Juliana Aparecida Nunes e Matheus Mendanha Cruz


LIVROS DIDÁTICOS, EUROCENTRISMO E AUSÊNCIA DA AMÉRICA LATINA



Introdução
O texto que apresentamos ao leitor aqui tem o intuito de refletir sobre o espaço dedicado à América Latina nos livros didáticos. A necessidade que sentimos para debruçarmos sobre esse objeto de estudo com esse objetivo foi perceber a continuidade de uma tradição narrativa eurocêntrica no cotidiano e, infelizmente, na cultura escolar.

Apresentaremos os dados quantitativos de dois livros didáticos indicados para o terceiro do Ensino Médio. A análise será feita através das contagens de palavras, para podermos ter uma noção numérica do espaço dedicado à América Latina nesses materiais.

A conclusão que podemos chegar é de que há pouquíssimo espaço destinado a temática nesses materiais e refletir sobre essas ausências é essencial para percebermos a dinâmica discursiva e identitária que ainda nos marcam como brasileiros.

O texto começa apresentando o levantamento de dados; depois discutiremos conceitos como Sociologia das Ausências e Narrativa para ajudar-nos a compreender o fenômeno estudado; por fim indicaremos possíveis consequências do eurocentrismo na nossa sociedade e possíveis caminhos alternativos.

Os livros didáticos utilizados
Os livros utilizados para esse levantamento foram o exemplar do terceiro ano do Ensino Médio das coleções História, Sociedade e Cidadania do autor Alfredo Boulos Junior e História Global – Brasil e Geral, de Gilberto Cotrim, pertencentes ao PNLD- Programa Nacional do Livro Didático- de 2015, sendo utilizados nas escolas de todo Brasil até o ano de 2017. A escolha por esses livros se deu por as respectivas coleções serem as mais distribuídas por todo o Brasil, portanto, as que agradaram a um maior número de professores. O texto de Juliana Aparecida Nunes e Luis Fernando Cerri (2017) indica, em tabela, os livros mais distribuídos durante o ano de 2015 e apresenta uma discussão acerca da representação dos negros nesses mesmos livros

Antes de entrarmos efetivamente na análise dos livros correspondentes, é importante conhecer os seus autores, pois, segundo Bittencourt (2004), são eles que dão seu nome a obra e acabam assumindo a responsabilidade sobre os conteúdos que nela existem. Apesar de na atualidade essas produções envolverem grandes equipes e ser impossível determinar quem escreveu cada trecho efetivamente, eles assumem também o papel de revisar os escritos dos demais integrantes de suas equipes e editá-los. Além de conhecer os autores, é importante verificar a organização do livro em si.

O livro mais vendido, intitulado “História, Sociedade e Cidadania” foi escrito por Alfredo Boulos Junior que possui doutorado em educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo- PUC-SP, tendo experiência de docência em colégios públicos, privados e em cursinhos pré-vestibulares. Esse livro é editado pela FTD. Ele traz como o objetivo do ensino da disciplina de História aprender a orientar-se no tempo e identificar rupturas e permanências. Esse material é dividido em cinco unidades, nessas unidades estão contidos 13 capítulos e esses capítulos se dividem entre História Geral e História do Brasil. Dentre esses 13 capítulos, nenhum é dedicado inteiramente a discutir algum outro país da América latina que não seja o Brasil.

O segundo livro mais vendido é intitulado História Global - Brasil e Geral. Essa obra foi escrita por Gilberto Cotrim, que possui a formação de mestre em Educação, Arte e História da Cultura e possui experiência como professor de História na rede particular de ensino. A editora responsável por esse livro é a Saraiva. Ele aponta como o principal objetivo do ensino da disciplina de História fazer com que o estudante consiga estabelecer relações entre o passado e o presente. O livro encontra-se dividido em 4 unidades, que estão subdivididas em 15 capítulos. As unidades são divididas entre as que se referem à história geral (sendo duas), e as que se referem à história do Brasil (as outras duas). Dentre os 15 capítulos, nenhum deles é dedicado inteiramente a discutir questões que envolvam os demais países da América Latina (com exceção do Brasil).

