ENSINO DE HISTÓRIA
E LITERATURA: ENTRELAÇANDO SABERES
Inicio este
texto com uma citação do professor italiano Nuccio Ordine que, apropriadamente,
encerra o que entendo ser importante quando pensamos sobre o conhecimento, em
especial, conhecimento acadêmico. Ordine diz que “somente o saber, ao desafiar
os paradigmas dominantes do lucro, pode ser compartilhado sem empobrecer quem o
transmite e quem o recebe.” [Ordine, 2016, p. 147]
Em “A
utilidade do inútil: um manifesto”, Ordine avalia que a Educação, em tempos
atuais, vem sendo pautada pelo utilitarismo e pelo que dita o mercado. Nessa
perspectiva, os conhecimentos inúteis deveriam ficar fora dos currículos.
Assim, mediante essa lógica, saberes como
a filosofia, a literatura, a arte e a história não teriam utilidade imediata
alguma, portanto seriam descartáveis. Esse é um debate muito presente na área
da Educação e as áreas do saber que se enquadram na “inutilidade” precisam
constantemente se reafirmar para garantir seu lugar no mundo escolar.
Este artigo
se propõe a analisar possibilidades de entrelaçar saberes do campo do “inútil”:
a História e a Literatura. Essa análise partirá de bibliografia produzida sobre
o tema e também de práticas desenvolvidas em sala de aula pela autora nos últimos
anos. Essas práticas, desenvolvidas por meio de projetos de ensino no âmbito do
IFRS – Campus Farroupilha, foram
planejadas tendo em vista a necessidade de priorizar conhecimento histórico
significativo, por meio de ações interdisciplinares. Percebe-se também que
estratégias e metodologias de ensino que se assentam somente em práticas
tradicionais, podem, muitas vezes, não fomentar o aprendizado significativo em
discentes do Ensino Básico, em especial, no caso aqui analisado, de Ensino
Médio. Não se trata de transformar o espaço da sala de aula em território
teatral, em que o professor precisa ser um showman
ou showoman! No entanto, perece-me
muito produtivo que o professor de História utilize fontes diversas para
fomentar o aprendizado histórico.
Assim, neste
texto serão destacadas possibilidades de relacionar o conhecimento histórico
com a literatura a partir de uma concepção interdisciplinar de ensino com
estratégias desenvolvidas com alunos do Ensino Médio Integrado em um curso de
informática do IFRS Campus
Farroupilha.
História e Literatura
Desde o
surgimento da Escola dos Annalles que o campo da pesquisa histórica vem
alargando seu conjunto de temas e de fontes. Nesse sentido, a Literatura, desde muito cedo, é fonte
utilizada para a constrtução da narrativa histórica. Do mesmo modo, a
Literatura também buscou na História inspiração para suas obras. Claro está que
História e Literatura se aproximam, apesar de serem campos distintos. A
diferença principal reside no fato de que a segunda não tem compromisso com a
verdade, ponto que não deve ser abandonado quando nos referimos ao texto
histórico. Nesse sentido, Bomeny, ao discutir a narrativa como algo comum aos
dois campos de saber, diz que “História
e ficção são semelhantes na medida em que são stories e narrativas de eventos e ações. Mas, para a História,
tanto a estrutura da narrativa como seus detalhes são representações da
realidade passada.” [Bomeny, 1990, p. 89]
Se hoje
conseguimos estabelecer a fronteira, mesmo que às vezes borradas, entre o texto
histórico e o ficcional, vários estudiosos apontam que nem sempre isso foi
assim. Esse é o caso do historiador francês Jules Michelet [1798-1874], que, no
século XIX, “buscara enveredar pelas sendas híbridas que o reconciliaram com a
arte, recusando a linha da história fatual que lhe parecia árida e comprometida
com o poder.” [Cerdeira, 2018, p. 27] Por outro lado, a autora diz que “se a
História tende assim para o literário, não é menos evidente que a ficção, de
modo geral, sonhe penetrar nos domínios seguros da verdade histórica” [idem].
