Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa


O LIVRO “CONHECENDO E DEBATENDO A HISTÓRIA DO MARANHÃO”, DE JOAN BOTELHO, COMO MATERIAL DIDÁTICO IMPORTANTE E INOVADOR PARA O ENSINO BÁSICO MARANHENSE



Introdução
Somente a partir do final do século XX o ensino infantil/básico brasileiro ganhou um rigor científico baseado de forma mais direta e sistêmica às problemáticas desenvolvidas nos grandes centros acadêmicos do país. A partir desse momento os professores passaram a ter como obrigação a formação e especialização em cursos de licenciatura plena, para a prática regular do magistério. Essa etapa do ensino nacional foi fruto dos movimentos sociais desencadeados em meados da década de 1980 e início da década de 1990, que clamavam por novas formulações de políticas públicas, na intenção de profissionalizar os educadores e a própria dinâmica de ensino e aprendizagem da educação infantil [Almada, 2015]. As novas propostas pedagógicas, além de alicerçadas na obrigatoriedade da formação/profissionalização e especialização dos professores, perpassavam por um debate relacionado com a inclusão, e consolidação educativa do indivíduo, capacitando-o não somente para as condições burocráticas da vida adulta, como também, para a sua autoafirmação social, e para questões relacionadas aos deveres e direitos enquanto cidadão.  

Na própria Constituição de 1988, foi condicionado o pressuposto de que o exercício da cidadania consiste no gozo de condições intrinsecamente acopladas com o uso de ações afirmativas que potencializem a aprendizagem crítica e inclusiva do indivíduo [Santos, 2015].  Assim sendo, salienta Gadotti [1988]:

“No Brasil, o tema da autonomia da escola encontra suporte na própria Constituição Promulgada em 1988, que institui a ‘democracia participativa’ e cria instrumentos que possibilitam ao povo exercer o poder ‘diretamente´ [Art. 1º]. No que se refere à educação, a Constituição de 1988 estabelece como princípios básicos o ‘pluralismo de ideias e concepções pedagógicas’ e a gestão democrática do ensino público’ [Art. 206]. Esses princípios podem ser considerados como fundamentos constitucionais da autonomia da escola”. [Gadotti, 1988, apud. Santos 2012, p. 161].

Assim sendo, o princípio de ação democrática na educação [enfocando o ensino básico] será a baliza norteadora para problematizarmos as questões que se seguirão no debate do presente artigo, especificando o contexto do ensino e aprendizagem de história do Maranhão, no que tange à produção de materiais didáticos que forneçam ao aluno uma compreensão sobre o seu próprio meio social, instigando questões que o faça entender as dinâmicas políticas, econômicas e sociais que os cerca. Não visando generalizar quaisquer críticas aos produtos já produzidos por instituições públicas e privadas sobre a História do estado supracitado. Porém, sem esquecer das mazelas ainda existentes no que se refere ao baixo volume de produções voltadas para o ensino fundamental e médio. Dessa forma, analisar-se-á algumas das problemáticas postas pelo professor Joan Botelho, na obra “Conhecendo e Debatendo a História do Maranhão”, em sua 3° edição, de 2019, com o intuito de entender e questionar as colocações do autor em um dos únicos e mais completos livros sobre a História do Maranhão, para estudantes secundaristas. Será, portanto, balizada na análise, questões como: o uso de problemáticas científicas do ensino de história debatidas na academia, e a forma como elas são didaticamente postas para alunos do ensino básico; a metodologia de análise e exposição dos cenários político sociais do Maranhão, e a linguagem adotada para expô-los; a presença de fontes e objetos de investigação, bem como, a forma como eles são acoplados nas atividades propostas do livro.

