, ou já podemos identificar iniciativas que incentivam a formação do/a professor/a-interlocutor/a (que percebe o/a aluno/a como protagonista e não espectador/a da ´sua´ aula)?

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  6. O seu questionamento daria um interessante objeto de pesquisa. Posso responder baseado na minha experiência na graduação, considerando a particularidade da Universidade onde me forme.
    Realizei minha graduação na UFMS, entre 2008 e 2012. Sabemos que nesse período, já havia livros Rüsen traduzidos, dentre outros pesquisadores da Didática da História, disponíveis no Brasil. Mas essa renovação ficou praticamente restrita ao sul, especialmente ao Paraná, com importantes pesquisas desenvolvidas por Maria Auxiliadora Schmidt e Marlene Cainelli, por exemplo a data da primeira publicação do livro Ensinar História, é 2004, o mesmo foi disponibilizado nas escolas públicas pelo MEC. Só que eu nunca tinha ouvido falar em consciência histórica na licenciatura nem nas aulas de Prática de Ensino, muito menos nas de Didática. Então, quero dizer que no que diz respeito a teoria da apredizagem histórica conforme propôs Rüsen não fazia parte da bibliografia que estudamos, nem sequer foi mencionada. No mais o curso de História foi muito verbalístico, foca muito em leituras abundantes, seguidas de longas explanações orais realizadas às vezes pelo professor, outras, muitas inclusive, pelos próprios acadêmicos em apresentações de seminário. Resumindo, a nossa Prática consistia em aprender narrar, assim como para obter uma boa nota era necessário fazer referência a pormenores, ou seja, prezava-se a "arte do falar bem". Esse modelo - por mais que líamos sobre eixos-temáticos, rompimento com o método tradicional - mostrou-se, contraditoriamente tradicionalista. Conheci as ideias de Rüsen, Peter Lee, Isabel Barca, Schmidt, Canelli e alguns trabalhos orientados por estas duas últimas autoras de forma autodidada, pesquisando na Web, e tenho me apropriado dos seus conceitos. Mas não sei se já chegaram a ser discutidos, enfocados por aqui, o que acho um retrocesso. Bem, vi que uma de nossas professoras daqui Vivina Sol Dias tem um texto na abertura deste evento, desejo que essa troca de conhecimentos repercuta em novas práticas na formação inicial de professores por aqui. Isso é importante, porque descobrimos que quando entramos numa fala do Ensino Fundamental com quase 40 alunos não importa o quão bem você fala e narra, o importante é que compreendam a matéria e sabemos que nenhuma criança da geração atual não gosta de ficar sentada ouvido um professor narrar horas a fio as peripécias históricas, preferem explicações objetivas, mas adoram principalmente FAZER algo, CONSTRUIR alguma coisa, tal como uma cruzadinha em grupo, em uma cartolina sobre a matéria; gostam muito de fazer um Lapbook; amam debater um filme polêmico, ou então fazer uma charge, meme ou história em quadrinhos, teatro, paródia, e até mesmo a apresentação oral sobre o conteúdo, fugindo do tradicional "faça um resumo/texto/resenha". Mas isso só aprendi dando aula, que desejam muito participar diretamente.

    Willyan da Silva Caetano

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  7. Willyan,

    lendo sua resposta, vislumbrei a minha trajetória tanto no ensino de História quanto nas aproximações com a Educação Histórica. Partilho das suas percepções sobre a relação entre a narrativa docente e o fazer em sala de aula. Acho imprescindível que o professor seja pesquisador, justamente para perceber que tem diante de si crianças e adolescentes, e não colegas de academia, rsrsrsr... Obrigado por partilhar as suas experiências! Sigamos! Abrçs.

    Cristiano N.

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  8. Thatiana S. Araújo22 de maio de 2020 às 09:59

    Excelente texto!
    Acerca da educação bancária eu questiono 2 coisas:
    1) Nas salas de aula geralmente o professor faz o levantamento do conhecimento prévio dos alunos. Depois, o professor dialoga o conteúdo com uma linguagem mais próxima à dos alunos para que eles compreendam o conteúdo. Geralmente neste momento o professor faz aproximações com a realidade da turma e com as questões atuais. Você acha que há um limite para o debate da atualidade nas aulas de História?

    2) A educação bancária é vista compreendida como um "depósito" feito pelo professor na "conta" do aluno. Contudo, existem conhecimentos que não precisam ser descobertos por todas as gerações, senão atrasaria o progresso. Por exemplo, imagina se todas as gerações tivessem que descobrir como fazer o fogo? Agora questiono também: qual o papel do professor para que ele não deposite o conhecimento pronto no aluno e ao mesmo tempo não deixe o aluno à própria sorte?

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