Em alguns
casos, a Literatura faz o papel da História, a narrada, dando voz aos excluídos
de discursos oficiais e de uma historiografia mais tradicional, ainda afeita
aos grandes personagens e/ou leituras totalizantes, que destina pouco espaço
aos “de baixo”. Um exemplo, dentre tantos que podemos citar, é o do escritor
português José Saramago. De sua vasta obra, muitos romances podem ser
considerados históricos. Conforme Oliveira Neto, a “nouvelle histoire [teve] influência sobre o universo criativo de
Saramago pelo contato que sua ficção assume com o discurso de revisitação da
história pelo olhar dos que dela foram excluídos.” [Oliveira Neto, 2018, p. 22]
No Brasil, a
pesquisa histórica com base em fontes literárias, de acordo com Ferreira
[2017], levou um pouco mais de tempo para se desenvolver, a despeito das
pesquisas históricas em vários países europeus, que desde os anos 1970, faziam
uso da Literatura.
“No Brasil,
a importância da literatura na pesquisa das ciências humanas, sobretudo na
Sociologia, já vinha também sendo debatida por muitos intelectuais, entre eles,
Antonio Candido [...] No entanto, com a exceção de alguns poucos, como Sérgio
Buarque de Holanda e Nelson Werneck Sodré, ela não era objeto especial de
interesse dos historiadores. Isso só ocorreria desde a década de 1980 com as
novas propostas de abordagem da História Social e Cultural, que ganharam relevo
em países da Europa e nos Estados Unidos. A partir de então, essa linha de
estudos tornou-se profusa entre nós, gerando trabalhos relevantes.” [Ferreira,
2017, p. 65]
Um dos mais
expressivos críticos literários e estudiosos da Literatura no Brasil, Antonio
Candido, em sua importante obra “Literatura e Sociedade” analisa como os textos
literários influenciam ou sofrem influência do meio social, não só no enredo
como também na estrutura da escrita. Seus textos são valiosos para aqueles que
se dedicam ao tema e apontam direções preciosas, em especial, para os que se
iniciam nas pesquisa considerando essas suas áreas do saber. Para Antonio
Candido, nunca é demasiado pontuar que, ao se analisar ou estudar determinada
obra literária, o pesquisador deve lembrar que “valores e ideologias contribuem
principalmente para o conteúdo”.
[Candido, 2000, p. 27] O crítico aprofunda sua análise do aspecto
sociológico contido na produção literária, ao tomar como exemplo povos
considerados “primitivos”, ou melhor dizendo, que não compartilham da cultura
ocidental, estudados pela Antropologia. Para ele, a produção literária desses
povos [inclusa a oralidade]
“aparecerá
como algo que só a análise sociológica é capaz de interpretar convenientemente,
pois ela mostra que naquelas sociedades o sentimento estético pode ser
determinado por fatores diferentes dos que condicionam entre nós, ligando-se
estreitamente aos meios de vida, à organização social, e representando uma
nítida sublimação de normas, valores e tradições.” [Candido, 2000, p. 49]
Dessa forma,
um poema de um determinado povo, no pensamento de Antonio Candido, em que
aparece a preocupação com a alimentação, aquilo que nomina de “sacralização do
alimento”, nos fala sobre a importância que a busca pela comida e a manutenção
da vida ocupa no cotidiano de determinado grupo. Isso nos mostra como a
Literatura, nesse caso apoiada pela Antropologia, tem a contribuir com a
compreensão histórica da humanidade. Nesse sentido, um exemplo contundente são
os escritos antigos, veja-se a Ilíada e a Odisseia de Homero.
Na mesma
direção, Allan Megill, em texto intitulado Literatura
e história, argumenta que esses são dois campos distintos, afirma, porém,
que “a literatura e os estudos literários cultivam uma consciência dos aspectos
da experiência humana, particularmente aqueles relacionados à subjetividade e à
identidade” [Megill, 2016, p. 271].