Outro ponto que não deve ser desconsiderado quando se trata de Livros Didáticos é o imenso mercado editorial que envolve a sua produção, sendo este extremamente lucrativo. Por isso, as editoras não medem esforços para que suas obras se enquadrem nos critérios de venda. Esse processo de venda pode ser comparado ao do mercado farmacêutico, no qual é feito um longo processo de divulgação dos respectivos produtos, que muitas das vezes é composta por distribuição folders ou até mesmo de algumas unidades do produto (Cassiano, 2005). No caso dos livros didáticos, isso acaba favorecendo as editoras que possuem mais recursos para realização dessas campanhas em detrimento das demais.

Apesar disso, esses livros devem seguir critérios estipulados previamente pelo Ministério da educação. Essa avaliação dos materiais didáticos surgiu no ano de 1996 e com ela, surge uma maior preocupação por parte das editoras com esses critérios de avaliações e como os livros didáticos os englobam efetivamente. Porém, como é apontado por Cerri e Ferreira (2007), as avaliações do Programa Nacional do Livro didático não são suficientes para dizer que os materiais estão no padrão ideal pois, se os materiais apresentarem os critérios de avaliação de forma razoável, eles serão aprovados.

Para que fosse possível a análise dos livros, estes foram escaneados e salvos no formato de pdf. Posteriormente, estes arquivos foram convertidos para o formato docx., desse modo, tornando possível que fossem selecionados os trechos de cada livro ou verificado quantas vezes uma determinada palavra aparece nas obras.

Contagem de palavras (por trecho)
A análise que aqui propomos visa quantificar o número total de palavras que os trechos que tratam especificamente de países da América Latina, com exceção do Brasil, e traçar um comparativo com o espaço dado aos demais países do mundo e com a História do Brasil. Para isso, os arquivos salvos em docx. foram abertos no Microsoft Word e através das ferramentas próprias desse programa, foram verificadas as quantidades totais de palavras existentes na obra toda.

Posteriormente, pensando que o foco desse texto é discutir o espaço destinado à América Latina nos livros didáticos, foram selecionados os trechos que davam ênfase a algum aspecto que envolvesse a América Latina. Como já dito anteriormente, nenhum dos dois livros traz algum capítulo que trate somente da América Latina, por isso, foram contabilizados os subtítulos que fazem menção a esse assunto e descontado do item a qual esse aparecia agregado (sendo história do Mundo ou História do Brasil). Também foi contabilizado o espaço destinado à parte introdutória e final de cada um dos livros.  Os valores absolutos foram transformados em porcentagem para que fosse melhor visualizado o total do espaço destinados a cada um dos itens. Os resultados encontrados expressam-se na tabela abaixo:



Observando a tabela acima é possível perceber que o espaço dado a trechos que se referem a América Latina é extremamente pequeno, ou quase nulo em ambos os livros. Esse espaço chega a ser menor do que o que é destinado a referências e apêndices dos livros e no caso do livro História Global, menor até mesmo que a parte introdutória que contém a carta de apresentação e sumário do livro. 

Se comparado ao espaço destinado aos demais continentes ou até mesmo ao Brasil, que em ambos os casos ultrapassam os 30%, fica ainda mais evidente que há um apagamento de questões que envolvam a América Latina.

Por serem livros dedicados ao terceiro ano do Ensino Médio, os conteúdos tratados referem-se à História Contemporânea, ou seja, são desconsideradas as particularidades dessa região nessa época. Conteúdos importantíssimos como os movimentos populistas e os regimes militares não são trabalhados. 

Menções ao termo “América Latina”
Pensando que não basta apenas saber o espaço que essa discussão ocupa nos manuais didáticos, mas que é necessário saber de que maneira ocorrem as menções à América Latina, foram contabilizadas quantas vezes esse termo aparece em cada obra e de que forma isso ocorre.

