Eduardo Augusto de Santana


ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: EDUCAÇÃO VOLTADA PARA A PROMOÇÃO DA CIDADANIA ATRAVÉS DO RESGATE E VALORIZAÇÃO DOS LUGARES DE MEMÓRIA



Introdução
Esse trabalho é fruto de pesquisas de campo e documental, desenvolvidas no ano de 2017, a partir de um Trabalho de Conclusão do Ensino do Ensino Fundamental II – TCF junto aos estudantes do EJA IV da Escola Estadual Gilberto Freyre localizada na comunidade do Alto13 de Maio, bairro do Vasco da Gama, em Recife-PE. As pesquisas foram desenvolvidas a partir do levantamento dos bens culturais materiais existentes na localidade. As pesquisas de campo foram realizadas, sob a minha orientação, pelos alunos integrantes do projeto que, por sua vez, também residem naquele bairro. A propósito, foram os estudantes que elencaram os bens culturais de sua comunidade que mereciam maior atenção onde tomarão como parâmetro, para justificar as suas escolhas: as suas próprias vivências, as suas memórias afetivas e os relatos que colheram junto às pessoas mais velhas de sua comunidade. A nossa proposta de trabalho buscou apoio no ensino de história, apoiado na educação patrimonial, como forma fomentar a valorização, a difusão e a reapropriação dos lugares e espaços de memória daquele bairro. Segundo afirmou o Frances Piere Nota [Nora, 1993, p. 21-23] “O espaço, apesar de vivido individualmente pelos sujeitos, vai se configurando num lugar comum, compartilhado, possibilitando uma referência cultural que possa significar o coletivo e não apenas o sujeito individual. O lugar, em sua ampla acepção, depois de significado, pode remeter a uma ou a várias identidades, pode constituir-se num lugar de memória”.

Os bens culturais levantados por nossos estudantes como mais representativos de sua comunidade foram: Clube recreativo 13 do Vasco [datado de meados do século XX era um dos mais conhecidos lugares de esporte e lazer na zona norte do Recife, contudo teve as suas portas fechas por conta de dividas e recentemente foi demolido para dar lugar a um clube de society]; Lar de Ita [é um centro umbanda onde são realizados cultos sincréticos com elementos do cristianismo, indígena, e afra brasileira]; Igreja Matriz de São Sebastião [é um marco da religiosidade católica do bairro cuja construção remonta a década de 1950]; Quadra do Vasco [fundada em 1981, é um espaço destinado à prática de atividades esportivas e de sociabilidade dos moradores locais];  e o Teatro Lobatinho [era referência da ludicidade do bairro, entre os anos de 1970 e 1990, hoje sobrevive em animar festas infantis].

Justificativa
O púbico atendido em nossa escola é formado por jovens que residem no bairro e áreas circunvizinhas. A localidade é socialmente caracterizada pela violência decorrente do tráfico de drogas; por famílias chefiadas e sustentadas por mulheres; pelas altas taxas de evasão escolar; pela baixa escolaridade de sua população adulta; e pela maternidade precoce de meninas entre doze e dezoito anos. A partir da análise dessas questões socioculturais pude perceber, enquanto educador e historiador, que se fazia imperativo pensar estratégias de ensino que colocasse em relevo e valorizasse os aspectos positivos daquela comunidade. Contribuindo assim, para a elevação da autoestima daqueles estudantes os quais são, majoritariamente, negros e pardos, pertencentes a famílias muitos pobres e que estão fora da faixa etária adequada para o ano / série em que estavam matriculados.

Problemática
A problemática de nosso TCF, enquanto proposta de pesquisa e intervenção didático-pedagógica estava em conhecer um pouco mais a respeito dos lugares de memória afetiva e de sociabilidade da comunidade. A partir daí propusemos estratégias de intervenção que pudessem viabilizar o resgate da história desses lugares estabelecendo, nesse ínterim, as conexões entre os espaços e as pessoas que neles transitam.