Do que foi
dito até aqui, parece-nos indubitável a validade da relação Literatura e
História na prática da pesquisa. Resta-nos saber se essa mesma validade está
posta nas práticas de ensino, considerando o praticado na Educação Básica.
A Literatura no ensino de História:
concepções interdisciplinares
Ao iniciar o
percurso que relaciona Literatura e ensino de História, cabe considerar que
todo professor deve [ou deveria] ter como premissa de sua ação pedagógica a
pesquisa. Como já mencionado no início desse texto, muito se fala no incremento
das fontes para a pesquisa histórica, em especial após o advento da Escola dos Annales. No entanto, as discussões sobre
o tema nem sempre alcançam a história que é ensinada no Ensino Básico, mesmo
que a maioria dos profissionais da área formados no Brasil sejam licenciados.
As ações
produzidas com turmas de Ensino Médio de um Curso Técncio serviram de base para
as reflexões aqui inscritas. As atividades se desenvolveram em aulas de
História e de outros componentes curriculares envolvidos nos projetos, em
especial, da área de Linguagens, tendo em vista seu caráter interdisciplinar.
Nessas ações utilizou-se, para a concepção do projeto e entendimento das obras,
um dos modelos de análise sociológica da literatura proposto por Antonio
Candido em Literatura e Sociedade [2000]. Para Candido, uma das formas de se
compreender uma obra literária ocorre “pelos estudos que procuram verificar a
medida em que as obras espelham ou representam a sociedade, descrevendo seus
vários aspectos. [...] consistindo basicamente em estabelecer correlações entre
aspectos reais e os que aparecem no livro.” [Candido, 2000, p. 11]
No que tange
aos estudos de Educação, as atividades não se restringiram à leituras isoladas
à área de conhecimento que comumente se associam, pois se fundamenta numa concepção
de educação integral por meio de atividades que são compartilhadas por
diferentes disciplinas. Falemos então, um pouco sobre os estudos a respeito da
interdisciplinaridade.
Conforme
Beatriz Zechlinski, a atual configuração curricular nas escolas, com seus
saberes compartimentalizados com a divisão disciplinar,
“é uma
decorrência da forma de pensar o conhecimento em geral produzido pela Ciência
Moderna, de que para melhor conhecer é necessário dividir e classificar. No
entanto, percebemos que esse método não tem sido capaz de unir novamente as
partes, o que impossibilita a compreensão do todo.” [Zechlinski, 2003, p. 8]
Essa divisão
curricular, por disciplinas, propicia uma visão fragmentada do conhecimento
produzido pela humanidade ao longo dos séculos. Dificilmente, no espaço escolar
[e fora dele também!], há um esforço para relacionar esses saberes, que, em
última análise, fazem parte de um todo. O resultado disso é que, muitas vezes,
“os conteúdos parecem aos alunos algo sem sentido e distante da realidade
cotidiana, o que dificulta o prazer em aprender...” [Zechlinski, 2003, p. 9]
Numa
tentativa de tentar “driblar” essa organização curricular fragmentada, projetos
que invoquem uma metodologia interdisciplinar se configuram em excelente opção aos
docentes e instituições que almejam proporcionar um conhecimento mais ampliado
aos seus alunos.
