LUGARES DE MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM FORA DA SALA DE AULA
O Ensino de
História tem sido objeto de estudo de pesquisadores no cenário educacional
escolar e de pesquisa acadêmica nos últimos anos, estes, buscam lançar novos
olhares para tão relevante disciplina, sua didática, aportes
teórico-metodológicos, direcionamentos e usos. Tais estudos receberam
significativas contribuições possibilitadas em Jörn Rüsen e “sua reflexão sobre
os fundamentos da consciência histórica, do pensamento histórico, da cultura
histórica e da ciência histórica” [Martins, 2011, p. 7].
Neste sentido, o
presente texto busca emergir algumas reflexões possíveis sobre estratégias de
ensino-aprendizagem em história fora da sala de aula e as interfaces da
educação histórica, realizado no ensino fundamental de uma escola municipal de
Caiçara - RS, a partir da experiência de aula sobre o Tenentismo e a Coluna Prestes, no local onde ocorreu
a chamada batalha do Rio Pardo durante a marcha da coluna pelo Brasil, local
este, demarcado, por um monumento histórico, um lugar de memória hoje
reconhecido pela memória coletiva como “cemitério dos Prestes”.
O
lugar de memória está em território do estado do Rio Grande do Sul, no
município gaúcho de Pinheirinho do Vale, nas margens do Rio Pardo, fazendo
limite com o município de Caiçara – RS e logo em seguida encontrando o Rio
Uruguai, que separa este estado do estado de Santa Catarina. O local é
conservado pelo setor de turismo do município, estando entre seus locais de
visitação definidos como turismo histórico.
O
“cemitério dos
Prestes” está entre os remanescentes do movimento denominado Coluna Prestes,
parte do movimento político e militar tenentista do período
histórico reconhecido como a Primeira República, que tinha entre suas
demandas, a luta por melhores condições de vida para as classes mais sofridas e
exploradas no período, iniciado por seu líder Luis Carlos Prestes, quando
atuava em Santo Ângelo - RS e está registrado com tombamento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional [IPHAN] como um dos cenários, dentre os embates sofridos. No local se
encontra o túmulo de um de seus importantes membros, nascido em Santo Ângelo –
RS, o Tenente gaúcho Mario Portela Fagundes, morto juntamente com mais trinta
companheiros [representados nas trinta cruzes da figura abaixo] em batalha no
ano de 1925.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O
“cemitério
dos Prestes” é protagonista,
testemunho e lugar de memória na perspectiva de Nora [1993], de um fato
histórico com interfaces políticas, culturais e sociais da sociedade
brasileira. Para Pierre
Nora [1993, p. 27] onde não há memória
espontânea, os “lugares de memória” são resquícios de passado que alimentam a
história, “os lugares de memória não tem referentes na realidade. Ou melhor,
eles são, eles mesmos, seu próprio referente, sinais que devolvem a si mesmos,
sinais em estado puro”. Ainda, “um lugar de excesso, fechado sobre si mesmo,
fechado sobre sua identidade, e recolhido sob seu nome, mas constantemente
aberto sobre a expressão de suas significações”.
Tais memórias, porém, efetivam-se em conexões e
representações. Os lugares de memória são portadores de representações, mais do que
isso, “A razão fundamental de ser um lugar de memória, observa Pierre Nora, “é
a de deter o tempo, bloquear o trabalho de esquecimento, fixar um estado de
coisas, imortalizar a morte”” [Candau, 2014, 156-157].
O
espaço já alguns anos serve como espaço “socialmente reconhecido” do processo
histórico da Coluna Prestes. Mas não foi sempre assim, esteve silenciado e
invisibilizado por muitos anos, deixado no esquecimento, geralmente
intencional, como assunto “tabu” entre a comunidade, tendo em vista, a
narrativa de preconceito ideológico criado em relação à Coluna, fortalecida
posteriormente, pelo fato de que ao final da marcha pelo Brasil, seu líder,
Luis Carlos Prestes se torna membro do Partido Comunista.
No
entanto, o local e o fato histórico adquiriram maior relevância após a visita de Luis Carlos
Prestes em 1958 e, não menos importante, a partir da abertura político-democrática e
também da efetividade das novas visões da história, novas perspectivas e
olhares teóricos para o que seria reconhecida como uma história mais humana e
justa. Nestas condições, o local recebeu atenção por parte de universidades
regionais e seus cursos de graduação em história, pesquisadores e instituições
como o IPHAN, mas também do turismo regional. Atualmente, o local é pensado
como um espaço que possibilita a dinâmica entre cultura, memória, história e
turismo, incluindo o objetivo educativo histórico. Assim, está aberto à
visitação de escolas e públicos diversos.
