Daiane Arend Flores de Oliveira


O PAPEL POTENCIALIZADOR DE APRENDIZAGEM EXERCIDO PELO MUSEU IGREJINHENSE PROFESSOR GUSTAVO ADOLFO KOETZ



Diversos espaços compartilham, juntamente com as escolas, a capacidade e responsabilidade de ampliar oportunidades e conhecimentos, apresentando elementos da interação humana em diversos espaços ao longo do tempo. Desta forma, temos a importância de ambientes além da escola, como o caso de museus, apontado muitas vezes como espaço de aprendizagem não-formal; cabe mencionar que Mendonça (2009) afirma que este conceito possui significado distinto em termos de origem lusofônica e anglofônica, o que gera certas inquietações ao analisarmos espaços educativos além da escola propriamente dita.

Giraudy e Boulhet (1990), na obra ‘O Museu e a Vida’ afirmam que: “museu é uma instituição a serviço da sociedade que adquire, conserva, comunica, expõe com a finalidade de aumentar o saber, salvaguardar e desenvolver o patrimônio, a educação e a cultura, bens representativos da natureza e do homem” (Giraudy e Boulhet, 1990, p.11). Com o intuito de identificar diferentes espaços de possíveis para o ensino e aprendizagem de História, esta produção textual aborda o Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz, localizado na cidade de Igrejinha/RS, mencionando dados sobre sua organização, itens do acervo, horário de funcionamento, conservação do acervo e descrição das atividades desenvolvidas pelo mesmo, buscando articular sua importância social-cultural com o ensino de História. Assim, observa-se e se estima o estudo de diferentes espaços como potencializadores educativos, buscando reflexões sobre as possibilidades dos mesmos na constituição do conhecimento.

Identificação do Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz
Localizado junto ao Parque de Eventos Almiro Grings, mais conhecido como Parque da Oktoberfest, na Rua Arlindo Geis, nº 255, Bairro Centro, em Igrejinha, o Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz é mantido pela Fundação Cultural de Igrejinha [entidade que também possui vínculo com a Biblioteca Pública Municipal, grupos de coro e grupos de danças folclóricas da cidade] e busca, através de casas temáticas, retratar o estilo de vida dos imigrantes alemães que colonizaram a região.

O objetivo do Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz é trazer à comunidade de Igrejinha um espaço que possa cumprir uma das funções sociais que compete aos museus: a transformação da realidade dos cidadãos, com ampliação de saberes e da historicidade. Nesse sentido, buscou-se reestruturar o museu, de uma forma original que viesse a atender aos anseios da comunidade, tornando-se: “lugar de expressão da sociedade e colocando-se a seu serviço [...]” [Giraudy e Boulhet, 1990, p. 35], assim que os itens passaram a ser expostos em uma divisão por ‘casas temáticas’ representando uma vila germânica em estilo enxaimel.

É chamada de ‘Vila Germânica’ o conjunto de construções arquitetônicas que remetem aos tempos da colonização alemã. A constituição do Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz organizado em casas temáticas se divide em casa de ferragem, armazém, igreja, casa da música, casa do imigrante, como podem ser vistas nesta ordem, na imagem a seguir:


Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.

Em cada casa temática, estão expostos mobiliários, documentação, fotografias, cédulas, moedas, instrumentos musicais, equipamentos de uso na lavoura e no cotidiano para diversos fins, peças antigas da história da colonização alemã e itens relacionados à história do município. Considerando que: “a atividade essencial do museu, após a aquisição e constituição do seu acervo [...] é a exposição dos objetos pelos quais é permanentemente responsável ou dos que toma emprestado para figurar em eventuais exposições temporárias” [Giraudy e Boulhet, 1990, p.53], o museu conta com acervo exposto composto de móveis, instrumentos musicais, partituras, documentos e utensílios - que inclusive pertenceram ao professor que dá nome ao museu, o professor e maestro Gustavo Adolfo Koetz.