Quem é Joan Botelho?
Com graduação em História Licenciatura e Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Maranhão [UFMA]. É especialista em educação pela Faculdade Santa Fé [FSF] e professor da disciplina de história desde o ano de 1981, tendo lecionado em escolas e cursos pré-vestibulares da rede privada. Foi professor concursado do Ensino Médio e da rede pública estadual entre 1992 e 2007. Foi professor substituto da UFMA e da Universidade Estadual do Maranhão [UEMA] e de programas de ensino especial pelas duas instituições. É atualmente professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão [IFMA]. Foi diretor do polo IFMA em Santa Rita [município do Maranhão]. Escreveu apostilas de História do Maranhão e os livros “Educação Fiscal para a Cidadania”, além das 1° e 2° edições de “Conhecendo e Debatendo a História do Maranhão” [Botelho, 2019].

Análise da obra.
Inicialmente, Botelho apresenta seu livro enfatizando o desafio que tivera para acoplar um amontoado de informações que abrangem as carências de determinadas esferas da comunidade estudantil local, no que tange aos assuntos que abordem a História do Maranhão, de forma didática e totalizante. Dessa forma, o público alvo de tal obra são “alunos, professores e demais leitores que há muito tempo reclamavam a ausência de uma obra que contemplasse ao mesmo tempo o Ensino Médio, o ENEM, demais vestibulares e concursos” [Botelho, 2019, p.7]. Nesse sentido, tem-se o primeiro recorte metodológico para a análise do livro: para quem o autor escreve? Logo, podemos problematizar a coerência historiográfica e didática pedagógica de como se insere os problemas críticos de dados temas históricos.

Assim sendo, a primeira questão que discutiremos é a forma como a obra fora dividida dentro dos cenários cronológicos de determinados acontecimentos regionais. Na própria introdução, o autor enfatiza que a ideia temporal tradicional que divide os acontecimentos político sociais do estado em: Maranhão Colonial, Imperial e Republicano, tornou-se uma barreira ultrapassada na estrutura didática do livro, com intuito de “estimular a visão crítica do aluno, pautada, sobretudo na problematização, respondendo à máxima histórica de que ‘o historiador não é neutro’ perante a sociedade, mas se posiciona diante dos fatos” [Botelho, 2019, p.7].

Além disso, Botelho aprofunda a estrutura discursiva da 3° edição de seu livro utilizando uma das questões obrigatórias para qualquer debate historiográfico pautado na cientificidade: a utilização de fontes. A partir dos Boxes “Virou Notícia”, o autor disponibiliza reportagens da imprensa local para debater o assunto então proposto ao longo da unidade e capítulos subsequentes. A exemplo disso, na Unidade I – “O Maranhão antes da Conquista Europeia”, no capítulo 2- “Os indígenas do Maranhão: Tupinambás e Timbira”, o historiador faz uma conexão dos tempos passado e presente, através de uma reportagem do jornal “Globo Amazônia” com a matéria “Índios acamparam em frente à Prefeitura de Zé Doca, no Maranhão”. Na reportagem é mostrado a situação dos índios da etnia Awá-Guajá, que estavam em agosto de 2010, exigindo ao governo do Maranhão que fosse agilizado o processo de demarcação territorial de algumas terras da Amazônia, pelo fato desta etnia ser uma das únicas do planeta a serem consideradas nômades, tornando-se completamente inviável uma demarcação autoritária e irresponsável do governo que acabava por restringir não só o espaço de vivência dos índios, como a própria forma de subsistência dos mesmos, que é através da coleta animal, por meio do nomadismo.