Os arquivos foram abertos no Microsoft Word e utilizando as ferramentas próprias de pesquisa desse aplicativo, foi pesquisado quantas vezes o termo América Latina apareceu ao longo do livro. Essas menções foram agrupadas em categorias conforme a tabela abaixo:



Frente aos dados apresentados na tabela anterior é possível perceber, mesmo muito aquém do necessário, o livro História, sociedade e cidadania trabalha mais com a América Latina do que o História Global. Também é importante destacar que o livro de Boulos Júnior relaciona, dentro da ínfima quantia de citações, mais do que o do Cotrim o Brasil com o subcontinente em questão, embora isso se inverta quando relacionado com o mundo.

Num livro produzido para o ensino de História no Brasil é bastante relevante que haja o espaço e o esforço de identificar o Brasil com os demais países da América Latina. Isso porque, culturalmente, a identidade brasileira tem sido forjada aos moldes europeus e de costas para os nossos vizinhos latino-americanos.

Há um porquê para esse apagamento
Para basear a compreensão dos porquês desse apagamento da História latino-americana, utilizaremos o conceito de Sociologia das Ausências proposto pelo professor Boaventura de Sousa Santos (2010b, p.37-ss). Para o autor português os apagamentos não são frutos de simples esquecimentos, mas eles são construídos e perpetuados para a manutenção de uma certa lógica de organização do sistema-mundo.

Esse conceito das ausências está dentro de uma discussão maior, proposta pelo mesmo autor, que é da construção de um Pensamento Abismal (Santos, 2010a, p.11-ss). Para ele todo o pensamento ocidental moderno carrega essa característica e esta seria a de criar uma linha em que divide aquilo que é moderno e pré-moderno, científico e crendices, belo e feio, civilizado e bárbaro, e assim por diante. Essa lógica dicotômica cria, necessariamente, as ausências, o não-ser, o não-existente.

Tradicionalmente no Brasil temos mantido, infelizmente, uma narrativa mestra eurocêntrica e que, pelos dados apresentados acima, ainda se perpetua. Esse colonialismo epistêmico e cultural começa, obviamente, já com a chegada dos europeus à América no século XV e se mantêm enquanto a mitificação acerca da Modernidade continua existindo.

Dussel (1993) denuncia que a Modernidade é marcadamente a mudança do centro do mundo do Mediterrâneo para o Atlântico e o posicionamento da Europa como centro geopolítico. Entretanto o autor coloca que a característica central para o estabelecimento dessa dinâmica é justamente a violência, mesmo que o discurso tenha mitificado esse movimento como libertador, científico e pacífico.

As propostas expostas até aqui nos permitem construir uma noção por quais motivos a América Latina está excluída do material didático analisado. Na seção seguinte objetivamos discutir um pouco sobre qual a necessidade e a influência para os livros didáticos e para o cotidiano de haver uma narrativa mestra.

A importância da narrativa
Toda história é narrativa. Rüsen (2015, p.53) destaca que “narrar é um procedimento mental próprio à constituição humana de sentido”. É através da atividade narrativa que organizamos o passado, sendo ele ideal ou factual, a ponto de se tornar compreensível e possível de utiliza-lo com função orientadora na vida prática cotidiana.

A competência narrativa é crucial para o sujeito consiga conceber a sua realidade e assim relacionar-se com ela. Borries (2016, p.177-178) indica que é mais importante que os educandos aprendam a pensar historicamente, organizando o passado, do que simplesmente saber um conjunto de datas e fatos sem conseguir estabelecer relação entre eles.

É a lógica narrativa, entretanto, que seleciona, frente a obviedade da impossibilidade de ter a totalidade do passado, os fatos para gerar um determinado sentido. Por isso analisar os livros didáticos e perceber a ausência, como é o caso aqui, de determinados temas é válido para repensar o modelo de narrativa que tem sido tomado nas escolas.

