HISTÓRIA-MEMÓRIA, NACIONALISMO, ENSINO DE HISTÓRIA E HISTÓRIA PÚBLICA: REALIDADES E INTERFACES COMPARATIVAS BRASIL-EUA
Não é novidade para ninguém que a
institucionalização do Ensino de História deu-se pelo fim do século XVIII e
princípio do XIX [a Universidade de Berlim é de 1810] e que há consenso de que
a disciplina História serviu à constituição dos Estados-Nação europeus, fato do
qual se desdobrou, durante muito tempo, a ideia de que a disciplina histórica
servia para ensinar um recitativo sobre o todo sócio comunitário – tornado
“nação” – cujos laços sociais de um tempo de obediência monárquica deveriam ser
substituídos por outros. A História ensinaria saber ser cidadão republicano.
Não é novidade também que a recém-disciplina
História era importante para “formar cidadãos” a fim de aprender a lidar com um
mundo modificado pelas burguesias nacionais, que destronaram as monarquias
absolutas. Ainda hoje, tem-se uma noção – muito forte entre o senso comum – de
que a história serve para ensinar a nação, cujo ensino gerou longa tradição de
aprender – normalmente pela decoreba – nomes de personagens e feitos alçados à
condição de glórias e passado a serem exaltados constantemente para se formar,
e firmar, laços de pertencimento a uma comunidade de valores e significados.
Ernst Renan, em 1882, em sua famosa conferência O que uma nação, dizia
que ela é um plebiscito diário, em que constantemente se reiterava, em várias
instâncias, o passado em comum nacional e, para isso, duas das mais importantes
instâncias eram a escola e o livro didático. Não diferente de países matrizes
em que a História se institucionalizou primeiro, à História disciplina no
Brasil acabou cabendo, também, uma função nacionalista de ensinar o Brasil aos
brasileiros em vista da criação de laços de pertença, uma cultura comum e um
passado de glórias. A história ensinaria, para se constituir como disciplina
acadêmica, a nação brasileira - mesmo que não-republicana - em busca de uma
identidade após a Independência em 1822. O IHGB e o Colégio Pedro II foram o
primeiro ensaio da elaboração de uma nação, mesmo que governada por um rei
português.
Mesmo sendo esta uma apreciação razoavelmente
aceita, nem sempre sua consequência de formar “cidadãos obedientes nacionais”
deve ser admitida sem questionamentos. Nem mesmo na história de um país como os
Estados Unidos, em que a primeira reação de muitos leitores de qualquer parte
do mundo é aderir automaticamente à ideia de que o nacionalismo é o que permeia
o ensino de História na escola americana, e que é na escola onde os americanos
aprendem um conhecimento do passado que os sujeita a um inculcamento a fim de
reforçar o nacionalismo.
Há bastante controvérsia neste aspecto e a análise
comparativa com a realidade dos Estados Unidos pode ser enriquecedora do debate
nacional brasileiro sobre o Ensino de História. Se tomamos, claro, os alunos
como “públicos de história” e estendermos a convicção de que a história que
eles aprendem e que não aprendem só na escola - então há analogias reveladoras
que podem nuançar o debate, a fim de problematizar o nacionalismo quase que
automaticamente associado ao Ensino de História. Quem pensa assim tem suas
razões, se vermos, por exemplo, boa parte do cinema americano, o qual reafirma
o nacionalismo daquele país em filmes de exaltação da força, do poderio e do
sentido de pátria.
Tão admitido como indiscutível, o tema é, no
entanto, passível de problematização.
Ao debater com o historiador público americano
David Glassberg [1997] sobre a natureza das apropriações das mensagens
históricas transformadas pela memória coletiva em História, Michael Kammen
afirma sobre os usos do passado pelos americanos e pelos demais povos: “Nacionalismo, e num grau menor, o Estado-Nação, continua
a moldar a memória coletiva de várias maneiras, de modos potentes, uma
tendência que eu acredito persistirá por um longo tempo.” [Kammen, 1997,
p.51 – tradução nossa]
No Brasil, a pesquisa sobre o Ensino de História já
questionou o raciocínio direto Ensino de História igual nação/nacionalismo.