Conforme nos diz [Capucho, 2012, p. 97] “[...] os estudantes têm o direito ao acesso a todo tipo de conhecimento histórico” e, nesse sentido, entendemos que isso também se aplica ao tipo de saber produzido nas comunidades nas quais estão inseridos. Portanto, os bens culturais, listados na introdução desse texto, além de integrarem a memória afetiva do bairro dizem respeito a saberes, histórias de vida e das memórias coletivas compartilhadas por seus integrantes. Fazendo assim, parte do contexto sociocultural no qual se inscrevem. E, por este motivo, aquelas pessoas têm o direito de saber mais sobre as suas próprias trajetórias de vida e poderem contribuir para que os seus lugares de memórias não caiam no esquecimento

A nossa estratégia de intervenção partiu da premissa de que, a partir desse entendimento e apropriação, as pessoas seriam compelidas a perceberem o valor de sua própria história. E foi dentro, desse contexto, que o nosso Projeto de TCF foi sendo amadurecido. Resultando, assim, em uma proposta de trabalho que pudesse ser inserido no contexto sociocultural em que aqueles jovens estavam inseridos. Esse foi o incentivo necessário para darmos início aos levantamentos na primeira fase da pesquisa, onde estabelecemos a meta de conhecer um pouco mais a respeito da realidade social, econômica e cultural do em torno da Escola Estadual Gilberto Freyre.
No que se refere ao espaço escolar, nos dizeres de Vera Capucho [Capucho, 2012, p. 71], “[...] permita que a escola seja compreendida em seu potencial democrático, como espaço de participação e aprendizagem”. Encorajando, assim, os [as] nossos [as] estudantes a se reconheçam nesse processo construtivo do saber a respeito de suas próprias histórias através do reconhecimento e valorização das memórias coletivas referendas pelos bens culturais levantados em nossa pesquisa. Propiciando assim, o reconhecimento não só das memórias, mas, também, dos direitos individuais e coletivos; os deveres para com a preservação de suas memórias; e, principalmente, se reconhecerem como sujeitos de direitos atuantes na sociedade. Ou seja, ele se insere em uma ampla gama de discussões a respeito da importância da escola enquanto espaço que contribui para forja o intelecto e a formação do sujeito para o exercício de sua cidadania.

Utilizamos também o conceito de lugar apresentado Cyntia Andrade [Andrade, 2008, p. 2], onde diz que: “o lugar é o redimensionamento do espaço dotado de sensações, afeição e referências da experiência vivida”; por Ana Carlos [Carlos, 1996, p. 16] “o lugar guarda em si, não fora dele, o seu significado e as dimensões do movimento da história em constituição enquanto movimento da vida, possível de pressupomos que a memória, enquanto elo de interpretação do passado, deve ser compreendida como voz e a imagem do acontecido. A esse respeito Jacques Le Goff [Le goff, 2012, p. 423], diz que: “a memória como propriedade de conservar certas informações remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de informações psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele representa como passadas”. A partir dessa fala podemos inferir que as imagens, configurações e representações do tempo vivido ou imaginado pertencem ao campo de memória, poucas vezes exercitados na reconstrução da história do lugar seja qual for à categorização social na qual se insira. Ainda a esse respeito Cristina Freire [Freire, 1997, p. 45] traz as seguintes colocações: “A memória, compreendemos melhor, elabora-se a partir da ausência, e com pé fincado no presente, volta-se para frente. Nesse terreno, as mais aparentemente insignificantes lembranças são artigos de valor, sendo necessário guardá-las com cuidado, sabendo do risco que se corre com a perda desse que é o nosso mais valioso e invisível patrimônio”.

Metodologia
Esse trabalho de pesquisa se baseou nos dados coletados em fontes secundárias: plataformas digitais e em revistas eletrônicas; nos dados coletados por meio de entrevistas; e durante as visitas aos espaços e bens culturais. As observações bens selecionados, por sua vez, conforme nos orienta [Marco e Lakatos, 2011, p. 90] tiveram por objetivo compreender alguns aspectos da realidade social em que aquelas construções estavam inseridas. A abordagem metodológica adotada nos permitiu compreender aspectos importantes dos espaços estudados e, as informações obtidas, serviram de apoio as entrevistas realizadas além de serem confrontadas com os dados coletados a partir das fontes secundárias e das entrevistas.