Além das casas temáticas, o museu conta com uma casa sede, onde ficam armazenadas fotografias diversas -­ solenidades, prédios históricos, desfiles cívicos e familiares - revistas catalogadas, o livro-tombo e documentos diversos – certidões de nascimento, batismo, casamento, compra e venda de imóveis, entre outros).

Seu acervo é constituído por mais de 3.500 objetos e documentos [este número não é exato, pois devido à enchente ocorrida em janeiro de 2011, muitas peças ficaram comprometidas e/ou danificadas e, em virtude da mudança de pessoal, a verificação total não foi concluída até então], sendo alguns itens do acervo: bordados com inscrições em alemão, panos de parede com pensamentos e provérbios, móveis, chaleiras de ferro, wafleiras, moedores de pimenta, louças de barro, potes de cerâmica, máquinas de costura, instrumentos musicais, rádios antigos, discos de vinil, entre muitos outros objetos. Também podem ser encontrados jornais, revistas, livros, diversas certidões, salvo-condutos, documentos da emancipação de Igrejinha, registros de nascimento e casamento, correspondências, além de moedas desde os mil réis até os cruzados e cruzeiros, cédulas brasileiras e estrangeiras, e centenas de fotos de Igrejinha e de seus habitantes.

Os objetos e documentos expostos estão em bom estado de conservação, sendo que cada um tem uma pequena etiqueta com a identificação do item; as revistas - armazenadas na sede do museu - tem suas marcas do tempo. Quase todos os itens do acervo têm marcado com tinta nanquim uma numeração, mas há um trabalho em desenvolvimento em virtude da real falta de identificação, pois durante algum tempo, os itens recebidos por meio de doação não foram catalogados no livro de registros, e ainda, o número que consta em alguns itens nem sempre correspondem ao número no livro de registros, sendo que também há materiais registrados que não foram encontrados expostos e/ou na reserva técnica.

O Museu destina sua visitação à toda comunidade igrejinhense, sendo esta composta por moradores locais e também da região, bem como crianças e adolescentes em idade escolar. O horário para visitação é de segunda à sexta-feira, das 8:00 horas às 11h30min e das 13h00min às 18:00 horas, seguindo o mesmo horário da Biblioteca Pública Municipal (também situada no Parque de Eventos Almiro Grings). Sua visitação é livre e sem custo, mas escolas necessitam agendar a visita previamente.

Histórico do espaço museológico
O Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz é vinculado à ‘Fundação Cultural de Igrejinha’ desde em 12 de novembro de 1987, antes disso, chamava-se ‘Museu Municipal de Igrejinha’, sendo que em 09 de maio de 2000 o executivo municipal decreta a nova denominação ‘Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz’, em homenagem a um ilustre cidadão igrejinhense; foi justamente devido à homenagem e ao interesse de expor a coleção de itens sobre Gustavo Adolfo Koetz que se criou tal museu, pois: “o museu surge a partir da coleção [...]” [Giraudy e Boulhet, 1990, p. 19]. A localização acompanhou os espaços utilizados pela Fundação Cultural ao longo desse tempo até o momento [cerca de oito endereços] sendo que a localização atual é junto ao Parque de Eventos Almiro Grings, também chamado de ‘Parque da Oktoberfest’. Sua exposição atual é do tipo permanente, pois somente em casos extraordinários, os objetos são alterados.

O museu proporciona um retorno ao passado, através de documentos e peças dos mais variados tipos e utilidades, que podem ser apreciados por todos que quiserem conhecer seus valores e suas características. São verdadeiras relíquias dos nossos antepassados ou dos imigrantes que povoaram nosso município há mais de um século.

Sobre Gustavo Adolfo Koetz
Muitas pessoas, através do seu trabalho, obtiveram destaque na história do município de Igrejinha. O professor Gustavo A. Koetz era músico e compositor, e suas obras foram reconhecidas nacionalmente. Atuou na política do município e fez muito pela cultura e arte de Igrejinha. O nome do museu é uma forma de homenageá-lo e contar a trajetória de vida do homem, do professor, do maestro e do cidadão Gustavo Adolfo Koetz. 