Fonseca [2011] analisa a pesquisa sobre o Ensino de História no país. E, depois
de criticar uma Sociologia dos Saberes Escolares, ela parte para informar a
importância da História Cultural na pesquisa sobre a história do ensino de
História no país. Segundo a autora, durante muito tempo as pesquisas focavam
numa sociologia algo teleológica, que investigava currículos, modos de
avaliação, regramentos pedagógicos, modalidades de aula, organização do tempo
escolar, os objetivos instituídos pelos cientistas à história etc; como
documentos pelos quais se concluía a feição do [a] aluno [a] que era formado.
Fonseca [idem, p.31] avalia que a grande contribuição da História
Cultural à pesquisa sobre o Ensino de História foi a de indicar que, para se
saber qual aluno [a] seria formado [a], era preciso pesquisar diretamente o [a]
aluno [a] formado [a], que aprendeu a matéria escolar na escola. E não supor
que equipamentos documentais instituídos nacionalistamente iriam, com certeza,
acionar a formação de um [a] aluno [a] que exalta as glórias do país, como
estaria prescrito. Entre o postulado daquela Sociologia dos Saberes Escolares e
o postulado da Educação Cultural - de que há apropriações mediadas de valores,
visões de mundo, significados e vidas próprias - existem polêmicas,
controvérsias e debate.
A seguir o raciocínio de Fonseca [idem], há
dispositivos do processo comunicativo-educacional que agem sem que,
imediatamente, possamos imaginar que o prescrito nos “documentos ministeriais”
seja o que vai acionar a formação do [a] aluno [a] e fazê-lo [a] tal qual
estava prescrito para ele [a] vir a ser. Em outros termos, a História Cultural
enriqueceria o debate e problematizaria a questão, uma vez que, para se saber
no que o [a] aluno [a] se tornaria após sua formação, o principal seria
pesquisá-lo e não preconcebê-lo.
Comparativamente, é importante ouvir o que autores
americanos preocupados com o tema do aprendizado – e dos locais de aprendizado
de História - fazem sobre um suposto nacionalismo impregnado na história
escolar nos Estados Unidos, onde o nacionalismo permearia tudo e o Ensino de
História seria a manifestação explícita de uma função intrínseca da formação
histórica como formação para exaltação/adoração da pátria.
Descrevendo sua pesquisa feita diretamente com
públicos americanos, Roy Rosenzweig [2006] problematiza a questão do
nacionalismo americano impregnado no ensino de história, seja em que instância
for.
Os públicos entrevistados por Rosenzweig, um
historiador público e acadêmico americano, chegam mesmo a dizer que a história
na escola é “boring” [chata], e que foram mais formados em história pelo filme,
no museu, em centros de memória, por meio de mídias em geral. Pesquisando como
americanos usam seu passado – constatando o fato de que os americanos valorizam
uma história pessoal e familiar e acreditam que o passado ensina para o
presente - Roy Rosenzweig injeta na controvérsia as informações sobre qual
e como é a história que americanos manifestam ter aprendido e quando, e
onde, aprenderam história. Não existe pesquisa suficiente para se chegar à
conclusão definitiva, mas a problematização do autor é suficiente para não
adotarmos um raciocínio automático, imediato e apressado.
Em meio a afirmações sobre uma pretensa convicção
de que há, de fato, forte e “profunda vinculação para a
memória coletiva com a identidade nacional [americana]” – premissa aparentemente
indiscutível que nenhum de nós, não-americanos, recusaríamos - Roy Rosenzweig
problematiza a afirmação de cunho nacionalista no Ensino de História nos
Estados Unidos a partir de pesquisa que fez, por telefone, junto a públicos consumidores de história,
investigando a manifestação da história na cultura pública histórica e política
americana. O autor fez grande pesquisa, em colaboração com o colega David
Thelem, nos anos 1990, entrevistando cerca de 1.500 americanos para
perguntá-los sobre suas visões de passado, pesquisa do qual resultou o livro A
Presença do Passado: Usos público de história na vida americana, publicado
pela primeira vez em 1998.