Vale ressaltar que Botelho, sobre a utilização da história dos nativos, potencializa a ideia de que “[...] a historiografia que visa demarcar a origem da História do Maranhão, a partir dos descobridores europeus, é etnocêntrica, já que tem como referência a Europa e nega a historicidade dos habitantes desta terra e de seus ancestrais” [Botelho, 2019, p.17]. Logo percebe-se que autor utiliza-se de um arcabouço teórico da nova historiografia para pensar os cenários históricos de sua obra. Como coloca Jack Goody, em “O roubo da História”, “a periodização progressiva tem sido elaborada para uso interno a partir de um pano de fundo que considera apenas a trajetória europeia” [Goody, 2008, p. 17]

Além disso, ao enfatizar a não utilização da demarcação mecanicista das periodizações divididas entre os períodos tidos como “arcaicos”, “antigos”, “modernos”, “progressivos”, entre outras definições pejorativas e limitadores das civilizações, ele consegue problematizar aquilo que já era defendido por Le Goff em “Hérésie et sociétés dans l'Europe pré-industrielle, XIe - XVIIIe siècle: communications et débats du colloque de Royaumont”, de 1968. Esta obra, juntamente com o “carro chefe” da Nova História; “Magistrats et Sorciers en France au XVIIe siècle”, de Robert Mandrou, de 1968, conseguiram organizar a baliza da História das Mentalidades, na qual desconstruía aquela visão preconceituosa de que os tempos históricos eram marcados apenas pela cronologia concreta dos séculos, esquecendo-se das forças abstratas que davam intensidades diferentes a cada momento/período do espaço e tempo. Ou seja, além de não marginalizar o passado de dadas civilizações [a cultura indígena brasileira], Botelho acaba por interligar os períodos [passado e presente], não silenciando o que já passou [em termos concretos: a luta pela terra do povo “Awá-Guajá”], e evidenciando que tal questão torna-se ainda presente nos tempos atuais [a própria precariedade de políticas públicas que o governo brasileiro tem perante as comunidades indígenas do país]. Dessa forma, como Júnior [2019] problematiza:

“Fica claro que a periodização da História Geral negligencia as particularidades locais, suplanta os múltiplos percursos político-culturais pelos quais diferentes organizações sociais passaram, uma vez que utiliza uma única régua [a periodização geral] no interior da qual as demais sociedades devem se posicionar. É aconselhável que cada sujeito histórico, cada sociedade ou cada agrupamento humano construa e problematize suas próprias formas de dar sentido ao passado, isto é, pense em seus próprios marcos temporais, sem desconsiderar os critérios subjetivos que tangenciam essa prática” [Júnior, 2019, p. 109].

Por fim, no tópico “Atividades propostas”, é problematizado ao leitor, questões que instigam uma leitura crítica de toda a unidade discutida. A seguir, uma das mencionadas atividades, a respeito da reportagem supracitada sobre os índios Awá-Guajá:

“Atividades Propostas.
1)   Os alunos devem interpretar a reportagem, seguindo os questionamentos a seguir, depois produzir um texto que contenha as indagações sugeridas:
a)   Qual o título do texto jornalístico? Onde e quando foi publicado? Quem é o seu autor?
b)   Qual o tema do texto? De que forma os índios são apresentados? Como governo e justiça vem tratado a política da demarcação de terras indígenas no Brasil?
c)   Com que intenção foi escrito o texto? Por que os índios Awa-Guajá são notícia no Brasil?
2)   Segundo a reportagem do Globo Amazônia, os índios ‘saíram da floresta para provar que existem e têm direito à terra’. A partir do veredito da reportagem, posicione-se frente à seguintes questões:
a)   Por que os índios Awá-Guajá têm que sair da floresta e acampar em frente à prefeitura, para provar que existem? 
b)   Faça um estudo em grupo, com orientação do professor, abordando as condições de vida dos Awá-Guajá, os problemas enfrentados com a ferrovia Carajás, que passa em suas terras, e madeireiros. Destaque a importância da demarcação das terras, para a sobrevivência de um dos últimos povos nômades do planeta”. [BOTELHO, 2019, p. 33].

