ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: EDUCAÇÃO VOLTADA PARA A PROMOÇÃO DA CIDADANIA ATRAVÉS DO RESGATE E VALORIZAÇÃO DOS LUGARES DE MEMÓRIA
Introdução
Esse trabalho é
fruto de pesquisas de campo e documental, desenvolvidas no ano de 2017, a
partir de um Trabalho de Conclusão do Ensino do Ensino Fundamental II – TCF
junto aos estudantes do EJA IV da Escola Estadual Gilberto Freyre localizada na
comunidade do Alto13 de Maio, bairro do Vasco da Gama, em Recife-PE. As
pesquisas foram desenvolvidas a partir do levantamento dos bens culturais
materiais existentes na localidade. As pesquisas de campo foram realizadas, sob
a minha orientação, pelos alunos integrantes do projeto que, por sua vez,
também residem naquele bairro. A propósito, foram os estudantes que elencaram
os bens culturais de sua comunidade que mereciam maior atenção onde tomarão
como parâmetro, para justificar as suas escolhas: as suas próprias vivências, as suas memórias afetivas e
os relatos que colheram junto às pessoas mais velhas de sua comunidade. A nossa
proposta de trabalho buscou apoio no ensino de história, apoiado na educação
patrimonial, como forma fomentar a valorização, a difusão e a reapropriação dos
lugares e espaços de memória daquele bairro. Segundo afirmou o Frances Piere
Nota [Nora, 1993, p. 21-23] “O espaço,
apesar de vivido individualmente pelos sujeitos, vai se configurando num lugar comum, compartilhado,
possibilitando uma referência cultural que
possa significar o coletivo e não apenas o sujeito individual. O lugar, em sua ampla acepção, depois de
significado, pode remeter a uma ou a várias identidades, pode constituir-se num lugar de memória”.
Os bens culturais
levantados por nossos estudantes como mais representativos de sua comunidade
foram: Clube recreativo 13 do Vasco [datado de meados do século XX era um dos
mais conhecidos lugares de esporte e lazer na zona norte do Recife, contudo
teve as suas portas fechas por conta de dividas e recentemente foi demolido
para dar lugar a um clube de society]; Lar de Ita [é um centro umbanda onde são
realizados cultos sincréticos com elementos do cristianismo, indígena, e afra
brasileira]; Igreja Matriz de São Sebastião [é um marco da religiosidade católica
do bairro cuja construção remonta a década de 1950]; Quadra do Vasco [fundada
em 1981, é um espaço destinado à prática de atividades esportivas e de
sociabilidade dos moradores locais]; e o
Teatro Lobatinho [era referência da ludicidade do bairro, entre os anos de 1970
e 1990, hoje sobrevive em animar festas infantis].
Justificativa
O púbico atendido
em nossa escola é formado por jovens que residem no bairro e áreas
circunvizinhas. A localidade é socialmente caracterizada pela violência
decorrente do tráfico de drogas; por famílias chefiadas e sustentadas por
mulheres; pelas altas taxas de evasão escolar; pela baixa escolaridade de sua
população adulta; e pela maternidade precoce de meninas entre doze e dezoito
anos. A partir da análise dessas questões socioculturais pude perceber,
enquanto educador e historiador, que se fazia imperativo pensar estratégias de
ensino que colocasse em relevo e valorizasse os aspectos positivos daquela
comunidade. Contribuindo assim, para a elevação da autoestima daqueles
estudantes os quais são, majoritariamente, negros e pardos, pertencentes a
famílias muitos pobres e que estão fora da faixa etária adequada para o ano /
série em que estavam matriculados.
Problemática
A problemática de
nosso TCF, enquanto proposta de pesquisa e intervenção didático-pedagógica
estava em conhecer um pouco mais a respeito dos lugares de memória afetiva e de
sociabilidade da comunidade. A partir daí propusemos estratégias de intervenção
que pudessem viabilizar o resgate da história desses lugares estabelecendo,
nesse ínterim, as conexões entre os espaços e as pessoas que neles transitam.
Conforme nos diz
[Capucho, 2012, p. 97] “[...] os estudantes têm o direito ao acesso a todo tipo
de conhecimento histórico” e, nesse sentido, entendemos que isso também se
aplica ao tipo de saber produzido nas comunidades nas quais estão inseridos.