No
aspecto cultural e histórico, o local tem sido apropriado simbolicamente pelos
tradicionalistas, sendo um dos pontos de encontro de cavalarianos de distintos
municípios gaúchos. Durante a semana que antecede as comemorações gaúchas da
Revolução Farroupilha, estes, deslocam-se em cavalgada até o cemitério para
acender e realizar a distribuição da “chama crioula”. Além disso, o local sedia
um evento anual de música tradicionalista chamado “Canto dos Bravos” cujo
simbolismo amplo, pode ser representado na figura do tenente gaúcho Mario
Portela Fagundes, com seu idealismo e bravura.
A formação da
marcha batizada de Coluna Prestes esteve entre as revoltas que mostravam a
crise e a insatisfação com a Primeira República, os favorecimentos políticos, a
corrupção e o abandono do povo. Conforme Silva [2020]: “Ao longo de sua trajetória, os membros da Coluna percorreram mais de 25 mil quilômetros em protesto
contra os governos vigentes. [...] A Coluna Prestes foi resultado do movimento
tenentista, que surgiu em 1922 pela insatisfação dos quadros militares com o
governo brasileiro. Os tenentistas, em geral, defendiam a derrubada do governo
de Artur Bernardes e a implantação de mudanças sociais, políticas e econômicas
no Brasil. [...] A Coluna formou-se quando tenentistas rebelados no Rio Grande
do Sul, sob a liderança de Luís Carlos
Prestes, uniram-se com os tenentistas paulistas instalados no
Paraná. A junção das duas formas deu início à Coluna e à marcha pelo interior
do Brasil na defesa de seus ideais revolucionários.
A
Coluna Prestes nesse momento contava com aproximadamente 1.500 homens e tinha
alguns nomes importantes, além de Luís Carlos Prestes, como Miguel Costa, Juarez Távora
e Isidoro Dias Lopes. Ideologicamente falando, os princípios defendidos pelos
membros da Coluna Prestes alinhavam-se com os ideais tenentistas. As
historiadoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling afirmam que os membros da
Coluna Prestes “exigiam o voto secreto, a reforma do ensino público, a
obrigatoriedade do ensino primário e a moralização da política. Denunciavam,
também, as miseráveis condições de vida e a exploração dos setores mais
pobres”. [...] Após a junção das forças tenentistas dos paulistas e dos
gaúchos, a Coluna Prestes iniciou sua marcha em 29 de abril de 1925. [...] A
recepção dos membros da Coluna Prestes nas cidades do interior em que passavam
era diversa. Enquanto em
alguns locais eles eram recebidos como heróis salvadores pela população; em
outros, eram recebidos de maneira fria e desconfiada por causa das ações que
realizavam. Ao todo, a Coluna cruzou territórios que correspondem a diferentes
estados brasileiros: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Piauí,
Bahia, Pernambuco etc. [...] Luís Carlos Prestes saiu da Coluna com o apelido
de “Cavaleiro da Esperança” e tornou-se um dos grandes nomes da luta popular
brasileira ao longo do século XX. Prestes, em 1930, assumiu-se como comunista
e, na década de 1930, esteve envolvido com uma tentativa de tomada do poder no
Brasil”.
De modo geral, o
local remete seus visitantes a perceber cenários da construção do nosso país, o
envolvimento do RS, os conflitos e contradições históricas, aspectos
importantes da cultura, política e história, estimulando memórias e processos
de identificação individual e coletiva. Assim, nas estratégias de ensino-aprendizagem em história
fora da sala de aula, os lugares de memória podem
ser vistos como suportes narrativos utilizados no ensino de história que se
relaciona com sentidos, com a educação histórica e consciência histórica,
cultura e identidade. Entendemos em tal prática, a potencialidade de estimular
reflexões voltadas a significar, ressignificar e valorizar o legado de
contradições que foram geradoras de condições em um processo histórico que
garantisse que algumas demandas do período fossem colocadas no cenário
nacional, na luta pela justiça social e cidadania, inclusive, as comunidades
mais distantes e esquecidas neste contexto político.