Afirmamos escolas, no parágrafo anterior, por entendermos que o livro didático tem um papel central na escolha dos conteúdos que são propostos nas aulas, na dinâmica de abordagem desses conteúdos, além das atividades de fixação e/ou reflexivas.

Quando a América Latina não faz parte dos conteúdos a serem trabalhados significa que quem propôs o currículo e a linha narrativa-mestra dos livros didáticos não considera relevante discutir nossos vizinhos para a formação dos estudantes.

Esse aspecto fica mais grave se pensarmos que se para o terceiro ano do Ensino Médio, que se ocupa com o século XX, já existe essa ausência é possível projetar essa mesma falta nos demais volumes indicados para os dois anos anteriores. Ou seja, a história da América Latina fica bastante restrita a conteúdos minimizados frente a abordagem de outros passados.

A força do eurocentrismo
A carga histórica da construção discursiva que coloca a Europa como centro geopolítico e epistêmico do mundo é considerável e sem ela não é possível compreender o motivo pelo qual a tanta ausência da América Latina nos livros didáticos citados acima. O que ocorre tradicionalmente é que contamos a história dos europeus como se fosse a nossa própria e mencionamos a dos países latino americanos, indígenas e afro-brasileiros como se fosse do outro.

Essa composição do passado do outro é consequência direta da composição narrativa da modernidade. Esse eurocentrismo impede e inibe qualquer abordagem que subverta essa lógica. Desta forma, o passado latino-americano, indígena, afro, das mulheres, etc. segue apenas como um apêndice à história “importante”.

O eurocentrismo epistêmico e cultural é tão forte que mesmo quando há alguns avanços acerca dessas questões, muitas vezes não há a coragem e ousadia de abandonar a tradição eurocêntrica. Prova desse fenômeno são os estudos pós-coloniais que visam discutir a situação do sul-global, composto por países marginalizados pelo padrão capitalista de desenvolvimento, através de teóricos europeus, que discutem dentro do contexto da Europa. Walter Mignolo (2005) é um dos pensadores que denuncia essa dinâmica.

Esse eurocentrismo nos impede de enxergar que “existem problemas modernos para os quais não há soluções modernas” (Melo, Ribeiro, 2019, p.05). A consequência direta desse processo é a desvalorização de tudo aquilo que é latino-americano, até mesmo brasileiro. Buscamos as nossas respostas como sociedade nos modelos importados da Europa, ao mesmo tempo que são esses modelos que possibilitaram o surgimento desses problemas.

Para não nos alongarmos, o exemplo ambiental nos basta. É a sociedade ocidental, baseada no capitalismo industrial que gerou a maior parte dos problemas ambientais que existem atualmente. Entretanto continuamos a buscar nos países do norte-global as soluções enquanto em nossos territórios vivem sociedades nativas que não tem problema algum com o meio ambiente, pelo contrário. Mas o que ocorre é um preconceito e uma desvalorização de tudo aquilo que não europeu, impedindo um diálogo mais amplo para a construção de soluções para problemas locais e globais.

Dussel (2016) propõe como opção a essa força do eurocentrismo do Transmodernismo, que se baseia em valorizar a alteridade sem hierarquização. Boaventura de Sousa Santos (2010b, p.40-ss) também propõe uma Sociologia das Emergências para valorização das epistemologias construídas no sul-global.

Entretanto essas propostas só serão possíveis se ocorrer uma mudança na narrativa-mestra cultural do Brasil, sendo um bom lugar para começar essa desconstrução e reconstrução o chão da escola. Enquanto os estudantes continuarem tendo acesso apenas ao modelo europeu de pensamento, uma história que nos coloca como ocidentais, mas menos ocidentais que os europeus e estadunidenses, haverá muitas dificuldades em se romper com essas barreiras epistêmicas e culturais que nos mantêm colonizados ainda no século XXI.

Considerações finais
Com os dados apresentados e a breve discussão feita é possível perceber a necessidade de se abrir mais espaço para o estudo da América para a possibilidade de pensar criativamente soluções para questões atuais.