Sander e Mohr [2004] afirmam que Gustavo era portador de uma deficiência física que lhe dificultava a locomoção, mas que não o impediu de levar uma vida muito ativa. Ainda criança, logo que iniciou os estudos, começou a aprender violino. Aos 13 anos iniciou uma etapa intensiva de estudos de música com o pastor e professor João Rudolf Dietschi; essa época foi tão importante que aos 14 anos, já se iniciava como compositor de músicas. Aos 17 já havia acrescentado ao seu repertório muitas outras composições e orgulhava-se de bandas de Porto Alegre e outros lugares executarem suas marchas e dobrados.

Conforme Engelmann (2005), aos 18 anos, Gustavo Adolfo Koetz pediu um saxofone ao pai; este nada falou até que um dia foi a Porto Alegre, levando Gustavo consigo. Ele vibrava de alegria ao entrarem na loja de instrumentos musicais, onde então seu pai lhe comprou um saxofone. Momentos depois, ao caminharem pelas ruas da capital, passava uma Banda Militar executando uma vibrante marcha. Percebendo que seu pai gostara da música, Gustavo perguntou o que ele havia achado, e logo em seguida falou orgulhoso ao pai: “pai esta marcha que o senhor escutou é minha! ”. Em 1927, mudou-se para Montenegro, onde dirigia, além de outro coro, a Orquestra Sinfônica Jahn. Em 1934 retorna a Igrejinha.

Segundo Reinheimer e Smaniotto (2006), logo após seu retorno é escolhido pela população para ser o primeiro subprefeito do distrito de Igrejinha, criado em 1935; foi Gustavo Koetz quem possibilitou trazer a Igrejinha a ponte rodoviária com cobertura sobre o rio Paranhana, que foi construída em 1935. Após deixar a subprefeitura, voltou a dedicar-se a sua arte musical por muitos anos, deixando discípulos de sua paixão.

Gustavo Koetz compôs as melodias dos hinos de Igrejinha, Três Coroas, Taquara e Rolante, em parceria com Eldo Ivo Klein que fez as letras.

O museu como potencializador educativo
Para Mendonça (2009, p. 14) os museus podem ser considerados: “como um cenário apropriado para a efetiva diversificação da prática de ensino importante para diversas ações pedagógicas” e assim, percebe-se o museu Professor Gustavo Adolfo Koetz como fomentador da preservação de patrimônio histórico, bem como espaço rico para exploração do profissional de História além da sala de aula. O museu se revela como um local de ampliação e desenvolvimento de saberes; no aspecto educacional, é capaz de enriquecer conhecimentos de temáticas iniciadas em sala de aula ou então, despertar novas curiosidades e inquietações. Por meio de atividades educativas no museu, podem ocorrer correlações entre temas, ampliando compreensões acerca da vida e do mundo.

Sem dúvida, percebe-se que cada espaço que guarda itens históricos busca o contato com a comunidade através de diferentes métodos, já que é um dos principais objetivos a aproximação das pessoas com o passado, algo tão pouco valorizado no mundo moderno. A sociedade é a principal beneficiada com a preservação da memória, pois muitas decisões (até mesmo políticas) implicam na consulta a materiais anteriores.

Compreende-se que espaços históricos ou que possibilitem elos entre passado e presente vislumbrando o futuro, são ricos em possibilidades. Assim, do aspecto educativo, para a educação em museus os com objetivos e intencionalidades são fundamentais:

“A intencionalidade é condição necessária para a ação, e compreender esse elemento dinâmico e motor é fundamental para qualquer educador, especialmente em um contexto de valores imprecisos e de rotinas estabelecidas diante de desafios importantes que exigem respostas comprometidas”. (Sacristán, 1998, p.33)

Acredita-se que o planejamento e deliberação de objetivos em relação ao papel educacional dos museus possibilita delinear escolhas e processos, possibilitando conhecimentos inovadores, rompendo a rotina engessada presente em muitos momentos escolares. É de compreensão docente que o papel do professor é articular os temas de pesquisas com assuntos de interesse ou necessidade dos alunos, uma vez que o conhecimento não pode ficar estagnado e precisa estar em constante atualização e informação.