Neste sentido,
ressaltamos que entre os objetivos, a aula no local buscou visibilizar
interfaces do período, as possibilidades de reflexão sobre a trajetória
histórica do nosso país e da Coluna, propiciar um diálogo horizontal, com
questionamentos, contextualizações e pontuações, e promover a reflexão entorno
da influência de tais fatos históricos em nosso cotidiano de vida e possíveis relações
com o contexto histórico-social e político atual. Entendemos que este lugar de
memória faz alguns alertas para a sensibilização dos apreciadores, instigando
para a discussão, frutificando narrativas como práxis de
possibilidades para a consciência histórica.
Conforme Schmidt
& Cainelli [2009, p. 150] “Quando aprendem história, os alunos estão
realizando uma leitura do mundo onde vivem e, assim, o tempo presente pode se
tornar o maior laboratório de estudo para a aprendizagem em história, pois é
neste tempo, com as memórias que foram preservadas que o aluno começa a
entender que a história também se faz fora da sala de aula e que o passado se
faz presente nas praças, nos monumentos, nas festas cívicas, nos nomes de ruas
e colégios. A partir dessa percepção, os alunos podem desenvolver a capacidade
de fazer perguntas aos homens de outros tempos [...]”. Assim, “O trabalho com
os monumentos no ensino de história é muito importante na ressignificação dos
espaços públicos pela demonstração de seus significados históricos” [Schmidt
& Cainelli, 2009, p. 152].
Ao pensar o
ensino de história e sua relação com as questões mencionadas, relembramos Rüsen
[2012, p. 283], que “No nível aprofundado de geração de sentidos, a história é
um meio de lidar com identidade, com unidade e diferença”. Assim, podemos
compreender tal prática de ensino e seu papel na construção de memórias
coletivas e na geração de sentidos. Para o sociólogo espanhol Manuel Castells
[2002, p. 23. V2] “A construção de identidades vale-se da matéria-prima
fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e
reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de
poder e revelações de cunho religioso”. Conforme o autor há um processamento,
seleção de definições identitárias, que ocorre mediado pelas concepções de
mundo dos sujeitos, objetivos pessoais e do grupo. Afirmamos então, que isso se
processa em uma dimensão cultural que “é relacional, ela se manifesta nos símbolos,
nas representações”. [Kreutz, 2001, p. 122].
Tudo isso se
insere no contexto de uma cultura histórica na qual nos assentamos. Conforme
Schmidt & Urban [2018, p. 16 a 17] a partir de Jörn Rüsen “a cultura
histórica é uma categoria de análise que permite compreender a produção e usos
da história no espaço público na sociedade atual. Trata-se de um fenômeno do
qual fazem parte o grande boom da
História, o sucesso que os debates acadêmicos têm tido fora do círculo de
especialistas e a grande sensibilidade do público em face do uso de argumentos
históricos para fins políticos. Desse processo, fazem parte também os embates,
enfrentamentos e aproximações entre a investigação acadêmica, o ensino escolar,
a conservação dos monumentos, os museus e outras instituições, em torno de uma
aproximação comum do passado. Assim, para o autor, a cultura histórica articula
os diferentes elementos e estratégias da investigação acadêmica, da estética,
da política, do lazer, da educação escolar e não escolar e de outros procedimentos
da memória histórica pública “ela é a quinta-essência das atividades e
instituições sociais, pelas quais e nas quais acontece a consciência
histórica”. Isto é, no âmbito da cultura histórica da qual faz parte a vida
prática, é que acontecem os modos de atuação da consciência histórica.
Nessa direção a
categoria da cultura histórica teorizada por Rüsen aponta a consciência
histórica como uma realidade elementar e geral da explicação humana do mundo e
de si mesmo, com um significado inquestionável prático para a vida, propondo
que da consciência histórica há somente um pequeno passo à cultura histórica.
Se se examina o papel que tem a consciência histórica na vida de uma sociedade,
aparece como uma contribuição cultural fundamentalmente específica que afeta e
influi em quase todas as áreas da práxis da vida humana. Assim, a cultura
histórica pode ser definida como a articulação prática e operante da
consciência histórica na vida de uma sociedade. Como práxis da consciência tem
a ver, fundamentalmente, com a subjetividade humana, como uma atividade da
consciência, pela qual a subjetividade humana se realizada na prática, cria-se,
por assim dizer”.
Através do ensino de
história dado nesta intervenção, fora da sala de aula buscamos fortalecer nos
estudantes os processos de construção da consciência histórica, possibilitando
imbricações às suas identidades históricas e culturais, permeando sentidos e significados
que são colocados em suas vivências e interações sociais. Além disso, foi possível, em uma
perspectiva interdisciplinar, trabalhar aspectos da geografia e espaço
geográfico e histórico, entre eles, os limites entre municípios e estados do RS
e Santa Catarina e das ciências, em questões relacionadas à biodiversidade
local.