Por meio das análises é evidente que o espaço destinado à América Latina nesses livros é praticamente nulo. Quando o termo América Latina é citado, ele é utilizado na grande maioria das vezes como coadjuvantes de outra História, para fazer relações com a História do Brasil ou com a de outros países do mundo.

O espaço ocupado pelos trechos que se referem a América Latina em ambos os livros é menor que o espaço utilizado pelas referências e apêndices e nem se compara ao espaço dado a discussões que envolvem o Brasil e outros países do mundo, ultrapassando os 30%.

Essa desvalorização da América Latina acontece por conta do ensino da disciplina de História dar-se por meio de uma organização curricular eurocêntrica, na qual os conteúdos estruturam-se tendo por base os acontecimentos da Europa, desvalorizando outras localidades do mundo e da suas particularidades.

Sabendo do importante papel ocupado pelos livros didáticos nas aulas de História, é importante que seja refletido o que eles abordam ou deixam de abordar. Para muitos professores, eles assumem o papel central, sendo utilizados como a base do que deve ser ensinado.

Vale reconhecer que romper com as estruturas eurocêntricas do Ensino de História não é tarefa fácil, já que elas estão fortemente enraizadas em nossa sociedade. Ela ocupa as cátedras universitárias, engloba os financiamentos de pesquisa e a comodidade dos professores que já tiveram sua formação nesses moldes.

Gostaríamos de citar, por fim, que é importante que essa discussão seja levada para o âmbito da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, que em sua última versão homologada segue a lógica eurocêntrica, organizando o passado pelo viés do norte-global.

Referências
Juliana Aparecida Nunes é Mestranda em História Cultura e Identidades pela Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG. Graduada em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG. Membro do Grupo de estudos em didática da História (GEDHI)-da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Matheus Mendanha Cruz é Mestrando em História Cultura e Identidades pela Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG., Graduado em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa- UEPG. Membro do Grupo de estudos em didática da História (GEDHI)-da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

BITTENCOURT, C. M. F. Autores e editores de compêndios e livros de leitura (1810-1910). Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 30, n. 3, p. 475-491, set/dez. 2004. [artigo]

BORRIES, B. V. Competência do pensamento histórico, domínio de um panorama histórico ou conhecimento do cânone histórico. Educar em Revista, Curitiba, v. 60, p. 171-196, abr./jun. 2016.  [artigo]

CASSIANO, C. R. de F. Reconfiguração do mercado editorial brasileiro de livros didáticos no início do século XXI: história das principais editoras e suas práticas comerciais. Em Questão, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 287-312, jul./dez. 2005 [artigo]

CERRI, L. F.; FERREIRA, A. R. Notas sobre as demandas sociais de representação e os livros didáticos de História. In: OLIVEIRA, M. D.; STAMATTO, M. I. S. O livro didático de história: políticas educacionais, pesquisa e ensino. Natal: EDUFRN, 2007. P. 74-86. [artigo]

DUSSEL, E. Europa, modernidad y eurocentrismo. Revista de Cultura Teológica, v. 4, p. 69-81, jul./set. 1993. [artigo]

DUSSEL, E. Transmodernidade e interculturalidade: interpretação a partir da filosofia da libertação. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 51-73, Jan./Abr. 2016. [artigo]

MELO, A. D.; RIBEIRO, D. Construção do conhecimento e eurocentrismo nas universidades: apontamentos para uma Pluriversidade. Revista Educação em Questão, Natal, v. 57, n. 51, p. 1-24, jan./mar. 2019. [artigo]

MIGNOLO, W. Cambiando las éticas y las políticas del conocimiento: lógica de la colonialidad y postcolonialidad imperial. Tabula Rasa, Bogotá - Colômbia, v. 3, p. 47-72, enero-deciembre 2005. ISSN 1794-2489. [artigo]