E salutar que nós historiadores levantemos questões a serem respondidas por nossos objetos de pesquisa, a fim de que possamos obter resultados mais condizentes com a realidade social na qual eles se inserem. Por outro lado, tendo em vista que a micro-história centra o seu campo de análise na busca de uma descrição mais realista e objetiva do comportamento humano, ela pode nos brinda com a possibilidade de realização de uma pesquisa mais aprofundada por meio de instrumentos de investigação e metrologias mais adequados as novas conjunturas e desafios que o tempo presente oferece ao campo das ciências sociais. 
A opção pelo uso das metodologias de pesquisa tomadas de empréstimos da micro-história se deve a premissa de que a observação in loco poderia colocar em evidencia fatores de interessa da pesquisa, não observadas pelos métodos de investigação mais usualmente utilizados por outras correntes historiográficas. A descrição densa de nosso objeto se mostrou bastante útil ao nosso trabalho tendo em vista que nos permitiu mensurar uma série de fenômenos sociais que se interligavam ao nosso objetivo de pesquisa e que, de outra maneira, passariam imperceptíveis ao nosso crivo. Se tornado, por esse motivo, inteligíveis através de sua inserção no contexto social no qual se inscreviam. A respeito dessa metodologia Giovanni Levi [Levi, 1992, p. 160] diz o seguinte: “a micro-história como a tentativa de estudar o social, não como um conjunto de inter-relacionamentos deslocados existentes entre configurações constantemente em adaptação. Ele encara a micro-história como uma resposta as limitações óbvias daquelas interpretações da história social”.

As entrevistas, por sua vez, [Souza, 2017, p. 12], foram não estruturadas, haja vista esse método oferece maior liberdade para desenvolver as nossas investigações. Durante as entrevistas foram adotadas estratégias que davam ao entrevistado total liberdade de passar, sem sofrerem qualquer interferência ou corte por parte do entrevistador. Na sequência novas proposições eram feitas, de acordo com os rumos que as entrevistas tomavam. Na etapa de seleção e filtragem dos dados colhidos nas entrevistas foram selecionados os itens que pudessem ser utilizados no trabalho. A abordagem tinha por meta colocar em evidencia aquilo que julgávamos mais pertinente para a nossa temática e pudessem evidenciar os supostos laços de afetividade entre as pessoas entrevistadas para com bens estudos.

Essa abordagem metodológica possibilitou a construção de problematizações e a apreensão de várias histórias lidas, com base em distintos sujeitos da história, bem como de histórias que foram silenciadas em razão da posição social dos seus interlocutores. E que, em razão desse social, não foram institucionalizadas sob a forma de conhecimento histórico. Caindo, assim no esquecimento e falta de reconhecimento. Dessa forma, acreditamos que esse trabalho contribuiu para a recuperação de experiências individuais e coletivas dessas pessoas, fazendo-os perceberem-se como construtores de uma realidade histórica mais ampla, democratizadora e onde eles eram os atores principais. Não eram históricas estranhas, de pessoas e realidades desconhecidas, mas suas vivencias e memórias que eram resgatadas, ressignificadas e contadas, pelos seus protagonistas.

Resultados e discussões
Ao longo de nossos levantamentos constatamos que alguns dos bens selecionados, na pesquisa, encontravam-se em acelerado estado de degradação, esquecidos ou objeto de discriminação em razão das práticas religiosas que se davam dentro dos seus espaços, sobretudo os espaços ligados as religiões de matriz africana. É importante relatar que o contato direto com as pessoas da localidade, nos revelou que delas assumiam uma postura de não valorização e por extensão de não reconhecimento daqueles espaços como de importância para a cultura e memória de sua comunidade. Isso nos fez entender as razões pelas quais algumas pessoas entrevistadas tinham uma postura preconceituosa, desrespeitosa ao ponto de não se importarem com os atos de vandalismo cometidos contra bens como o centro umbanda chamado Lar de Ita e, até mesmo, a Igreja Matriz do bairro chamada de Igreja de São Severino.

De acordo com Michel de Certeau [1998] a cidade em sua materialidade plasmada em ruas, praças ou jardins, no sentido estrito de seu planejamento e construção, por exemplo, pode ser lida como um lugar, sem significações simbólicas relevantes para as pessoas, que não teriam estabelecido com ele qualquer vínculo de interação ou afetividade. Contudo, seria a partir do habitar a cidade que ela passa a ser significada e pode ser transmutada em espaço. Dessa forma, podemos afirmar que o espaço é aquele lugar ocupado, apropriado e transformado pelas pessoas que nele transitam.