A partir desta
experiência, podemos de imediato perceber a relevância dos lugares de memória e
das práticas de ensino fora da sala de aula também como possibilidades de
reflexividade, criticidade, desnaturalização, de estranhamento, de visibilidade
e de potencialização e desenvolvimento da cidadania. Assim, o ensino de
história não restrito ao interior do espaço escolar também pode articular o
conhecimento histórico à realidade e as perspectivas de futuro nas experiências
de vida, no contexto da prática, na aprendizagem histórica e na construção narrativa histórica de
sentido.
Referências
Fabiana Regina da Silva.
CANDAU, Joël. Memória e identidade. São Paulo: Contexto, 2014. [livro]
CASTELLS, Manuel. Paraísos comunais:
identidade e significado na sociedade em rede. In: CASTELLS, M. O poder da identidade. São Paulo: Paz
e Terra, 2002. p. 21- 48. v. II. [livro]
KREUTZ, Lúcio. Imigrantes e projeto de escola
pública no Brasil: diferenças e tensões culturais. In: Sociedade Brasileira de
História da Educação [Org.] Educação no
Brasil: história e historiografia. Coleção Memória da educação.
Campinas, São Paulo: Autores Associados/SBHE, 2001, p. 119-144. [artigo]
NORA, Pierre. Entre memória e
história: a problemática dos lugares. Projeto História, n. 10, p.7-28, dez.
1993. Disponível em:
https://revistas.pucsp.br/revph/article/view/12101.
Acesso em: 14 mar. 2017. [internet]
RÜSEN, Jörn. Razão histórica - Teoria da história:
fundamentos da ciência histórica. Trad. Estevão de Rezende Martins. Brasília:
UnB, 2001. [livro]
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que mais? Tradução de: KNOLL, Daniel Carlos, In: Revista História & Ensino, Londrina, v. 18, n. 2, p. 281-291,
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RÜSEN, Jörn. Cultura Faz Sentido: orientações entre
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SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão
de Rezende [Org.]. Jörn Rüsen e o
Ensino de História. Curitiba: Editora da UFPR, 2011. [livro]
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; URBAN, Ana Claudia; [Org.]. O que é Educação Histórica. Curitiba: W.a Editores, 2018.
[livro]
SILVA, Daniel Neves. "O que foi a Coluna Prestes?";
Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/historia/o-que-foi-a-coluna-prestes.htm.
Acesso em 18 de abril de 2020. [internet]
Olá! primeiramente gostaria de lhe parabenizar pela importante discussão trazida por você em seu texto “LUGARES DE MEMÓRIA E ENSINO DE HISTÓRIA: REFLEXÕES SOBRE PRÁTICAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM FORA DA SALA DE AULA.” A partir das reflexões levantadas por você sobre estratégias de ensino-aprendizagem em história fora da sala de aula e as interfaces da educação histórica, e o monumento histórico no local onde ocorreu a chamada batalha do Rio Pardo durante a marcha da coluna pelo Brasil. Gostaria de saber se nesta experiência descrita os alunos mesmo antes de se depararem com aquele bem cultural, já o reconheciam como patrimônio de sua cidade e se há algum projeto na comunidade em formar os próprios moradores em mediadores do seu patrimônio? Pois como já sabemos o reconhecimento e a preservação de patrimônios não cabem apenas ao poder público. Devemos também atuar como educadores e atores principais nas nossas comunidades, fazendo com que ela se aproprie desses patrimônios e exerça o seu poder de resguardar, transmitir e ressignificá-los.
ResponderExcluircordialmente,
Wirlanny Evelyn Oliveira Barros
Olá! Agradeço sua contribuição! Em relação aos questionamentos: alguns destes estudantes, ligados a cultura e tradição gaúcha conheciam sobre a existência deste lugar e a sua relação com a morte do Tenente Mario Portela na Batalha do Rio Pardo, como destaquei no texto, tido como o "Cemitério dos Prestes", no entanto, não havia entre eles, a clareza do que de fato se tratava o movimento em questão, que motivou a batalha. Embora tenha tido algumas ações até mais voltadas para o turismo em relação ao patrimônio, vejo a necessidade sim de atuarmos enquanto educadores neste sentido, por isso, a aula neste local pode ser um primeiro passo. Ainda há carência de que um trabalho mais significativo seja dedicado a tais espaços que podem nos remeter a significações, memórias e resquícios.