NUNES, J. A.; CERRI, L. F. Representações dos negros Na História do Brasil Republicano nos Livros Didáticos DO PNLD - 2015. Ateliê de História, Ponta Grossa, v. 5, n. 2, p. 71-98, 2017.  [artigo]

RÜSEN, J. Teoria da História: Uma teoria da história como ciência. Tradução de Estevão C. de Rezende Martins. Curitiba: Editora UFPR, 2015. [livro]

SANTOS, B. D. S. Para descolonizar Occidente: más alla del pensamiento abismal. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales CLACSO; Prometeo Libros, 2010a. [livro]

SANTOS, B. D. S. Refundación del Estado en América Latina: Perspectivas desde una epistemología del Sur. Lima: Instituto Internacional de Derecho y Sociedad; Programa Democracia y Transformación Global, 2010b. [livro]



11 comentários:

  1. Boa Tarde Juliana e Mateus! Li o texto publicado por vocês neste Simpósio e o considerei muito oportuno quando de fato, nós professores nos deparamos com livros didáticos carregados de discursos eurocêntricos que deixam a América Latina em um lugar marginal em relação ao mundo europeu. Tendo isso em vista, desejo saber suas opiniões quanto à postura do professor ante à literatura didática. Como ele pode transgredir a tais discursos eurocentricos ao utilizar o livro didático em sua prática docente?

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    1. Boa tarde Everton, ficamos felizes com a sua leitura do nosso texto e esperamos de fato contribuir para aprofundamento de reflexões no sentido do rompimento com o eurocentrismo.

      Dito isso, acredito que o pior livro didático ainda pode ser utilizado da melhor maneira possível (acho que estou parafraseando o Laville). Isso pode ser feito a partir de uma atitude questionadora frente ao material. Ou seja, o professor pode, junto aos estudantes, tratarem um livro como uma fonte histórica e questionar suas escolhas e, por que não?!, ausências.

      Entendo que exercícios como lançar um questionamento à turma sobre o porquê de haver tantos capítulos dedicados à Roma e a Grécia e um espaço menor dedicado aos povos originários (pensando que Incas, Maias, Astecas e Tupis-Guaranis são vistos no mesmo capítulo) seja um exemplo de pensar uma "história a contra-pelo" em sala de aula.

      Ou ainda questionar por que estudamos a revolucão francesa (às vezes com mais de um capítulo dedicado a ela) e não estudamos as revoluções americanas com o mesmo afinco (normalmente temos um único capítulo para independências na América Latina).

      Na minha prática tenho acrescentado no meu plano de ensino do nono ano conteúdos da América Latina (revolução cubana, revolução mexicana, revolução sandinista, populismos, etc.), entendo que seja relevante essas discussões para perceberem quão dinâmica é a política e a cultura latino-americana.

      Espero ter respondido.

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  2. Olá Matheus e Juliana, gostei bastante do texto, achei que avançaram legal na teoria ;)
    Minha dúvida é sobre a tabela 1, achei interessante a forma como vocês estão fazendo ciência, o método que estão criando. Minha dúvida é: vocês conseguiram ver se o método não ocultou as menções à América Latina no interior dos capítulos não relacionados? E quando procuraram a expressão "América Latina" procuraram também variáveis como "América do Sul", "latino-americanos", "sul-americanos", "Chile", Argentina",etc..Abç

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Olá. Agradecemos pela leitura e questionamento do nosso texto. Primeiramente, os sinônimos de América Latina fizeram parte da contagem dos dados, pois através da ferramenta do Word que utilizemos, os termos semelhantes na ortografia apareciam para nós no momento da contagem. É o caso de "América do Sul", "latino-americanos" e "sul-americanos”. Nessa segunda tabela, nosso objetivo era verificar se havia menções da América Latina como totalidade e não por países específicos.
      Na primeira tabela, a nossa análise não foi especificamente por capítulo, mas sim por trechos que trazem menção a América Latina dentro de capítulos cujo enfoque específico não é esse. Inclusive, nos livros didáticos que utilizemos, não havia nenhum que trouxesse um capítulo todo sobre América Latina. Por fim, para essa contagem, lemos os livros de forma completa e selecionamos o número de palavras que determinado trecho trazia sobre isso, o que nos leva a crer que não ocultemos menções dentro de capítulos, já que todas as contabilizadas estavam em capítulos que não destinavam-se somente aos latino-americanos.