Portanto, os bens culturais, listados na introdução desse texto, além de
integrarem a memória afetiva do bairro dizem respeito a saberes, histórias de
vida e das memórias coletivas compartilhadas por seus integrantes. Fazendo
assim, parte do contexto sociocultural no qual se inscrevem. E, por este
motivo, aquelas pessoas têm o direito de saber mais sobre as suas próprias
trajetórias de vida e poderem contribuir para que os seus lugares de memórias
não caiam no esquecimento
A nossa
estratégia de intervenção partiu da premissa de que, a partir desse
entendimento e apropriação, as pessoas seriam compelidas a perceberem o valor
de sua própria história. E foi dentro, desse contexto, que o nosso Projeto de
TCF foi sendo amadurecido. Resultando, assim, em uma proposta de trabalho que
pudesse ser inserido no contexto sociocultural em que aqueles jovens estavam
inseridos. Esse foi o incentivo necessário para darmos início aos levantamentos
na primeira fase da pesquisa, onde estabelecemos a meta de conhecer um pouco
mais a respeito da realidade social, econômica e cultural do em torno da Escola
Estadual Gilberto Freyre.
No que se refere
ao espaço escolar, nos dizeres de Vera Capucho [Capucho, 2012, p. 71], “[...]
permita que a escola seja compreendida em seu potencial democrático, como
espaço de participação e aprendizagem”. Encorajando, assim, os [as] nossos [as]
estudantes a se reconheçam nesse processo construtivo do saber a respeito de
suas próprias histórias através do reconhecimento e valorização das memórias
coletivas referendas pelos bens culturais levantados em nossa pesquisa.
Propiciando assim, o reconhecimento não só das memórias, mas, também, dos
direitos individuais e coletivos; os deveres para com a preservação de suas memórias;
e, principalmente, se reconhecerem como sujeitos de direitos atuantes na
sociedade. Ou seja, ele se insere em uma ampla gama de discussões a respeito da
importância da escola enquanto espaço que contribui para forja o intelecto e a
formação do sujeito para o exercício de sua cidadania.
Utilizamos também
o conceito de lugar apresentado Cyntia Andrade [Andrade, 2008, p. 2], onde diz
que: “o lugar é o redimensionamento do espaço dotado de sensações, afeição e
referências da experiência vivida”; por Ana Carlos [Carlos, 1996, p. 16] “o
lugar guarda em si, não fora dele, o seu significado e as dimensões do
movimento da história em constituição enquanto movimento da vida, possível de
pressupomos que a memória, enquanto elo de interpretação do passado, deve ser
compreendida como voz e a imagem do acontecido. A esse respeito Jacques Le Goff
[Le goff, 2012, p. 423], diz que: “a memória como propriedade de conservar
certas informações remete-nos em primeiro lugar a um conjunto de informações
psíquicas, graças às quais o homem pode atualizar impressões ou informações
passadas, ou que ele representa como passadas”. A partir dessa fala podemos
inferir que as imagens, configurações e representações do tempo vivido ou
imaginado pertencem ao campo de memória, poucas vezes exercitados na
reconstrução da história do lugar seja qual for à categorização social na qual
se insira. Ainda a esse respeito Cristina Freire [Freire, 1997, p. 45] traz as
seguintes colocações: “A memória, compreendemos melhor, elabora-se a partir da
ausência, e com pé fincado no presente, volta-se para frente. Nesse terreno, as
mais aparentemente insignificantes lembranças são artigos de valor, sendo
necessário guardá-las com cuidado, sabendo do risco que se corre com a perda
desse que é o nosso mais valioso e invisível patrimônio”.
Metodologia
Esse trabalho de
pesquisa se baseou nos dados coletados em fontes secundárias: plataformas
digitais e em revistas eletrônicas; nos dados coletados por meio de
entrevistas; e durante as visitas aos espaços e bens culturais. As observações
bens selecionados, por sua vez, conforme nos orienta [Marco e Lakatos, 2011, p.
90] tiveram por objetivo compreender alguns aspectos da realidade social em que
aquelas construções estavam inseridas. A abordagem metodológica adotada nos
permitiu compreender aspectos importantes dos espaços estudados e, as
informações obtidas, serviram de apoio as entrevistas realizadas além de serem
confrontadas com os dados coletados a partir das fontes secundárias e das
entrevistas.
E salutar que nós
historiadores levantemos questões a serem respondidas por nossos objetos de
pesquisa, a fim de que possamos obter resultados mais condizentes com a
realidade social na qual eles se inserem. Por outro lado, tendo em vista que a
micro-história centra o seu campo de análise na busca de uma descrição mais
realista e objetiva do comportamento humano, ela pode nos brinda com a
possibilidade de realização de uma pesquisa mais aprofundada por meio de
instrumentos de investigação e metrologias mais adequados as novas conjunturas
e desafios que o tempo presente oferece ao campo das ciências sociais.