Dessa forma, percebe-se que a abordagem de conteúdos usada pelo historiador envereda-se para aquilo que Santos [2015] enfatiza como sendo uma proposta pedagógica que preza pelo incentivo à cidadania, a partir dos parâmetros educacionais já mencionados. Ou seja, ao possibilitar um debate crítico sobre o descaso do governo perante as situações dos Awá-Guajá, o autor acaba por impulsionar instrumentos que permitem a emancipação do indivíduo, dando-lhe condições de compreender o contexto social de determinadas “minorias” da sociedade que acabam por serem silenciadas por determinados conteúdos conservadores e omissos de um amontoado de livros didáticos, além de fazê-lo reivindicar, através de exemplos concretos e demonstráveis, aquilo que já é seu por direito, de acordo com a LDB 9394/98: “direitos civis [como segurança e locomoção]; direitos sociais [como trabalho, salário justo, saúde, educação, habitação etc.]; direitos políticos [como liberdade de expressão], de voto, de participação em partidos políticos e sindicatos etc.” [Santos, 2015, p. 22].

Uma outra importante pontuação a ser ressaltada é a criação do boxe “Sujeitos da História”, sendo tal abordagem um espaço para o enaltecimento de questões da cultura e memória popular maranhense, a partir de personalidades que outrora foram silenciadas e esquecidas pelo tradicionalismo historiográfico de muitas esferas do ensino e aprendizagem local. No complemento da unidade VII, Botelho insere em seu trabalho a imagem de umas das personalidades mais emblemáticas do Maranhão oitocentista, a famosa Ana Jansen, que, “segundo a tradição popular, a matrona maranhense realizava agressões aos escravos que possuía e, consequentemente, os cativos, até hoje, gritam de dentro dos poços, que pertenceram a ela” [Botelho, 2019, p. 195].

A intenção do autor de colocá-la na problemática do seu texto é muito mais do que reforçar a visão pejorativa do mito de que Ana Jansen era uma “bruxa”, “mulher demoníaca”, etc. Pelo contrário, Botelho enfatiza no fato da escravocrata ter sido uma das poucas mulheres detentoras de posses e altivez no cenário feminino e masculino de sua época, por ser viúva, e por não viver às custas de um homem branco e rico, como de costume em tempos oitocentistas. Isso causava profundo desconforto para o sistema patriarcal exacerbado do século XIX, potencializando de forma aguda a imagem negativa da “Donana”. É óbvio que suas ações jamais serão louváveis, e sua imagem certamente não trará afirmações que possibilitem o discurso feminista da atualidade, por ter sido uma escravocrata, e por renegar os direitos básicos humanitários. No entanto, enquanto ela é escrachada e deveras repugnada, homens ricos de seu tempo e tão escravocratas quanto, são homenageados através da titulação de seus nomes em ruas, avenidas, escolas, instituições e cidades do Maranhão. A indagação por essa diferença de tratamento é clara e questionada por Botelho: 

“A historiografia atual tem realizado novas abordagens, em torno das lendas e tradições relativas a Ana Jansen. Ela foi uma mulher, que exerceu importante parcela de poder, que na época era exclusiva do mundo masculino. Sempre que o conservadorismo machista é ameaçado pelo empoderamento feminino, há uma reação, quase sempre, em forma de violência, exclusão e desqualificação da mulher. Para este mundo conservador, Cleópatra só tinha defeitos, as mulheres medievais eram bruxas e Ana Jansen era perversa, afinal predomina a máxima da superioridade masculina: ‘atrás de um grande homem, há sempre uma mulher’” [Botelho, 2019, p. 195].

Além de tais questões, Botelho conseguiu juntar em sua obra um amontoado de autores renomados do Maranhão das duas principais universidades do estado; a Universidade Estadual do Maranhão [UEMA], e a Universidade Federal do Maranhão. Tal referencial teórico atualizado e muito bem colocado, conta com Henrique Borralho [aspectos indenitários locais de São Luís]; Elizabeth Abrantes [lutas políticas e participações populares no Maranhão; a participação feminina nas questões sócio-políticas no mundo oitocentista]; Helidacy Corrêa [aspectos da cultura popular maranhense]; Alan Kardec [o sertão maranhense]; Yuri Costa [a burocracia escravocrata maranhense]; Marcelo Cheche [a imprensa maranhense do século XIX]; Carlos Ximendes [disputas políticas e econômicas no Maranhão dos séculos XVII e XVIII]; Mundicarmo Ferreti [questões religiosas e culturais maranhenses], entre outros.