ExcluirOlá, parabéns pela discussão apresentada sobre o ensino de história em lugares públicos e as possibilidades em se explorar os chamados "lugares de memória", com a experiência de aula no chamado "cemitério dos Prestes". Gostaria de saber se durante a atividade os alunos evocaram alguma memória ou narrativa que poderia ter sido transmitida por algum familiar ou conhecido, e se poderia dar exemplos, se possível, das narrativas apresentadas, tendo em vista que a história da coluna prestes faz parte do imaginário social da região na qual se localiza o cemitério Preste? Minha pergunta busca entender como o "cemitério dos Preste" tem se consolidado enquanto "lugar de memória", fazendo parte da história regional e da memória coletiva e social da região onde se encontra.
ResponderExcluirAtenciosamente,
Jonas Clevison Pereira de Melo Júnior.
Olá Jonas!!
ExcluirObrigado pela contribuição! Em relação ao questionamento: sim, alguns trouxeram para a discussão da aula coisas contadas pelos pais, entre elas, de que o nome do Tenente Mario Portela (falecido no local) foi dado a uma cidade da região chamada Tenente Portela. Além disso, alguns comentaram que haviam ouvido sobre os cavalarianos que buscavam a chama crioula no "Cemitério dos Preste" e o evento chamado "Canto dos Bravos"que ocorria no local homenageando a bravura dos gaúchos que participaram da coluna. No entanto, não evidenciaram nada mais específico em relação a Coluna Prestes, ao Tenentismo, ou até a figura do Prestes e sua ligação ao comunismo. Parece-me que os tradicionalistas que visitam o local em seus eventos, não tratam destas questões em suas falas. Porém, narrativas de moradores mais antigos desta região, contemplando as questões citadas, foram destacadas pela guia de Turismo que nos acompanhou nesta aula.
Existe a possibilidade de trabalhar com os lugares de memória que já não existem materialmente mas que ainda permanecem na memória daqueles que vivenciaram aquele determinado momento histórico?
ResponderExcluirFRANCISCA BORGES DE SOUSA
Olá!! Obrigado pela contribuição! Embora não seja o caso deste lugar tratado no texto, existe sim! Lugar de memória, como o próprio nome diz, tem um sentido mais amplo que aquele definido materialmente, tangencia o imáginario coletivo, as narrativas, as memórias e as significações dadas nos espaços.
ResponderExcluirOi, Fabiana. Tudo bem? Primeiramente, te parabenizo pelo excelente (e deveras importante) texto!
ResponderExcluirGostaria de deixar minha dúvida para refletirmos juntas. Sou pesquisadora dos lugares de memória (relacionados à Ditadura Civil-Militar brasileira) na minha cidade. Ao longo das minhas pesquisas, encontrei alguns lugares de memórias que, ou não são socialmente reconhecidos ou sequer conhecidos enquanto um espaço onde a Ditadura deixou suas marcas. Nesse caso, como posso potencializar a difusão desses lugares para a sociedade? Como fazer com que se aproprie e reflita-se sobre esses lugares enquanto um lugar de memória, seja nas salas de aulas, seja fora dela?
Abraços!
Larissa Medina Marques.
Olá Larissa! Interessante reflexão! Se pensarmos o quanto é urgente o conhecimento amplo de nosso processo histórico de repressões e opressões, entendemos que realmente há uma necessidade de tornar presente o passado, clarificado e significado através da educação histórica. Ainda há, em muitas regiões do nosso país, o desconhecimento sobre lugares e pessoas perpassados pelas mazelas da ditadura. Um passo bastante importante é que possamos exercer nossa profissão de historiadores e pesquisadores em favor da visibilidade daquilo que faz parte da nossa história e que deixou marcas, como você ressalta. Para isso, além do nosso espaço em sala de aula, podemos nos aliar com a pesquisa, estabelecer diálogos com os orgãos de cultura e turismo, orgãos como o IPHAN, universidades e cursos de graduação e pós-graduação em História. Outra grande aliada para as questões ligadas a períodos históricos como este é a possibilidade da narrativa oral e escrita (História Oral, temática e Histórias de Vida), contribuindo para incentivar lembranças e emergir memórias a partir daqueles que vivenciaram tais processos, contemporâneos ao período da ditadura civil-militar.
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