A opção pelo uso
das metodologias de pesquisa tomadas de empréstimos da micro-história se deve a
premissa de que a observação in loco
poderia colocar em evidencia fatores de interessa da pesquisa, não observadas
pelos métodos de investigação mais usualmente utilizados por outras correntes
historiográficas. A descrição densa de nosso objeto se mostrou bastante útil ao
nosso trabalho tendo em vista que nos permitiu mensurar uma série de fenômenos
sociais que se interligavam ao nosso objetivo de pesquisa e que, de outra
maneira, passariam imperceptíveis ao nosso crivo. Se tornado, por esse motivo,
inteligíveis através de sua inserção no contexto social no qual se inscreviam.
A respeito dessa metodologia Giovanni Levi [Levi, 1992, p. 160] diz o seguinte:
“a micro-história como a tentativa de estudar o social, não como um conjunto de
inter-relacionamentos deslocados existentes entre configurações constantemente
em adaptação. Ele encara a micro-história como uma resposta as limitações
óbvias daquelas interpretações da história social”.
As entrevistas,
por sua vez, [Souza, 2017, p. 12], foram não estruturadas, haja vista esse
método oferece maior liberdade para desenvolver as nossas investigações.
Durante as entrevistas foram adotadas estratégias que davam ao entrevistado
total liberdade de passar, sem sofrerem qualquer interferência ou corte por
parte do entrevistador. Na sequência novas proposições eram feitas, de acordo com
os rumos que as entrevistas tomavam. Na etapa de seleção e filtragem dos dados
colhidos nas entrevistas foram selecionados os itens que pudessem ser
utilizados no trabalho. A abordagem tinha por meta colocar em evidencia aquilo
que julgávamos mais pertinente para a nossa temática e pudessem evidenciar os
supostos laços de afetividade entre as pessoas entrevistadas para com bens
estudos.
Essa abordagem
metodológica possibilitou a construção de problematizações e a apreensão de
várias histórias lidas, com base em distintos sujeitos da história, bem como de
histórias que foram silenciadas em razão da posição social dos seus
interlocutores. E que, em razão desse social, não foram institucionalizadas sob
a forma de conhecimento histórico. Caindo, assim no esquecimento e falta de
reconhecimento. Dessa forma, acreditamos que esse trabalho contribuiu para a
recuperação de experiências individuais e coletivas dessas pessoas, fazendo-os
perceberem-se como construtores de uma realidade histórica mais ampla, democratizadora
e onde eles eram os atores principais. Não eram históricas estranhas, de
pessoas e realidades desconhecidas, mas suas vivencias e memórias que eram
resgatadas, ressignificadas e contadas, pelos seus protagonistas.
Resultados e discussões
Ao longo de nossos levantamentos constatamos
que alguns dos bens selecionados, na pesquisa, encontravam-se em acelerado
estado de degradação, esquecidos ou objeto de discriminação em razão das
práticas religiosas que se davam dentro dos seus espaços, sobretudo os espaços
ligados as religiões de matriz africana. É importante relatar que o contato
direto com as pessoas da localidade, nos revelou que delas assumiam uma postura
de não valorização e por extensão de não reconhecimento daqueles espaços como
de importância para a cultura e memória de sua comunidade. Isso nos fez
entender as razões pelas quais algumas pessoas entrevistadas tinham uma postura
preconceituosa, desrespeitosa ao ponto de não se importarem com os atos de
vandalismo cometidos contra bens como o centro umbanda chamado Lar de Ita e,
até mesmo, a Igreja Matriz do bairro chamada de Igreja de São Severino.
De acordo com Michel de Certeau [1998] a
cidade em sua materialidade plasmada em ruas, praças ou jardins, no sentido
estrito de seu planejamento e construção, por exemplo, pode ser lida como um lugar, sem significações
simbólicas relevantes para as pessoas, que não teriam estabelecido com ele
qualquer vínculo de interação ou afetividade. Contudo, seria a partir do habitar a cidade que ela passa
a ser significada e pode ser transmutada em espaço. Dessa forma, podemos afirmar que o espaço é aquele lugar
ocupado, apropriado e transformado pelas pessoas que nele transitam.
Segundo pontua, Pierre Nora [Nora, 1993, p.