Considerações finais
De fato, ao analisar o livro “Conhecendo e debatendo a História do Maranhão”, surgia sempre a indagação sobre quantos paradigmas ainda precisamos nos lançar para quebrar, no que se refere à falta de produções que possibilitem à comunidade maranhense, uma problematização metodologicamente bem estruturada, com uma simetria didática, sem perder o fôlego das discussões academistas. A obra de Botelho, encaixa-se naquelas do tipo “generalizadas”, porém com um rigor técnico-científico muito bem postado. Um professor que não se limitou ao comodismo de não atualizar-se, construindo, assim, um rico produto capaz de entreter o aluno e enriquecer os estudos, seja do estudantes secundaristas, ou do iniciante universitário. Não faltam elogios para o arranjo sistêmico dos capítulos, unidades, boxes temáticos e verbetes que tornam-se altamente necessários diante de uma linguagem acessível, sem perder a grandiosidade da problematização. Trata-se de um livro exemplar, que merece ser enaltecido diante da fraquíssima coragem da comunidade docente do Maranhão em produzir obras que realmente façam o aluno pensar e evoluir diante das limitações impostas em determinados cenários desiguais.

Referências
Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa é graduando do curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Maranhão [UEMA]. Membro do Núcleo de Pesquisa em História Contemporânea [NUPEHIC]. Estagiário do Centro de Referência e Vivência Casa do Tambor de Crioula. Orientando da Profa. Dra. Monica Piccolo.

ALMADA, Francisco de Assis Carvalho. “A Formação do professor de educação infantil no contexto das políticas educacionais: uma análise na perspectiva histórico-cultural”. São Luís. EDUEMA, 2015. [livro]
BOTELHO, Joan. “Conhecendo e Debatendo a História do Maranhão”. São Luís, Editora Impacto, 2019. [livro]
GODOTTI, Moacir. “Projeto político-pedagógico da escola cidadã. In. Construindo a escola cidadã, projeto político pedagógico”. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, SEED, 1988.
GOODY, J. “O roubo da história: como os europeus se apropriaram das ideias e invenções do Oriente”. São Paulo, Contexto, 2008. [livro]
JÚNIOR, José Petrúcio de Farias. “As periodizações da história geral e da história antiga nos manuais de ensino de história no brasil: limitações e proposições” in. Outros Tempos, vol. 16, n. 28, 2019, p. 106 - 127. ISSN: 1808-8031. [artigo]
LE GOFF, Jacques [org]. “Hérésie et sociétés dans l'Europe pré-industrielle, XIe - XVIIIe siècle : communications et débats du colloque de Royaumont”. Paris, EHESS, 1968. [livro]
MADROU, Robert. “Magistrados e feiticeiros na Franca do século XVII”. São Paulo: Perspectiva, 1979. [livro]
SANTOS, Sandra Regina Rodrigues dos. “Democracia e Gestão Democrática: bandeiras desfraldadas para democratização da escola” in. As Práticas Curriculares na Dimensão Escolar: os desafios cotidianos da contextualização na construção social do conhecimento. São Luís. EDUEMA, 2015.  [livro]
SANTOS, Sandra Regina Rodrigues dos. “Gestão Democrática: representações e potencialidades na atuação do conselho diretor e na construção do projeto político pedagógico – o caso do Colégio Universitário” [1989-1997]. São Luís: EDUEMA. 2012.   [livro]

10 comentários:


  1. Bom dia!

    Aqui, é Marcelo Azevedo Trindade. Sou aluno do curso em Licenciatura Plena em História. Terceiro período, pela Universidade Federal do Maranhão.

    Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa. Parabéns pelo o belíssimo trabalho que valoriza e enaltece um dos grandes historiadores do Maranhão. Que é o professor Joan Botelho. E Obrigado por nos possibilitar conhecer melhor está bela obra historiográfica (Conhecendo e debatendo a História do Maranhão), do autor e Professor Joan Botelho. Obra tão necessária para os dias atuais.

    Segue as minhas perguntas!

    1. No vestibular tradicional me parece que ainda era possível ver nas provas a história local, ou seja, a História do Maranhão. Com a criação do ENEM essa realidade local Maranhão bem ficou esquecida. Não tão diferente das outras partes do Brasil. Pelo menos é o que eu vejo. Não sei qual é a sua opinião sobre essa relação o ENEM e a História local. Me parece que todo o ensino básico converge também para o ENEM. Você consegue vê espaço das ideias (Conhecendo e debatendo a História do Maranhão) do professor Jean Botelho nesse modelo de ensino universal que cada vez mais, só contribui para o esquecimento da História local?

    2. Porque ainda hoje muitos professores de história em todos os níveis do ensino, não exercitam nos alunos, o espírito crítico da realidade, do meio em que vive? Você considera que isso é um problema de formação acadêmica ou não passa de uma opção do próprio aluno, transformado em professor de história?

    3. De que forma a pedagogia, a didática, a dinâmica e as ideias do professor Joan Botelho, pode contribuir para a formação de futuros historiadores do Maranhão e do Brasil e do Mundo. De que forma o professor Joan Botelho pode contribuir com todo aluno que não é, e nem será historiador. Mais que precisa conhecer essa metodologia de ensino, que é de como se deve estudar história. Já que na proposta do professor Joan Botelho, ou seja, a sua forma de ensinar história, possibilita o espírito crítico e reflexivo vital para vida de todo ser humano e para vida em sociedade?

    Mais uma vez parabéns pela belíssima exposição de ideias e a obra do professor Joan Botelho. Amei!

    Um forte abraço e um axé do povo negro!
    Amém! Axé! Aleluia! Saravá!

    Atenciosamente,

    Marcelo Azevedo Trindade
    Aluno do curso de Licenciatura Plena em História. Terceiro período.
    Universidade Federal do Maranhão

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    1. Olá, Marcelo. Muito obrigado pelos elogios e pela sua colaboração no debate.
      1) SOBRE O ENEM: O Exame Nacional do Ensino Médio, de fato, possibilitou o acesso às universidades para aqueles que dificilmente teriam condições de ingressar em determinadas instituições públicas, devido à concorrência desleal imposta por uma estratégia política secular, que constrói barreiras estruturais no acesso ao conhecimento para os menos favorecidos. Obviamente que a universalização desse acesso ainda é extremamente falho, e uma das pontuações a serem corrigidas é justamente a questão regionalista imposta para os indivíduos não pertencentes às regiões sul e sudeste do Brasil. Isso fica nítido a partir da disciplina de História quando percebemos a “história do Brasil” sendo generalizada através dos processos históricos das regiões sulistas do país, enquanto os acontecimentos nortistas são simplesmente silenciados e descartados dos supostos “conhecimentos essenciais” que o sujeito deve ter para ingressar em uma universidade pública.

      A tecnologia usada para fazer os exames é monopolizada pelas estruturas federais, o que não seria um problema se houvessem métodos que construíssem saídas para esse tipo hiato educacional. Dessa forma, possibilitar uma certa autonomia aos órgãos de educação estaduais poderia ser uma saída viável tanto para compreender de forma específica as situações desleais da concorrência entre ricos e pobres de cada região, como também para o melhoramento das temáticas abordadas no exame, que fizessem o aluno estudar sobre determinados assuntos com o intuito de se auto afirmar enquanto sujeito, analisando os contextos da sua própria região na prova que lhe dará acesso a um futuro melhor. Uma outra saída seria uma organização mais eficaz das próprias instituições locais, com o intuito de instruir os estudantes a terem acesso a um conteúdo que problematiza sobre as suas próprias identidades socioculturais, mas, para isso, é necessário uma intensa conversa entre a rede básica de ensino com o ensino superior, sendo esta uma necessidade que progressivamente vem sendo debatido nas universidades, principalmente pelo Programa de Pós Graduação da Universidade Estadual do Maranhão.