Destacando o
pensamento do italiano Nuccio Ordine, já aqui mencionado, ao argumentar que,
num mundo contemporâneo, em que se dá excessiva importância à técnica, sendo
que as artes e as ciências humanas, os chamados saberes humanísticos, ficam em
segundo plano, quiçá, em terceiro. Para esse autor, em momentos de crise é
necessário reforçar a importância desses saberes [das ciências humanas e das
artes], pois, “exatamente nos momentos em que a barbárie ganha espaço, a fúria
do fanatismo se volta não somente contra seres humanos mas também contra
bibliotecas e obras de arte, contra monumentos e grandes obras-mestras da
humanidade”. [Ordine, 2016, p. 14]
Diante do
exposto, entendemos que é importante realizar um esforço para trabalhar de
forma cada vez mais integrada, por meio de projetos interdisciplinares, que
priorizem um conhecimento mais global e menos fragmentado, contribuindo para
que a Educação seja mais inclusiva e propicie aos alunos um ensino crítico e de
qualidade. Compreende-se que uma das formas de se perseguir esse objetivo são
práticas mais dinâmicas, sempre pautadas pela pesquisa e pelos saberes
científicos.
A
interdisciplinaridade, como nos confirma José D’Assunção Barros, possibilitou
aos historiadores pensar seus temas, suas fontes e sua escrita, pois “certos
conceitos vindos de diferentes campos artísticos podem ser assimilados pelos
historiadores para integrar o seu repertório conceitula .” [Barros, 2019, p.
112]
Nessa
lógica, as ações que foram propostas aos alunos desvelam essa concepção de
História e de uma educação que se deseja não tão compartimentalizada e que
dialogue com outras áreas do saber. A seguir, a descrição de algumas das atividades
realizadas, considerando a intersecção em História e Literatura.
Século XX nas obras literárias
O mundo
contemporâneo geralmente é conteúdo previsto para a disciplina de História no
último ano do Ensino Médio. Como muitas vezes acontece, pela grande quantidade
de assuntos que devem ser abordados, muitos acabam ficando “de fora”, pelo
tempo que o componente curricular dispõe na grade curricular. E nem vamos aqui
comentar do lugar ocupado pelas disciplinas de Ciências Humanas nos currículos
escolares! Por isso, uma das alternativas encontradas foi a realização de um
seminário de obras literárias que tenham como assunto algum evento ou processo
histórico situado no século XX. A escolha das obras possíveis de serem lidas
pelos alunos prioriza autores latinoamericanos e africanos, ainda que autores
europeus não fiquem fora da lista. Também procurou-se escolher obras escritas
por mulheres. Da lista de autores e obras destaca-se , sobre o contexto
africano, Chimamanda Ngozi Adichie [Hibisco Roxo e Meio sol amarelo]; José
Eduardo Agualusa [Barroco Tropical]; Buchi Emecheta [Cidadã de segunda classe].
Sobre a América Latina algumas das escolham recaíram em Alejandro Zambra
[Formas de voltar para casa]; Isabel Allende [De amor e de sombra]; Fernando
Morais [Olga e Corações Sujos], Maria Pilla [Volto semana que vem]; Bernardo
Kucinski [Você vai voltar para mim e K]. De uma lista de, aproximadamente,
trinta títulos, cada aluno escolhe um e o livro é apresentado na forma de
seminário para todo turma. Apesar de uma certa resistência de alguns alunos,
afinal, “para que ler obras literárias, se a aula é de História!”, o resultado
tem sido muito satisfatório. Após a apresentação das obras, alguns alunos se
interessam pelos livros lidos pelos colegas e acabam lendo outros títulos. Essa
atividade, além de ampliar o conhecimento sobre determinados fatos históricos,
também é uma oportunidade de incentivar a prática da leitura em jovens
estudantes.