21-22] há uma série de possibilidades materiais
e simbólicas que caracterizam o
autor define como lugar de
memória. Para o ele, os
aspectos “material, funcional e simbólico” constitutivos do “lugar de memória”
seriam coexistentes e, necessariamente, a relação entre eles é que caracteriza a experiência ali vivida,
dando-lhe sentido e significado trazendo consigo uma espécie memória social do
acontecimento, que é transmitida pelas épocas que se sucedem a outros sujeitos
que ali não viveram, mas que se identificaram com ele e com o que ali ocorreu
no passado, sob o selo do pertencimento
histórico.
É imperativo
compreender que a construção do conhecimento crítico e a sua apropriação
consciente pelas comunidades, onde determinados bens culturais estão inseridos,
são fatores indispensáveis para o processo de preservação sustentável desse
patrimônio. Assim como para o fortalecimento dos sentimentos de identidade e
cidadania dos grupos envolvidos. E tendo em vista que o trabalho realizado se
inseriu em uma perspectiva de promoção da inserção sociocultural do cidadão,
afirmação e valorização das características culturais da comunidade. Essa
abordagem demonstra que o ensino de história através do resgate dos lugares de
memória, aliado a educação patrimonial, é também um instrumento de
“alfabetização cultural” que possibilita ao indivíduo ter as condições
intelectuais necessárias para empreender a leitura do mundo que o rodeia. Creio
que essa ação pode contribuir para que os envolvidos, nesse trabalho, passem a
ter uma compreensão do universo sociocultural e da trajetória
histórico-temporal em que estão inseridos.
As ações
desenvolvidas buscaram, ao longo de sua execução, propor um exercício de
descoberta, reencontros, curiosidade e surpresas tendo em vista que os
estudantes não imaginavam que aqueles lugares, tão desprestigiados, detinham
uma história tão singular e repleta de representatividades simbólicas e evocavam
memórias coletivas tão singulares.
O estudo da
localidade ou da história regional contribui, [Cainelli; Schmidt, 2009, p.
139-142] “para uma compreensão múltipla da história, pelo menos em dois
sentidos: na possibilidade de ser mais de um eixo histórico na história local e
na possibilidade da análise de macro-histórias, pertencentes a alguma história
que as englobe e, ao mesmo tempo reconheça suas particularidades”. A reflexão
crítica e analítica, do recorte acima, nos encoraja a afirmar que o ensino de
história, especialmente através da educação patrimonial, assume uma dimensão
bastante didática ao estabelecer uma relação de trocas entre o saber erudito e
o saber popular desaguando, assim, para uma profícua troca de conhecimentos.
Segundo Nilma Gomes
[Giovanetti; Gomes; Soares, 2011, p. 91-92], enfatiza que: “estudos nessa linha
enfatizam as possibilidades que existem de se buscar uma organização das
interações sociais na escola que seja sensível aos padrões culturais das
comunidades de origem do aluno”. Em outro trecho a autora fala a respeito da
importância uma pedagogia culturalmente orientada ao dizer que: “[...] uma
pedagogia culturalmente orientada, objetivando assim implementar as condições
de sucesso acadêmico dos alunos pertencentes aos grupos minoritários, por um
lado, e por outro, modificando, pelo menos em parte, o contexto escolar para
torná-lo mais adequado as especificidades culturais de cada comunidade”
As falas
referendadas acima nos dão conta da dimensão e importância de se fomentar interações
sociais entre estabelecimentos escolares e as comunidades que compõem o seu
entorno. Ou seja, fala da importância da valorização e parceria entre escola e
comunidade escolar como um todo. Como educadores não podemos negligenciar o que
os nossos alunos possuem dimensões culturais, sociais e históricas que ser
valorizadas e dadas a conhecer, as vezes ao próprio aluno. Elas nos ajudam a
compreender que a sua realidade deve ser problematizada em nossas salas de
aula. Construindo assim, estratégias de intervenção didático-pedagógicas de
valorização de culturas e das histórias de personagens historicamente
marginalizados e alijados dos espaços distintivos da plena cidadania.
Considerações finais
Ao longo das
várias etapas que compuseram esse trabalho, percebemos que as pessoas daquela
comunidade não compreendem a importância simbólica, social, cultural e
histórica daqueles lugares, porque não foram educadas para isso, e por esse
motivo não desenvolveram o sentimento de pertencimento. Dessa maneira lhes foi
tirado o direito de puder reconhecer e valorizar os seus espaços de memória. E,
nesse cenário ora aqui exposto, o papel de escola se torna de extrema
importância para que essa valorização possa se efetivar. Sendo assim, não custa
lembrar que das missões mais nobres da escola é a promoção da cidadania.