Segundo pontua, Pierre Nora [Nora, 1993, p. 21-22] há uma série de possibilidades materiais e simbólicas que caracterizam o autor define como lugar de memória. Para o ele, os aspectos “material, funcional e simbólico” constitutivos do “lugar de memória” seriam coexistentes e, necessariamente, a relação entre eles é que caracteriza a experiência ali vivida, dando-lhe sentido e significado trazendo consigo uma espécie memória social do acontecimento, que é transmitida pelas épocas que se sucedem a outros sujeitos que ali não viveram, mas que se identificaram com ele e com o que ali ocorreu no passado, sob o selo do pertencimento histórico.

É imperativo compreender que a construção do conhecimento crítico e a sua apropriação consciente pelas comunidades, onde determinados bens culturais estão inseridos, são fatores indispensáveis para o processo de preservação sustentável desse patrimônio. Assim como para o fortalecimento dos sentimentos de identidade e cidadania dos grupos envolvidos. E tendo em vista que o trabalho realizado se inseriu em uma perspectiva de promoção da inserção sociocultural do cidadão, afirmação e valorização das características culturais da comunidade. Essa abordagem demonstra que o ensino de história através do resgate dos lugares de memória, aliado a educação patrimonial, é também um instrumento de “alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo ter as condições intelectuais necessárias para empreender a leitura do mundo que o rodeia. Creio que essa ação pode contribuir para que os envolvidos, nesse trabalho, passem a ter uma compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que estão inseridos.

As ações desenvolvidas buscaram, ao longo de sua execução, propor um exercício de descoberta, reencontros, curiosidade e surpresas tendo em vista que os estudantes não imaginavam que aqueles lugares, tão desprestigiados, detinham uma história tão singular e repleta de representatividades simbólicas e evocavam memórias coletivas tão singulares.

O estudo da localidade ou da história regional contribui, [Cainelli; Schmidt, 2009, p. 139-142] “para uma compreensão múltipla da história, pelo menos em dois sentidos: na possibilidade de ser mais de um eixo histórico na história local e na possibilidade da análise de macro-histórias, pertencentes a alguma história que as englobe e, ao mesmo tempo reconheça suas particularidades”. A reflexão crítica e analítica, do recorte acima, nos encoraja a afirmar que o ensino de história, especialmente através da educação patrimonial, assume uma dimensão bastante didática ao estabelecer uma relação de trocas entre o saber erudito e o saber popular desaguando, assim, para uma profícua troca de conhecimentos.

Segundo Nilma Gomes [Giovanetti; Gomes; Soares, 2011, p. 91-92], enfatiza que: “estudos nessa linha enfatizam as possibilidades que existem de se buscar uma organização das interações sociais na escola que seja sensível aos padrões culturais das comunidades de origem do aluno”. Em outro trecho a autora fala a respeito da importância uma pedagogia culturalmente orientada ao dizer que: “[...] uma pedagogia culturalmente orientada, objetivando assim implementar as condições de sucesso acadêmico dos alunos pertencentes aos grupos minoritários, por um lado, e por outro, modificando, pelo menos em parte, o contexto escolar para torná-lo mais adequado as especificidades culturais de cada comunidade”
As falas referendadas acima nos dão conta da dimensão e importância de se fomentar interações sociais entre estabelecimentos escolares e as comunidades que compõem o seu entorno. Ou seja, fala da importância da valorização e parceria entre escola e comunidade escolar como um todo. Como educadores não podemos negligenciar o que os nossos alunos possuem dimensões culturais, sociais e históricas que ser valorizadas e dadas a conhecer, as vezes ao próprio aluno. Elas nos ajudam a compreender que a sua realidade deve ser problematizada em nossas salas de aula. Construindo assim, estratégias de intervenção didático-pedagógicas de valorização de culturas e das histórias de personagens historicamente marginalizados e alijados dos espaços distintivos da plena cidadania.