Ademais, percebe-se quanto é gratificante para historiador ou apreciador da história, despertar novos conhecimentos e curiosidades, levando à comunidade, através dos museus, um pouco do que foi a sua história local, assim, convidando-as para este espaço e indicando que a visita a um museu não é, segundo Giraudy e Bouilhet (1990, p.11): “ uma obrigação cultural tediosa (...)”, mas sim uma chance de entender mais sobre este respeitável espaço que, em meio as mais diversas funções, é um espaço que possibilita preservar saberes para o futuro.

É de extrema importância a preservação histórica, sendo ela através do registro de memórias, preservação de objetos, ou qualquer outra forma onde uma fonte histórica possa ser identificada. A única ‘máquina do tempo’ existente são os itens preservados, estes que são a ‘materialização do passado’, alimentando a cultura viva no presente, e constituindo para o futuro um recurso a ser gerido e explorado.

Referências

Daiane Arend Flores de Oliveira - Mestre em Processos e Manifestações Culturais e licenciada em História pela Universidade Feevale. Professora da Rede Pública Municipal de Taquara/ RS e Rede Estadual do Rio Grande do Sul.
ENGELMANN, Erni. A Saga dos Alemães II - Do Hunsrück para Santa Maria do Mundo Novo, 2005. [livro]

GIRAUDY, Danièle; BOUILHET, Henri. O Museu e a vida. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Nacional Pró-Memória, 1990. [livro]

MENDONÇA, R.H. Museu e escola: educação formal e não-formal. Ministério da educação, Secretaria de educação. Um salto para o futuro, nº 3, Maio/2009. [livro]

REINHEIMER, Dalva Neraci. SMANIOTTO, Elaine. 160 anos da cultura alemã em Igrejinha, da AMIFEST e SME, 2006. [livro]

SACRISTÁN, J.G.; GÓMEZ, A.I.P. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998. [livro]

SANDER, Berenice Fülber. MOHR, Flávia Corso. Igrejinha - Uma história em construção, da Secretaria Municipal de Educação, 2004. [livro]

3 comentários:

  1. Olá. A preservação patrimonial e a memória da sociedade sempre se apresentam problemáticas pela falta de investimento e uma politica continuada de preservação, oscilando de governo em governo. O município investe em politicas educacionais que valorizem o patrimônio cultural da cidade? Você planejam dar continuidade ao projeto? Abcs

    Everton Carlos Crema

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    1. Olá Everton. Obrigada pelo questionamento! O município gaúcho de Igrejinha particularmente investe bastante na preservação do patrimônio cultural, tanto material quanto imaterial. Cabe mencionar que na cidade são realizadas diversas ações contínuas de valorização cultural, de forma que a atividade de destaque - a Oktoberfest - é realizada anualmente desde 1988, evento que envolve imensamente a comunidade em seu voluntariado; tal festividade, atraindo um grandioso número de visitantes, tem como objetivos valorizar elementos da cultura germânica (etnia dos imigrantes que deram origem ao Município) e fomentar recursos financeiros à entidades locais e regionais (escolas, hospital, Brigada Militar, Bombeiros Voluntários, grupos folclóricos, associações culturais, entre outros). O Museu Professor Gustavo Adolfo Koetz, localizado dentro do parque de eventos onde ocorre a Oktoberfest, é um destes elementos de valorização cultural permanente e, estando em pleno funcionamento - inclusive durante a realização da festa - oferece ações para que os diversos visitantes possam conhecer elementos da memória social e local de forma contínua e dinâmica. Att. Daiane Arend Flores de Oliveira

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