O historiador Rosenzweig discute com o historiador
Tristran Hunt sobre a qualidade da História feita para televisão na
Grã-Bretanha. Hunt lamenta que, na televisão britânica daquele momento
histórico, o padrão de história televisiva que predominara durante muito tempo
na Grã-Bretanha - baseado numa “[...] história organizacional e ideológica do
movimento operário, e sobretudo todo o movimento operário marxista” [Hunt apud
Rosenzweig, 2006, p.861 – tradução nossa] – havia sido esvaziado para uma
história conservadora do tipo “orientada em torno da biografia, batalhas e
dramas narrativos rápidos”.
Ante a dicotomia posta por Hunt, Rosenzweig se
dispõe a problematizá-la a partir de sua pesquisa. Diz Rosenzweig: “Pelo menos,
às vezes, Hunt parece pôr os problemas diante de nós como uma ou outra
situação. Ele contrasta uma história social preocupada com ‘questões
fundamentais de estrutura’ com uma história popular dominada por ‘biografias,
batalhas e dramas altamente políticos’. A escolha parece ser entre versões
populares de Hobsbawm e Thompson, por um lado, e Treeveland e Namier, por outro
lado” [idem, p.862 – tradução nossa]
E, argumentando que a tendência dele era a de negar
quaisquer uma das duas visões, Rosenzweig entendia que “a maioria [dos
americanos entrevistados] aderia ao passado por várias diferentes razões dos
profissionais historiadores, sejam historiadores sociais marxistas ou
historiadores políticos conservadores” [idem, p. 863 – tradução nossa].
O passado familiar e pessoal era o que mais conectava os americanos com o
passado, e qual o passado lhes era mais importante. Da amostra da pesquisa, apenas
22% associavam o passado aos Estados Unidos, sendo que 2/3 associavam o passado
à história de sua família.
Nosso texto não tem o fim de negar, em qualquer
realidade nacional que seja, a incidência da mediação nacionalista no Ensino de
História – mas cogitar que o ensino pode portar significações imprevistas que
requerem outros métodos de análise, uma vez que a comunicação professores e
alunos [as] não deve ser ligada automaticamente a inculcação de um sentido
nacionalista/reacionário conservador ou a outro sentido estruturalista
reformador/revolucionário.
Em outro texto, o autor David Glassberg [1997,
p.70] – também um historiador público e acadêmico - estuda “o papel que
historiadores públicos podem desempenhar em moldar o futuro dos estudos de
memória”, oferecendo categorias de análise para o papel de professores durante
seu ensino, ponderando sobre os efeitos das memórias coletivas como mediadoras
do conhecimento histórico aprendido em aulas e mesmo em várias instâncias em
que a história é ensinada/aprendida.
O autor analisa os modos de apropriação e
conferência de significado do passado por públicos, alegando que para todos os
estudos intelectuais recentes sobre memória, “nós ainda não sabemos quase nada
sobre como práticas de memória variam por raça, classe, gênero, região ou por
nação” [idem, p.71 – tradução nossa]. Não é que o autor despreze a
provável importância da história do Estado-Nação americana na moldagem da
apropriação pública da história – e, assim, o caráter de reforço do nacionalismo
de uma cultura pública americana para o que o aprendizado de História – não
necessariamente na escola – age como um forte fator de atuação. “Nem todos [os
intelectuais] tratam abertamente sobre a história nacional, mas talvez, como
muitos outros creem, um senso de identidade nacional e história para a maioria
dos americanos é tão convincente e profundamente assentado que nem precisa ser
mencionado e apenas aflora quando desafiado”. [Glassberg, 1997, p.72]
Então, sem desprezar o fator nacionalizante, como
contribuição ao debate Glassberg adverte que aquele passado familiar e pessoal
apontado na pesquisa de Rosenzweig pode estar dizendo de alguns aspectos em que
a pesquisa em Ensino de História não se baseia em suas análises. Aspectos, por
exemplo, de como se formam as memórias coletivas.