Considerações finais
Ao longo das várias etapas que compuseram esse trabalho, percebemos que as pessoas daquela comunidade não compreendem a importância simbólica, social, cultural e histórica daqueles lugares, porque não foram educadas para isso, e por esse motivo não desenvolveram o sentimento de pertencimento. Dessa maneira lhes foi tirado o direito de puder reconhecer e valorizar os seus espaços de memória. E, nesse cenário ora aqui exposto, o papel de escola se torna de extrema importância para que essa valorização possa se efetivar. Sendo assim, não custa lembrar que das missões mais nobres da escola é a promoção da cidadania. Particularmente não consigo imaginar um meio mais nobre para alcançar a este fim que não seja através da valorização sociocultural da história de vida de pessoas historicamente vítimas exclusão. É, contudo, um trabalho árduo que só pode viabilizar-se por meio de um processo de conscientização, de apropriação, educação e esclarecimento através da educação patrimonial.
As discussões trazidas neste trabalho, ou seja, as problematizações feitas foram pensadas com o propósito de contribuir para a oferta de novos métodos e perspectivas de pesquisa e ensino de história. Onde se buscou favorecer o ensino de história por meio da pesquisa, da problematização e discussão a respeito dos estudos dos bens culturais de uma simples comunidade, como tantas outras, de um bairro periférico do Nordeste brasileiro. Todavia, se buscou torná-lo inteligível ao público ao qual se destinava. E com vistas a alcançar esse objetivo, buscou-se analisar o patrimônio local em seus mais diversos aspectos socioculturais respeitando, antes de tudo, os saberes e as escolhas feitas pelos reais detentores desses bens.

Por fim, pode-se afirmar que, esta proposta de trabalho ao longo de sua execução se configurou como um verdadeiro esforço, uma vez que adentramos em muitas discussões que julgamos necessárias ao entendimento e contextualização do campo de pesquisa e dos bens que se tornaram objeto de análise histórica. Todavia nada disso faria sentido se, no rastro desse trabalho, não tivéssemos tido a preocupação em buscar promover a aprendizagem por meio da mediação e transmissão do saber obtido junto aos integrantes da nossa comunidade escolar, pois acreditamos que o trabalho do historiador só adquire sentido quando ele se propõe a fazer uso de sua arte na promoção da integração social, sobretudo daqueles menos favorecidos

Referências
Eduardo Augusto de Santana é Doutorando em História pela UFRPE, possui graduação e Mestrado em História [UFRPE], também é aluno da Especialização em Gestão e Tutoria em EaD [FACIGMA]. É professor Formador e Conteudista da Escola Técnica Estadual Professor Antonio Carlos [ETEPAC] e da Escola Estadual Gilberto Freyre, ambas do Governo do Estado de Pernambuco e professor formador do curso de Licenciatura em História, na modalidade EaD, da UFRPE.
E-mail: duca_augusto@yahoo.com.br.

ANDRADE, Cyntia. Lugar de memória .... memórias de um lugar: patrimônio imaterial de Igatu, Andaraí, BA. Vol. 6 Nº 3 págs. 569-590. 2008. In: Passos Revista de Turismo y Patrimônio Cultural. Acesso em 30.03.2018. [internet]
CAPUCHO, Vera. Educação de jovens e adultos: prática pedagógica e fortalecimento da cidadania. São Paulo: Cortez, 2012. [livro]
CARLOS, Ana Fani. A. O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. [livro]
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: 1. Artes de Fazer. Petropólis, RJ: Vozes, 1998. [livro]
FREIRE. C. Além dos mapas: os monumentos no imaginário urbano contemporâneo. São Paulo: SESC, Annablume, 1997. [livro]
GOMES, Nilma Lino [orgs]. Diálogos na educação de jovens e adultos. 4ª edição. Belo Horizonte: Autentica Editora, 2011. [livro]
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. [livro]
LEVI, Giovanni. Sobre a Micro-História. In: BURKE, Peter. A Escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: Editora USP, 1992. [livro]
LE GOFF, Jacques. História e Memória. 6ª edição. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2012. [livro]
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução Yara Aun Khoury. In: Projeto História, São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993. [artigo]
SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2009. [livro]

12 comentários:

  1. Ao longo de nossos levantamentos constatamos que alguns dos bens selecionados, na pesquisa, encontravam-se em acelerado estado de degradação, esquecidos ou objeto de discriminação em razão das práticas religiosas que se davam dentro dos seus espaços, sobretudo os espaços ligados as religiões de matriz africana. É importante relatar que o contato direto com as pessoas da localidade, nos revelou que delas assumiam uma postura de não valorização e por extensão de não reconhecimento daqueles espaços como de importância para a cultura e memória de sua comunidade. Isso nos fez entender as razões pelas quais algumas pessoas entrevistadas tinham uma postura preconceituosa, desrespeitosa ao ponto de não se importarem com os atos de vandalismo cometidos contra bens como o centro umbanda chamado Lar de Ita e, até mesmo, a Igreja Matriz do bairro chamada de Igreja de São Severino.
    O quê é possível fazer de forma prática para reverter essa situação e garantir a preservação do patrimônio cultural para as futuras gerações, principalmente quando se trata de pessoas que não estão inseridas nos territórios escolares formais ou não?

    Patrícia da Silva Fonseca

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    1. Olá Patrícia, boa tarde.
      A educação para o patrimônio é, antes de mais nada, uma problemática que envolve questões políticas, sociais e culturais. Vivemos em uma sociedade onde o esquecimento, além de sua dimensão espaço-temporal, faz parte de um processo histórico de alijamento das classes populares dos espaços distintivos de poder. Portanto, essas ações, ao longo do tempo, fez com que fosse internalizado em nós o desprezo por nossa memória e história. E isso é perceptível na fala do próprio Ronaldo Vainfas onde diz que: a nossa sociedade nos induz a despreza tudo o que diz respeito a negros, índios, mulheres, nordestinos, pobres ou seja, somos educadores desde pequenos a desprezar a nós mesmo. Portanto, em resposta a sua pergunta afirmo que devemos usar o nosso ofício para descolonizar a mente de nosso povo seja através de processos educativos formais ou não. O que importante é educar o nosso povo a reconhecer e valorizar as suas memórias e os lugares representativos dessas memória. Mostrando a eles que a história do negro, do índios, do nordestino, do pobre, das mulheres e todos tem a sua importância e deve ser regatada.

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  2. Olá! primeiramente gostaria de lhe parabenizar pela importante discussão e relato de experiência trazido por você a partir da proposta de trabalhar o ensino de história aliado a educação patrimonial, como forma fomentar a valorização, a difusão e a reapropriação dos lugares e espaços de memória da próprio bairro onde se localiza a escola e que resultou no Trabalho de Conclusão do Ensino do Ensino Fundamental II – TCF, em seu texto “ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: EDUCAÇÃO VOLTADA PARA A PROMOÇÃO DA CIDADANIA ATRAVÉS DO RESGATE E VALORIZAÇÃO DOS LUGARES DE MEMÓRIA”. Já participei como co-orientadora desse mesmo projeto, na função de pibidiana na Escola Ministro Jarbas Passarinho, Localizada no Município de Camaragibe-PE. Sabendo dos desafios que se é acompanhar um projeto de TCF, gostaria de saber se as reflexões conclusivas trazidas por você em seu texto sobre as posturas preconceituosas contra os bens culturais como o centro umbanda e a Igreja Matriz da cidade, de que forma foram percebidas, apontadas e problematizadas pelos alunos na pesquisa?

    cordialmente,
    Wirlanny Evelyn Oliveira Barros

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  3. Olá Wirlanny, boa tarde.

    Muito importante o que falou. Sim, a questão da resistência e preconceito de alguns alunos, sobretudo os de origem familiar evangélica, acabaram se configurando como um importante instrumento de discussão nesse trabalho. A parti dessa ação pude trabalhar junto a ele a questão do racismo e das desigualdades socioculturais que assolam o nosso País. Aquilo que a princípio poderia ter se tornado um entrave ao desenvolvimento do nosso trabalho se tornou em um importante instrumento didático para exemplificar como as ideias preconcebidas das coisas nos entorpece e nos desconectam de nossa própria realidade social. Por outro lado, serviu para demonstrar para que compreendêssemos como a educação para o patrimônio é muito mais abrangente do que imaginávamos, pois ela se configura como um importante instrumento de alfabetização cultura e de empoderamento dos grupos que historicamente estão alijados dos processos decisórios e dos espaços distintivos de poder.