Shakespeare revisitado
William
Shakespeare é o autor mais conhecido no mundo ocidental. Suas obras, ainda que
escritas há muito tempo [suas peças surgiram entre 1590 e 1616], discorrem
sobre temas universais e são atemporais. Ler e entender a obra shakespeariana
permite compreender o contexto no qual ela foi produzida, qual seja o do
Renascimento europeu, mas também temas que são inerentes ao Humano. Além disso,
trabalhar com obras de caráter universal e que pertencem ao cânone, é uma forma
de possibilitar a estudantes de Ensino Médio o contato com essa cultura
universal e uma possibilidade de fomentar hábitos de leitura. Pensando nisso,
foram desenvolvidos projetos de ensino a partir da leitura de obras do
dramaturgo inglês, com as obras Hamlet e Otelo. Para isso, se constituiu um
projeto institucional formulado pelas disciplinas de História, Inglês,
Literatura e Filosofia. Os alunos leram edições bilingues e, ao final, tiveram
que produzir uma releitura da peça lida, em paralelo as disciplinas trabalhavam
conteúdos relacionadas a sua área. Para Hamlet, os alunos produziram um roteiro
teatral utilizando a linguagem e plataformas de mídias sociais [Facebook, Twitter, Whatsapp]. Já para a
obra Otelo, os alunos entregaram uma história em quadrinhos [também bilingue],
mantendo o tema e os dilemas apresentados por Shakespeare na obra original,
mudando, no entanto, o contexto histórico em que a história se passava. Para
isso, os discentes tiveram que pesquisar e/ou recorrer aos conteúdos históricos
anteriormente trabalhados.
O Continente de Veríssimo e a história
do Rio Grande do Sul
And last but
not least, apresento um projeto desenvolvido durante o
ano de 2019, a partir da obra O Continente, volume 1, do escritor
sul-rio-grandense Erico Verissimo, produzido em parceria com as áreas de
Geografia, Literatura, Espanhol, além, claro, da História. O Tempo e o vento é
considerado pelos estudiosos a principal obra de Erico Veríssimo que, por sua
vez, é tido como um dos grandes da literatura sul-rio-grandense. Compreender,
ainda que em parte, a obra de Erico Verissimo é essencial para entender um
determinado momento da literatura nacional, não só a regional. Publicado em
três partes [O Continente, O Retrato e O Arquipélago], o
romance foi concebido como uma unidade e preserva as mesmas características
estéticas e formais em seu conjunto, variando apenas as questões temáticas. Em O
Continente prevalece uma visualização mítica da formação do povo gaúcho,
projetada em Pedro Missioneiro, um índio com poderes especiais que prevê sua
própria morte pelos irmãos de Ana Terra, seduzida e grávida. Aquele personagem
é a “fonte” de tudo e o seu enlace com Ana Terra sinaliza a miscigenação entre
o índio e o bandeirante vicentino. Assim como ocorre com as obras de
Shakespeare, mencionadas anteriormente, considera-se que “O Continente” é texto
que pertence ao cânone e também oferece uma enriquecedora experiência de
diálogo com a arte, já que a leitura de clássicos permite, além da análise do
texto em si, que se desenvolva um olhar crítico sobre a realidade, através de
relações estabelecidas pela leitura da obra. A escolha da obra de Verissimo se
justificaria apenas pelo dito acima. Entretanto, “O Tempo e o vento” não é
“apenas” literatura. Trata-se de narrativa literária que se fundamenta em fatos
ocorridos, ou seja, na História. Como afirma Pesavento “se os personagens são
criação do autor e não existiram de fato, a trama se dá em um tempo histórico
do acontecido” [Pesavento, 2006, p. 271]. Esse tempo histórico, no caso do
primeiro livro [O Continente – volume 1] é o da formação do estado do Rio
Grande do Sul, quando o Brasil era ainda colônia de Portugal e esse espaço, o
mais ao sul da Linha do Equador, vivia entre disputas das coroas ibéricas.
Podemos afirmar, inclusive, que o espaço geográfico, com suas cidades
imaginárias, mas não longe do real, também constituem personagens da obra.
Depois da leitura da obra, da discussão acerca dela em diferentes momentos, os
alunos foram instados a elaborar um roteiro e um curta metragem tendo como foco
as personagens principais, ou seja, cada grupo de alunos escolheu um dos
personagens e atualizou sua história para o tempo presente, mantendo suas
características originais.