Porque: “Reconhecer os usos pessoais do passado
pode ser especialmente difícil para historiadores profissionais, porque, como
parte de formação pós-graduada, nós fomos ensinados a deixar de lado nosso
vínculo a uma versão particular do passado de um modo a nos tornar
profissionais, assim como nós fomos ensinados, quando entrar no mercado de
emprego nacional, a desprezar nosso vínculo a um lugar particular. Nós somos
treinados a deixar de lado a comunicação dos aspectos emocionais de história
que vêm cuidadosamente tratados por romancistas e filmmakers com passados e
lugares particulares, e deixar de lado a análise de sentimentos de orgulho,
raiva e perda que acompanham reflexões de psicólogos sobre o passado pessoal” [idem,
p.71 – tradução nossa].
Em outro texto, agora em 1996, o mesmo Glassberg
refere-se mais agudamente ainda ao papel e à interação do par história-memória.
“O que historiadores falam quando eles falam sobre memória? A profusão de
termos – memória coletiva, memória popular, memória pública, contra memória –
sugere que memória requer mais definição como um campo de estudo” [1996, p.8 –
tradução nossa]. Analisando numa perspectiva de História Pública, combinada a
análises que fazem pesquisadores acadêmicos do Ensino de História, Glassberg
rejeita uma convicção indiscutível de que mensagens emitidas a públicos
diversos – no caso o público de estudantes escolares – vão receber um
tratamento de antemão sabido, e formar o [a] aluno [a] no sentido de fazê-lo
como está prescrito, institucionalmente, para ser feito. Uma outra abordagem
precisaria prever “a intelectualidade profissional
histórica não como o único pensamento sobre história, mas um entre várias
versões do passado competindo por influência sobre públicos em tempos e lugares
particulares”. [idem, p.10 – tradução nossa]. Para o autor, “[...]
novas abordagens enfatizam os muitos diferentes significados públicos que
derivam da mesma representação histórica. O significado de um livro, filme ou
exibição histórica não é intrínseco, determinado isoladamente pela intenção do
autor, mas muda à medida que públicos ativamente reinterpretam o que eles veem
e escutam, colocando-os em contextos alternativos derivados de suas origens
sociais diversas” [idem, p.12 – tradução nossa]
A atitude intelectual analítica de David Glassberg
propõe uma análise combinada dos estudos de História Acadêmica e de História
Pública. É preciso tomar alunos [as] como públicos receptores, e aceitar que as
pesquisas sobre “o que ensinamos e o que é aprendido de fato” não são
concludentes. Até mesmo o aspecto da onipresença e da certeza da afirmação de
uma cultura nacional por meio do ensino de História e de outros
equipamentos/instâncias que ensinam o passado, nem elas devem ser dadas como
líquidas e certas.
Cremos, aqui, que uma análise comparativa de
realidades do Ensino de História como no Brasil e nos Estados Unidos - um país
de forte cultura pública sabidamente nacional - uma análise comparativa pode
ajudar-nos a por em questão e abrir a pesquisa mais ainda, a fim de irmos a
pontos de problematizações que, durante muito tempo, estiveram fechados e que
prescreviam não só o receituário do “pra que serve a história”, assim como o
papel que, para a boa execução deste receituário, era exercido pelo ensino de
História. Queremos com este texto abrir mais este debate, numa situação em que
até o momento nenhuma resposta precisa e unânime sobre o “pra que serve a
história” – e seu ensino – foi devidamente dada.
Referências
Bruno Flávio Lontra Fagundes é doutor em História
[UFMG], professor adjunto da Universidade Estadual do Paraná [UNESPAR – campus
de Campo Mourão], docente e coordenador do Mestrado Profissional em Ensino de
História [PROFHISTÓRIA], e docente do Programa de Pós-Graduação em História Pública
[PPGHP] da mesma instituição.
FONSECA, Thais Nivea de Lima e. História & Ensino de História. 3ª
ed. Belo Horizonte [MG]; Editora Autêntica, 2011. [livro]
GLASSBERG, David. História
Pública e o Estudo de Memória. [Public History and the Study of Memory – tradução nossa]. The Public Historian, vol. 18, n. 2, p.7-23, 1996. [artigo]
______ . Um senso de História, [A SENSE OF History
- tradução nossa]. The Public Historian, v.19,
n.2, p.69-72, 1997. [artigo]
KAMMEN, Michel. Public History and the uses of memory.