      Abçs.

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  3. Ótimo texto! O falso protagonismo da Europa na história mundial é uma construção racista e estrutural. Para que tenha essa mudança na Base Nacional Comum Curricular temos que, primeiramente, preparar os educadores formados e os que estão em formação, uma vez que o quadripartismo histórico ainda se faz presente na grade curricular do ensino superior. Como seria o processo de mudança e implementação? E apresenta algum risco para a organização ideológica e política?

    Ana Beatriz da Silva Pinheiro

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    1. Agradecemos ao elogio e a leitura do nosso texto.

      Sua pergunta é muito difícil de responder, mas nos leva a reflexão necessária para sonharmos com mudanças.

      Começando pelo fim, sim, essa mudança acaba sendo ideológica e política porque mudaria o alinhamento que temos, enquanto sociedade, quanto ao modelo ideal de educação (que hoje repousa sobre os países nórdicos), para dizer o mínimo.

      Entendemos que para romper com o eurocentrismo só se abrindo para outros saberes e produções. Afirmamos isso porque entendemos que a grande maioria de nós, professores, sabemos do eurocentrismo, mas muitas vezes não temos ferramentas (diga-se conhecimento de outras histórias - no nosso caso aqui) para fazer algo diferente do que está posto.

      Com certeza para se fazer esse processo é preciso alterar a própria organização de universidade que temos (há experiências de Pluriversidade - ver Amawtay Wasi) que está fechada a conhecimentos outros que não sejam eurocêntricos, além dos modelos de curso de História que temos (pensando que temos disciplina como Antiga, Medieval ...). Entretanto esse é um processo ideal e que demanda tempo e luta (além de chegar pouco naqueles professores que já estão em sala de aula e sem contato com a Universidade), além de continuar eurocêntrico no sentido de manter a universidade como "fonte de conhecimento".

      Acreditamos que a forma mais interessante seria a troca de experiências entre professores e comunidade escolar, a partir de projetos ou leituras que mobiilzassem a discussão do eurocentrismo e que trouxessem histórias outras que não dos gregos, franceses, ingleses, alemães, etc.

      Pedimos desculpas ela extensão e também por possíveis contradições, mas é que a pergunta é realmente muito boa e nos coloca a pensar sobre nossa prática cotidiana.