Haja vista
as ações acima descritas, considera-se que que aliar Literatura e História, e,
se possível, outras áreas do conhecimento, é uma estratégia muito eficaz ao se
trabalhar com alunos do Ensino Médio. A leitura é fundamental para a
compreensão da História ensinada na escola, mas não esclusivamente dela.
Utilizar textos literários para a compreensão do nosso passado, parece ser uma
maneira de perseguir a aprendizagem significativa para nosso alunos.
Referências
Daniela de Campos é professora no
Instituto Federal do Rio Grande do Sul – Campus
Farroupilha. Endereço eletrônico:
daniela.campos@farroupilha.ifrs.edu.br
BARROS, J.D’A.
Interdisciplinaridade na História e em outros campos do saber. Petrópolis:
Vozes, 2019. [livro]
BOMENY, H.
Encontro suspeito: História e Ficção. Dados Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, vol. 33, n. 1, 1990, pp. 83-118. [artigo]
CERDEIRA, T.C.
José Saramago entre a História e a ficção: uma saga de portugueses. Belo
Horizonte: Moinhos, 2018. [livro]
FERREIRA, A.C. A
fonte fecunda. In: PINSKY, C.B. LUCA, T.R. [orgs] O historiador e suas fontes.
São Paulo: Contexto, 2017, p. 61-91. [livro]
MEGILL, A.
Literatura e História. In: MALERBA, Jurandir [org]. História & Narrativa. A
ciência e a arte da escrita histórica. Petrópolis: Vozes, 2016, p. 265-271.
[livro]
CANDIDO, A. C.
Literatura e Sociedade. 8ª. Ed. Publifolha, 2000. [livro]
OLIVEIRA NETO,
P.F. “Nós vivemos dentro de uma possibilidade de ver que é nossa”. In:
CERDEIRA, T.C. José Saramago entre a História e a ficção: uma saga de
portugueses. Belo Horizonte: Moinhos, 2018, p. 17-23. [livro]
ORDINE, N. A
utilidade do inútil: um manifesto. Rio de Janeiro: Zahar, 2016. [livro]
PESAVENTO, S. J.
Erico Veríssimo: encontros e desencontros da ficção com a história. Revista
USP, São Paulo, n. 68, dez/fev 2005-2006, p. 270-273. [artigo]
ZECHLINSKI, B. P.
História e Literatura: questões interdisciplinares. História em Revista, Pelotas, v. 9, dez 2003. [artigo]
Essa metodologia poderia ser aplicada para se trabalhar a questão étnico racial? Obrigada.
ResponderExcluirTelma Almeida da Silva
Telma, claro que sim. Felizmente, hoje temos diversas obras publicadas que dão conta da temática. Em uma das atividades citadas no texto, por exemplo, procuro contemplar literatura africana.
ExcluirBoa noite, primeiramente parabéns pelo trabalho. Sou um grande defensor do uso da literatura como fonte de ensino de história, acreditando que ela torna o aprendizado mais leve e descontraído. Gostaria de saber do por que, na sua opinião, muitos professores se recusam a utilizar a literatura nas salas de aula de História?
ResponderExcluirAbraço.
Júnior Henrique Ott
Olá, Junior. Que bom que também trabalhas com essa metodologia! Acho que todos, professores e alunos, temos a ganhar. Penso que Às vezes a realidade dos professores é muito dura, com sobrecarga de trabalho e falta de estrutura. Talvez esse seja um fator que leve alguns professores a não diversificar sua prática docente. Também pode ser por desconhecimento de algo que não esteja estritamente ligado a sua área de saber. Abraço!
ExcluirObrigado pela resposta, abraço.
ExcluirOlá, Mônica. Penso que depende do texto. A escolha pelas obras, como relatado no texto, esteve relacionada a quanto elas podem ajudar os alunos a entender determinados contextos. Outro ponto que acho que dever ser considerado é a questão da literariedade da obra. O livro da Maria Pila sobre o período da ditadura, de certa forma, é autobiográfico e costumo utilizar nos seminários.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa noite, ao utilizar a historia e a literatura, como uma forma hibrida de historia e ficção, poderá confundir um pouco os alunos do ensino fundamental. Como poderiamos fazer essa dinamica na construção de historia é ciencia e literatura é arte?