The Public Historian, vol.19, n.2, p.49-52, 1997. [artigo]
ROSENZWEIG, Roy. Historians
and Audiences: Comment on Tristram Hunt and Geoffrey Timmins. [Historiadores
e audiências: comentários a Tristram Hunt e Geoffrey Timmins – tradução nossa] Journal of Social History, vol. 39,
n.3, p. 859-864, 2006. [artigo]
ROSENZWEIG, Roy; THELEM,
David. The presence of the past.
Popular Uses of history in American Life. [A presença do passado. Usos populares de história
na vida americana – tradução nossa]. Nova York [USA]: Columbia University
Press, 1998. [livro]
Olá professor Bruno. O professor aponta de acordo com o raciocínio de Fonseca que há dispositivos do processo comunicativo-educacional que agem sem que, imediatamente, possamos imaginar que o prescrito nos “documentos ministeriais” seja o que vai acionar a formação do [a] aluno [a] e fazê-lo [a] tal qual estava prescrito para ele [a] vir a ser. É Muito interessante esse caminho, pois, de certa forma tira das costa do professor o sucesso ou insucesso do aluno, já que se deve a um conjunto de outros fatores. No entanto o que me questiono é como deveria o professor da Rede estadual lidar com esse impasse, diante das intensas cobranças que sofremos inclusive com os resultados das avaliações internas e externas. Por exemplo, agora além da Prova Brasil e o Saeb, temos o Saep e 4 edições da Prova Paraná ao ano.
ResponderExcluirAtenciosamente Janaina Piron Branco
Janaína, com certeza. O ministério quer uma PROVA de que os efeitos POSITIVOS do ensino sejam fáceis de destacar. Isso o Ensino Superior passa também. Este é o risco de nossa profissão, a depender do ministro ou das autoridades educativas. Se a universidade e a Rede Básica conseguirem passar os alunos e dar a entender que todos (ou a maior parte) estão bem, está resolvido. O problema é quando alguém quer IMPOR QUE PRA SABER HISTÓRIA TEM DE saber cantar o hino nacional e atacar a ideologia de gênero, por exemplo. Aí fica difícil. A gente finge que faz isso.
ExcluirJanaína, sim, de acordo com Thais Fonseca, saber se a gente ensinou mesmo só pesquisando o aluno.. acho que o importante é ser honesto, trabalhar com o passado, na hora da aula de história, sendo prof de História. Quem há de negar que não é História? Agora, com este monte de teste que a Rede Básica sofre, é preciso saber que estes testes são feitos para realidades que nem sempre são as nossas, e há uma tendência geral a padronizar todos os alunos a uma mesma coisa. Hoje nós temos convicção que o decoreba de nomes de pessoas e feitos significativos já era, não serve mais, embora muitas pessoas na opinião pública achem que história só serve para isso. Mas volta à pergunta: "pra que serve a história?" ... para ensinar algo, certamente .. mas pense no seu produto. Tem ali ensino só? ou tem diversão, alegria, entretenimento, arte, envolvimento? Cada um tem sua relação com o passado, e TODOS NÓS somos treinados a desprezar o afeto na história e ensinados que devemos ensinar a ser CRÍTICOS e que a história só trata de MEMÓRIAS COLETIVAS... E isso depende de governos, sabia? De um tipo de Estado que quer uma determinada relação com o passado que a escola ensine. Vc consegue imaginar se alguém do ministério chegue na sua aula e veja que vc está ensinando o aluno a ser crítico e ensinando a memória coletiva? Alguém do ministério ia dizer que vc "não está ensinando história". Em outras palavras: todos estes testes são instrumentos de controle da escola
ExcluirOlá professor, muito bacana seus posicionamentos. Com certeza conseguiu descrever bem a realidade da Educação Básica no momento. Acho muito triste que a educação tenha se tornado isso, pois esses mecanismos de controle acabam impedindo o avanço da mesma. Mas... sigo sob sua orientação em uma proposta que realmente não pretende só ensinar história. Parabéns professor por seu trabalho e principalmente por tudo que faz pelo Prof História, um programa que tem mudado a vida de muitos professores da Educação básica e que tem possibilitado mudanças significativas em nossas relações escolares.