      SOBRE O LIVRO DE JOAN BOTELHO:
      Dessa forma, o Livro de Joan de Botelho torna-se apenas um instrumento em meio a uma condição extremamente desfavorável para o ensino de história do Maranhão. No entanto, sua colaboração pode ser grandiosa para estudantes maranhenses que queiram mais conhecimento sobre sua própria identidade local, e também sobre perspectivas mais generalizadas do Brasil, visto que, a metodologia usada na obra condiciona o indivíduo a pensar sobre a história do Maranhão sem esquecer dos acontecimentos das demais regiões do país, ou seja, ele inclui o estado supracitado na suposta “história nacional”, o que permite uma análise conectada entre os acontecimentos, dando aos indivíduos um suporte mais totalizante sobre a História. Então, em resumo, mesmo com certas falhas do projeto de Botelho - afinal, trata-se de uma obra muito abrangente - o professor consegue suscitar uma abordagem metodológica que a maioria dos livros didáticos não problematizam. Outro ponto importante são as próprias questões colocadas no “Conhecendo e Debatendo a História” que embarcam não só questões objetivas, como também discursivas, sobre temáticas inclusas no ENEM e no vestibular local.

      (PRIMEIRA RESPOSTA: VICTOR GABRIEL DE JESUS SANTOS DAVID COSTA)

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    2. (SEGUNDA E TERCEIRA RESPOSTA)
      2) Infelizmente nós estamos inseridos em um sistema de ensino que privilegia os resultados imediatos das pesquisas, seja no âmbito do ensino superior, ou da rede básica. Dessa forma, os professores acabam sendo direcionados a praticar suas atividades de docência apenas para o enriquecimento de seus próprios currículos (referindo-me aos professores de graduação) e para estabelecer um tipo de “status” mercadológico imposto pelas escolas da rede privada, no que se refere ao número de estudantes que ingressam nas Universidades, caracterizando a qualidade do ensino a partir de quantos obtiveram uma boa nota no ENEM, por exemplo. Além disso, nas escolas da rede pública há muitas outras questões que impossibilitam o professor de organizar suas aulas com um melhor dinamismo, que visem a criticidade dos estudantes; a falta de estrutura tecnológica, o alto índice de criminalidade, a falta de apoio dos pais, a ausência de suportes psicológicos para os estudantes, etc. Assim sendo, estamos diante de um problema que vai além do individual, sendo nivelado pelas instâncias estruturais da sociedade. Por conta dessas problemáticas as ações particulares de bons professores, isolados em suas dinamicidades de ensinar, acabam sendo esquecidas, fazendo com que tenhamos uma falsa impressão do problema educacional do Brasil.

      3) Botelho consegue problematizar a história a partir de métodos basilares do ofício do historiador, e mais, ele consegue demonstrar tal metodologia de forma simples e prática, a partir do uso de fontes oficiais e não oficiais, problematizando-as e indagando suas narrativas; questionando o uso do senso comum sobre determinadas perspectivas enraizadas na sociedade, entre outras questões fundamentais em sua obra. Nesse sentido, ele possibilita ao estudante uma compreensão de uma “história problema”. Ou seja, ele faz aquilo que todo historiador que cria recursos didáticos deveria fazer. No entanto, seu trabalho é individual, e não possui vínculo com as estruturas mercadológicas das grandes obras didáticas destinadas às escolas, e isso nos faz perceber que uma das saídas para descontruir certas imposições dos grandes centros de elaboração de conteúdo didático do Brasil, é a elaboração de pesquisas científicas feitas no ensino superior com dinamicidade para o ensino básico.