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  4. Olá professor Eduardo! Em uma sociedade de pessoas cada vez mais individualizadas, promover a reflexão sobre a comunidade e seus espaços é sem dúvida um ponto de esperança. Parabéns pelo seu trabalho! Gostaria de saber como foi o aceite por parte da Escola e da comunidade para com a pesquisa? O projeto sem dúvida proporcionou aos alunos uma nova perspectiva de mundo, seria possível uma continuidade do projeto fora da escola para futuros inventários e salvaguarda?
    Mais uma vez, parabéns pelo trabalho realizado!
    Lana Martiéli Schröer

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    1. Olá Lana, boa noite.

      De inicio houve algumas resistências,sobretudo dos pais dos alunos participantes, a maioria deles evangélicos neopentecostais, que duvidam das intenções do projeto. Ou melhor, suspeitavam que de alguma forma estava aliciando os seus filhos para proposito escuso. Só após a intervenção da direção escolar, do conselho da escola e de alguns professores evangélicos mais esclarecidos é que pudemos avançar com o nosso trabalho. Por outro lado, os próprios alunos se mostraram resistentes em, por exemplos, realizar levantamentos de campos no centro de Umbanda da comunidade e na Igreja Católica local. Essas problemáticas acabou se tornando ponto de partida para dar início a um trabalho de desconstrução de preconceitos e descolonização desses estudantes. Em suma, ao final do trabalho, após diversas intervenções, os alunos compreenderam a importância de se reconhecer, preservar e se apropriar do seus lugares de memória. Com relação aos inventários eles, a partir da minha vivencia, eles são viáveis em contextos em que há um todo um trabalho didático prévio para que, após conhecer a realidade local, poder aplicá-los dentro do contexto social local.

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  5. Olá, Eduardo! Gostaria de comentar o quão importante percebe-se, na atualidade, o esforço que teu trabalho expõe. Trazer ao alcance de todas e todos essas problematizações acerca do patrimônio cultural, partindo do enunciado pela própria comunidade, vem a romper a longa história meramente memorialista. Nesse sentido, minha pergunta/curiosidade é sobre como tens percebido esse processo de revalorização desses espaços. Houve, por exemplo, alguma ressonância em seus usos ou novos usos, que puderam ser percebidos na/pela comunidade?
    Grato,
    Tianey Weiss

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  6. Olá Tianey, boa noite.

    Obrigado! Excelente pergunta, pois a partir desse esforço pudemos trabalhar e conseguir desperta o interesse de nossos estudantes a respeito da importância da preservação e usufruto dos seus lugares/espaços de memória. Em uma certa altura do projeto, percebi um esforço dos alunos que já tinha alguma relação com aqueles bens, que eles se esforçavam para defender, cada um a sua maneira, estratégias para garantir a valorização daqueles lugares. Isso foi muito importante no sentido de que se estavam passando a desenvolver o sentimento de pertença por aquele patrimônio que pertencia a eles. E o legal era que eles são parte da comunidade onde esses bens estão inseridos. Um exemplo é que os alunos que frequentavam a Quadra do Vasco passaram a se articular com outras pessoas da comunidades para viabilizar atividades culturais. Outros, passaram a se articular com o outros professores para que algumas atividades, de suas disciplinas, fossem realizadas no espaço do Teatro Lobatinho e Lar de Ita. Enfim, são muitas histórias e ramificações tomadas por esse trabalho,

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  7. Prezado Eduardo, parabéns com o trabalho tão significativo com esses meninos e meninas da periferia, já tão estigmatizados e carentes de tudo. Mostrar que eles têm uma cultura valiosa ajuda na construção da preservação e da cidadania, sem falar no agente ativo na comunidade. Eles e elas a preservam porque tem um valor íntimo, não é um monumento a uma figura desconhecida eleita pela elite branca. Tenho algumas curiosidades: Em quais séries do ensino fundamental você implantou o projeto? E Pensou em trabalhar no ensino médio? Grato e mais uma vez parabéns.

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  8. Olá Luciano, Boa noite.

    Obrigado por suas considerações. O projeto de TCF foi implantando junto aos estudantes do EJA IV FUNDAMENTAL II. Infelizmente não tive a oportunidade de implanta-lo no Ensino Médio, contudo tenho a pretensão de empregar em breve esse trabalho no médio.

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