ResponderExcluirAngela Pessoa Gomes Correa
Olá, Angela. Me parece que o trabalho realizado de forma interdisciplinar, com apoio dos docentes de Literatura é uma precaução para que isso não ocorra. Ou seja, cada área demarcando suas especificidades para que fique claro aos alunos. O professor de História tem obrigação de explicitar essa diferença e pontuar àquilo que cabe à História. Abraço
ExcluirObrigada pela resposta, professora.
ResponderExcluirDaniela, parabéns pelo texto e pela proposta didática da utilização da literatura como fonte nas aulas de história. Eu faço isso desde 2017, bo ensino fundamental, em especial com os 9 anos, e, é, muito enriquecedor, tanto para nós docentes quanto ao corpo discente. Te pergunto sobre as resistências de ler,e como contorna isso? Ainda, como os estudantes chegam no ensino médio? Claro que como passam por uma prova de seleção pública, no caso do IFRS, devem estar mais acostumados a leitura, mas como avalia a evolução da escrita deles após lerem os livros, quais conceitos argumentativos históricos utilizam para relacionar com os personagens. Abs.
ResponderExcluirOlá, Alysson. O fato de trabalhar num Instituto Federal ajuda, em vários aspectos, e o mais importante deles é que os professores têm mais tempo para planejar as atividades e elaborar projetos conjuntos. Isso deveria ser padrão em todo ensino básico. Sempre há algum tipo de resistência, mas como as atividades são avaliadas e, geralmente, em mais de uma disciplina isso acaba ajudando (a velha ladainha do "vale nota"). Por outro lado, muitos alunos gostam da atividade e acabam lendo mais títulos dos autores escolhidos.
ExcluirJá trabalhei também com literatura no ensino fundamental e deu igualmente certo. Só precisamos avaliar as obras com mais cuidado e pensar no produto final (acho mais difícil o trabalho no Fundamental).
A escrita de fato melhora, mas o mais importante, para mim, é a relação que eles estabelecem com conteúdos históricos trabalhados. Teve um livro que o aluno leu, sobre a ditadura, do Bernardo Kucinsky, que depois a mãe dele me pediu emprestado porque o filho havia comentado com ela. Abraços
Oi Daniela, obrigado pelo retorno. Tenho um artigo aqui no Simpósio sobre a relação do ensino em história pela da pesquisa histórica utilizando a literatura como fonte, aplicado no Ensino Fundamental em Canoas. Poderíamos pensar num trabalho colaborativo no futuro. Em Canoas trabalho bastante com o IFRS. Abraços.
ExcluirOi, Daniela.
ResponderExcluirParabéns pelo texto e pela iniciativa. Gostei bastante.
O interessante de trabalhar com a literatura e oferecer uma visão interdisciplinar para os alunos é que podemos pensar e refletir sobre as representações artísticas produzidas e, ao situá-las historicamente, perceber também as relações que escapam e podem ser discutidas.
Você continua trabalhando com esta metodologia? Se sim, quais outros textos literários que você já trabalhou com seus alunos?
Parabéns novamente, é muito importante refletir sobre as diferentes nuances que a arte se manifesta em nossa vida.
Att.