      Marcelo, agradeço imensamente suas perguntas, axé para você também!

      Att, Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa
      Graduando do Curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA). Membro do Núcleo de Pesquisa em História Contemporânea (NUPEHIC). Estagiário do Centro de Referência e Vivência Casa do Tambor de Crioula.

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    3. Bom dia!
      Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa!

      Sou eu quem agradeço as suas respostas, dada as minhas perguntas.
      Elas só engradecem e enaltecem ainda mais essa grande obra: "Conhecendo e debatendo a História do Maranhão", analisada tão bem no seu trabalho. E só valoriza o trabalho e o grande historiador, o grande professor de História Joan Botelha. Nessa luta de uma conscientização crítica. Sobre o ensino de história geral, sem desvalorizar o ensino da história local. Sem deixar de lado todos os recursos possíveis, que possibilitem aos docentes e discentes
      uma maior compreensão e apreensão do conhecimento, do saber sobre a realidade, sobre o meio em que vivemos nessa relação presente,passado e futuro.
      Valeu!

      Um forte abraço e um axé do povo negro!
      Amém! Axé! Aleluia! Saravá!

      Atenciosamente,

      Marcelo Azevedo Trindade
      Aluno do curso de Licenciatura Plena em História. Terceiro período.
      Universidade Federal do Maranhão.

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  5. Olá Victor Gabriel! Parabéns pelo seu texto!!! Sou do Sudoeste maranhense, mas conheci o professor Joan Botelho em alguns eventos em São Luís. Sabemos que o livro que falas possui um aspecto de preparação para o vestibular, pelo menos a primeira edição. Visto ter sido ele um renomado professor de cursinho. Outro aspecto a considerar é que ele possui uma circulação em sua imensa maioria em São Luís. Fico feliz que ele tenha inserido nas últimas edições, textos de autores da Acadêmia que pesquisam sobre diversos temas da história maranhense. Minha pergunta é: O livro do Botelho, Conhecendo e Debatendo a História do Maranhão se configura na condição de expressarmos a "História do Maranhão", visto que há alguns livros que se expressam ser História do Maranhão, e no entanto versam sobre a História de São Luís, pincelando alguns poucos temas que versam fatos fora da capital. A referida obra pode ser considerada um arcabouço grandioso que possa dar conta da inteireza temática?
    Jessé Gonçalves Cutrim

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    1. Olá, Jessé, obrigado pela pergunta pontual! Uma das minhas críticas à obra de Botelho é justamente por se tratar de uma abordagem generalizada, ou seja, que compreende uma imensa gama de informações, fazendo com que se perca o foco de tantas outras. No entanto, tal crítica não é em tom de desprezo, visto que o próprio autor problematiza tal questão no seu livro, e explica que ali não se fecha todas as discussões sobre a História do Maranhão. É necessário produções desse tipo devido à falta de iniciativas públicas e privadas que enalteçam a nossa história. Em relação à especificidade da sua pergunta, Botelho escreve no capítulo 21, intitulado de “As cidades do Maranhão: velhos problemas, rica cultura e potencial turístico” um amontoado de informativos sobre algumas outras cidades do estado, fora do cenário ludovicense, analisando aspectos populacionais, econômicos, políticos e culturais de tais regiões, problematizando, inclusive, as violências cometidas pelo Estado contra as camadas sociais menos favorecidas. Dessa forma, com a ressalva de que se trata de uma análise generalizada, o autor consegue abarcar fatores que vão além dos acontecimentos da capital, embora, sejam perspectivas que estão inseridas, em grande medida, na contemporaneidade dos processos históricos, ou seja, nas famosas “atualidades”.
      Att, Victor Gabriel de Jesus Santos David Costa

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