      Matheus Mendanha Cruz

      Juliana Aparecida Nunes

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  4. Matheus e Juliana, parabéns pelo texto muito interessante sobre um tema que necessita de mais propagação. Fico feliz em saber, também, que a Universidade Estadual de Ponta Grossa possui um grupo sobre Didática da História, deve trazer contribuições interessantes.
    Como mencionado, o eurocentrismo possui importante impacto para nossa sociedade. Meu questionamento visa contribuir ao seu trabalho ao trazer um outro olhar ao problema. Quando eu ainda estava no início da pesquisa que, mais tarde, originaria meu TCG intitulado "Fundamentos da História do Livro Didático de História no Brasil", utilizava, em minha argumentação, uma crítica ao elemento livro didático em si, o percebendo como a principal força motriz na permanência de visões ultrapassadas sobre o passado.
    Porém, mais tarde, algumas leituras, em especial a tese de Kazumi Munakata, me permitiram rever minha visão sobre o livro didático, ao demonstrar a produção deste material sobre o aspecto dos autores e editores. Dentre as coisas que percebi com obras no viés de análise cultural do livro, foi que os autores e os próprios editores também possuem limitação à inovação, à medida em que existem outras demandas sociais ao material. Há alguns meses, conversava com a professora Maria Auxiliadora Schmidt (Dolinha), que comentou que, no passado, fez um livro ótimo sobre o ponto de vista acadêmico. Porém, seria um livro pouco utilizado. Era ótimo no olhar de uma historiadora, mas não para o mercado docente, que possuia professores formados, ainda, sobre outras bases teórico-metodológicas. O desejo era por outro produto, não o que nós historiadores estaríamos oferecendo. Neste sentido, convido à reflexão:
    1-Vocês escolheram os livros mais adquiridos pelos docentes, e que mais o agradaram. Como verificar se estes problemas identificados não sejam, exatamente, elementos que tornam este livro preferido entre o corpo docente, à medida que reproduz a visão de História que os professores tiveram acesso?
    2-O Estado estaria disposto a providenciar formação continuada ao seu quadro docente sobre este tema, considerando que a formação docente continuada de qualidade tem sido negligenciada dentro do ambiente educacional? Caso vocês considerem que isto dificilmente acontecerá, que mecanismos poderíamos utilizar para evitar que esta obrigatoriedade através da BNCC não cause efeitos prejudiciais ao ensino, subjugando o professor à abordagem de uma história sobre a qual não possui formação, retornando a um modelo tradicional de ensino?
    Um abraço, continuem com o ótimo trabalho!
    rafaelfiedorukquinzani@gmail.com
    Rafael Fiedoruk Quinzani

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    1. Agradecemos a leitura do texto e o comentário. Quanto ao Grupo de Estudos deixo aqui um link para que possa acessar a produção (não está muito atualizado porque estamos passando por mudanças, mas tem bastante coisa do que foi produzido).

      http://gedhiblog.blogspot.com/p/jovens-e-historia-no-mercosul.html

      Entendemos que sim, o livro didático como produto influenciado por uma série de fatores, passando por abordagens, até pela dinâmica capitalista que envolve o mercado editorial de livros didáticos. Desta forma vemos o livro como um indicador para estudar quem o produz. Nosso objetivo era perceber que tipo de material tem chegado aos estudantes, até devido ao limite do texto aqui.

      Concordamos que pode ser considerado como hipótese para escolha desse material a "segurança" da mesma abordagem com a qual o docente já está acostumado. Isso pode ocorrer por vários motivos, por acomodação, por exemplo, mas também pelo fato do professor ter que trabalhar com tantas aulas que acaba por não ter tempo (nem cabeça) para buscar novas leituras e abordagens.

      Me parece que, de alguma forma existe uma distância grande entre academia e docentes da educação básica. Digo isso devido à frases como "... mercado docente, que possuia professores formados, ainda, sobre outras bases teórico-metodológicas". Não entendemos que a academia seja tão revolucionária assim e que haja na graduação e pós um rompimento com o eurocentrismo (basta vê que ainda temos as disciplinas de Antiga, Medieval, etc...) e que não temos disciplinas que se dediquem a história dos povos originários e as dinâmicas políticas latino-americanas (normalnte são vistos em História da América, mas de forma bastante simplista e superficial). Além da ausência desses conteúdos na academia há também a supremacia da literatura europeia, dificilmente lê-se (falando sem uma pesquisa aprofundada) autores africanos ou mesmo indígenas e latino-americanos.

      Quanto ao ponto 1, pesquisas qualitativa (como tem sido feito pelo LAPEDUH) e quantitativas (como tem sido feito pelo Gedhi) podem com metodologias diferentes ajduar a pensar panoramas e respostas.

      Quanto à questão 2, creio que o comentários que fizemos na pergunta da colega acima posssa escolarecer nosso posicionamento sobre. Mas em resumo seria trabalhar a partir de diálogos - não concordamos que uma ordem de cima para baixo, como é feito para aplicação de programas educacionais do governo funcione, pois não permite diálogo e sem diálogo não há transformação da parte dos docentes (o documento vira letra morta).

      Esperamos ter respondido e colaborado com a discussão.



      Matheus Mendanha Cruz

      Juliana Aparecida Nunes

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