Gabriela Harumi Araki
Oi, Gabriela. Sigo trabalhando com literatura sim. Este ano queria trabalhar de forma mais contundente com a temática do fascismo, tendo em vista o que se apresentava na política brasileira no início do ano (imagina agora!). Por outro lado, queria fugir de obras já "batidas" sobre o assunto. Acabei optando por trabalhar com O homem do castelo alto, do Philip K. Dick, um romance distópico. A professora de literatura aceitou trabalhar com a obra também e estamos desenvolvendo. Com outra turma a ideia era trabalhar com romances do Luiz Antonio Assis Brasil, que tem muitas obras que contemplam contextos históricos, em especial, do Rio Grande do Sul. Às vezes, o acesso às obras dificulta o trabalho. Por exemplo, gostaria de fazer um projeto de leitura do livro A rainha Ginga do José Eduardo Agualusa. Livro esgotado e que não se encontra nas bibliotecas. Daí, temos que adaptar...
ExcluirAbraço
Boa tarde!
ResponderExcluirPoderia indicar na literatura obras e autores que possam se relacionar com a temática histórica que trata a ditadura que iniciou em 1964 no Brasil?
Olá, Telma. No seminário de obras literárias sempre indico obras que tratam deste contexto, desde mais conhecidas como Batismo de Sangue e O que é isso, companheiro?, como outras não tão divulgadas, como Volto semana que vem ou O amor de Pedro por João. Dois livros do Bernardo Kucinski também são ótimos para trabalhar a temática: K e Você vai voltar para mim. Abraços
ExcluirOlá, Telma! Gostaria de contribuir, se me permite: As meninas, de Lygia Fagundes Telles (romance); O leite em pó da bondade humana, de Haroldo Maranhão (esse é um conto), me parecem opções interessantes para o ensino médio. Há um livro de Regina Dalcastagné, chama-se O Espaço da Dor, bem curto, com análises de romances produzidos no período da ditadura.
ExcluirLarissa Leal Neves
Muito interessante o texto e a proposta estabelecida. Acho fascinante estudar e pensar o uso da literatura no Ensino de História e vice-versa. Meu questionamento com base neste texto é o seguinte: Em que medida a interdisciplinaridade torna-se efetiva no ambiente escolar de educação, ou seja, de que forma essas atividades interdisciplinares ultrapassam a ideia de “aula-oficina” e se conectam diretamente ao ensino de história como um todo? De que forma podemos ‘avaliar’ essas práticas interdisciplinares na formação dos estudantes e professores enquanto sujeitos socioculturais que fazem a História?
ResponderExcluirAgradeço a atenção.
Sandiara Daíse Rosanelli
Texto muito rico em informações. A minha dúvida diz respeito sobre, a questão de utilizar a literatura como fonte para a produção de material didático sobre a história local. Quais as estratégias mais recomendadas?
ResponderExcluirAtt: Evileno Ferreira.
Ola. Meu nome é Cleyton. Primeiramente parabéns pelo artigo. Ele é muito interessante. Muitas vezes pensei em usar a literatura como uma ferramenta a mais no ensino de história, porém poucas vezes consegui colocar algo em prática. Gostaria de saber se você já trabalhou com alguma literatura mais popular em suas aulas de história? E se sim, como foi sua experiência?
ResponderExcluirOlá, Daniela! Gostei bastante das suas propostas. Sou professora de literatura, atualmente pesquisando na área de História, mas buscando andar pela interdisciplinaridade. Como professora, quando trabalhamos com obras que requerem um conhecimento histórico mais aprofundado, procuro o apoio da minha colega da área, que também é uma grande amiga (penso que trabalhar com dedicação exclusiva é uma questão fundamental pra esse tipo de abordagem, não deixando tudo para que o aluno busque "por si", mas orientado-o, de fato), e acredito que essa seja a melhor forma, pois muitas vezes nós sentimos diretamente a carência do conhecimento histórico dos alunos para a compreensão. Vejo que com a reforma do ensino médio , talvez esse acabe se tornando um dos poucos métodos (e de maneira obviamente insatisfatória) que nos restará para não deixar o aluno alijado da história (bem como de sociologia, filosofia, artes), mas, inevitavelmente, cairá tudo nas costas dos professores de Letras. Você teria uma visão mais otimista nesse contexto?
ResponderExcluirLarissa Leal Neves