ExcluirJanaina Piron Branco.
Janaína, quem deve agradecer somos nós. Bom saber que há um mútuo reconhecimento da necessidade do outro. Vcs precisam da universidade, assim como a universidade precisa de vcs. Obrigado nós pela confiança depositada
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaro Bruno, Olá! Penso que as emoções e suas ligações com a memória acabam por criar uma senciência, presente fortemente em nosso cotidiano, e partir disso uma 'moralidade' que orientam as carências de compreensão. Salvo melhor juízo, o método historiográfico busca controlar "a emoção" como um constitutivo da escrita histórica. Dessa forma, olhamos para essa 'moralização' ou construímos uma história pública que supere o ufanismo o mito nacional? Obrigado pelo texto!
ResponderExcluirAbcs
Everton Carlos Crema
Caro Everton, obrigado pela questão. A história é talvez o mais social dos conhecimentos. O que a profissionalização da história fez foi afastar-se dos públicos, afinal estes públicos - como os historiadores - também criam histórias. O historiador cria a sua história - cientifica e metodologicamente orientada - mas não pode, salvo melhor juízo, pretender que ela seja única. No meu modo de ver, há um senciência do que o historiador faz, insciência do modo como o historiador faz, mas não uma senciência total: cada um dos públicos também criam/têm suas histórias, sendo importante para a ciência histórica procurar saber como elas são criadas, sem identificar nisso uma insciência, uma ignorância, ideologia ou desconhecimento. O passado é material que não é exclusivo do historiador! Somos treinados a deixar de lado o emocional, o afetivo, o que não atrai para a história. E somos treinados a olhar com desdém para as tentativas de nos aproximarmos dos públicos sem sermos paternais, querendo levar o conhecimento "que se deve ter" para acabarmos com a moralização. Por fim, a meu ver, prezado Everton - para não ficarmos eternamente reclamando dos inscientes que fazem história por aí e que são muito mais escutados e lidos do que nós, e nem ignorando o que outras pessoas fazem/pensam/criam - acho que nisso tudo há uma questão de legitimidade, de legitimação. Aprendemos que basta a legitimação de nossos pares, e esquecemos dos outros que são não-historiadores. Um movimento em direção a outros públicos, que escrevem história moral, história "errada", "ideológica" - seja lá como chamarmos, não requer só desdém ou mesmo denúncia, acho que, antes de tudo, precisamos nos legitimar junto a estes públicos outros, de quem, na história, nos afastamos muito. Não somos só nós, os historiadores profissionais, que criamos uma história - disciplinarizada - que deve ser conhecida, mas também os não-treinados criam. O passado não é exclusividade nossa, gostemos ou não. Se fizermos isso, se tentarmos nos aproximar, esvaziando de um juízo moral ou alienante de que os públicos fazem/criam história - acho que podemos conquistar uma legitimação a ponto de sermos, pelo menos, escutados, quiçá entendidos. Ninguém se aproxima dos complexos processos de conhecimento do passado, como fazemos, seria exigir muito de pessoas não treinadas"! Mas o passado - a matéria de que a história profissional cria seus sentidos - o passado continua sendo, independente de nós, apropriado de várias maneiras pelos não-treinados. Se não houver alguma ligação emocional, ou afetiva, os não-treinados não irão nunca se aproximar do passado, e muito menos da história profissional. Mesmo nós, profissionais, muitas vezes, aproximamo-nos do passado por obrigação profissional. Outros que não têm esta obrigação, precisam de outros fatores de aproximação. A meu ver, não quero denunciar imediatamente o que outros fazem com o passado - tirando, claro, aqueles que o fazem de ma-fé - mas pleiteio que devemos começar a entender como pessoas comuns criam suas histórias, e no mínimo aceitá-las como histórias de valor. Uma vez valorizando o outro, poderemos, quem sabe?, sermos valorizados. Aprendemos a prestigiar uma cultura de negação e da denúncia - será para isto que serve a história - que nos afasta muito de públicos em geral. Obrigado Everton pela questão
ResponderExcluir