Particularmente não consigo imaginar um meio mais nobre para alcançar a este
fim que não seja através da valorização sociocultural da história de vida de
pessoas historicamente vítimas exclusão. É, contudo, um trabalho árduo que só
pode viabilizar-se por meio de um processo de conscientização, de apropriação,
educação e esclarecimento através da educação patrimonial.
As discussões
trazidas neste trabalho, ou seja, as problematizações feitas foram pensadas com
o propósito de contribuir para a oferta de novos métodos e perspectivas de
pesquisa e ensino de história. Onde se buscou favorecer o ensino de história
por meio da pesquisa, da problematização e discussão a respeito dos estudos dos
bens culturais de uma simples comunidade, como tantas outras, de um bairro
periférico do Nordeste brasileiro. Todavia, se buscou torná-lo inteligível ao
público ao qual se destinava. E com vistas a alcançar esse objetivo, buscou-se
analisar o patrimônio local em seus mais diversos aspectos socioculturais
respeitando, antes de tudo, os saberes e as escolhas feitas pelos reais
detentores desses bens.
Por fim, pode-se
afirmar que, esta proposta de trabalho ao longo de sua execução se configurou
como um verdadeiro esforço, uma vez que adentramos em muitas discussões que
julgamos necessárias ao entendimento e contextualização do campo de pesquisa e
dos bens que se tornaram objeto de análise histórica. Todavia nada disso faria
sentido se, no rastro desse trabalho, não tivéssemos tido a preocupação em
buscar promover a aprendizagem por meio da mediação e transmissão do saber
obtido junto aos integrantes da nossa comunidade escolar, pois acreditamos que
o trabalho do historiador só adquire sentido quando ele se propõe a fazer uso
de sua arte na promoção da integração social, sobretudo daqueles menos
favorecidos
Referências
Eduardo Augusto
de Santana é Doutorando em História pela UFRPE, possui graduação e Mestrado em
História [UFRPE], também é aluno da Especialização em Gestão e Tutoria em EaD
[FACIGMA]. É professor Formador e Conteudista da Escola Técnica Estadual
Professor Antonio Carlos [ETEPAC] e da Escola Estadual Gilberto Freyre, ambas
do Governo do Estado de Pernambuco e professor formador do curso de
Licenciatura em História, na modalidade EaD, da UFRPE.
E-mail: duca_augusto@yahoo.com.br.
ANDRADE, Cyntia.
Lugar de memória .... memórias de um lugar: patrimônio imaterial de Igatu,
Andaraí, BA. Vol. 6 Nº 3 págs. 569-590. 2008. In: Passos Revista de Turismo y
Patrimônio Cultural. Acesso em 30.03.2018. [internet]
CAPUCHO, Vera.
Educação de jovens e adultos: prática pedagógica e fortalecimento da cidadania.
São Paulo: Cortez, 2012. [livro]
CARLOS, Ana Fani.
A. O lugar no/do mundo. São Paulo: Hucitec, 1996. [livro]
CERTEAU, Michel
de. A invenção do cotidiano: 1.
Artes de Fazer. Petropólis, RJ: Vozes, 1998. [livro]
FREIRE. C. Além
dos mapas: os monumentos no imaginário urbano contemporâneo. São Paulo: SESC,
Annablume, 1997. [livro]
GOMES, Nilma Lino
[orgs]. Diálogos na educação de jovens e adultos. 4ª edição. Belo Horizonte:
Autentica Editora, 2011. [livro]
LAKATOS, Eva
Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 5.
ed. São Paulo: Atlas, 2003. [livro]
LEVI, Giovanni.
Sobre a Micro-História. In: BURKE, Peter. A Escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: Editora USP, 1992. [livro]
LE GOFF, Jacques.
História e Memória. 6ª edição. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2012. [livro]
NORA, Pierre.
Entre memória e história: a problemática dos lugares. Tradução Yara Aun
Khoury. In: Projeto História,
São Paulo, n. 10, p. 7-28, dez. 1993. [artigo]
SCHMIDT, Maria
Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2009. [livro]
Ao longo de nossos levantamentos constatamos que alguns dos bens selecionados, na pesquisa, encontravam-se em acelerado estado de degradação, esquecidos ou objeto de discriminação em razão das práticas religiosas que se davam dentro dos seus espaços, sobretudo os espaços ligados as religiões de matriz africana. É importante relatar que o contato direto com as pessoas da localidade, nos revelou que delas assumiam uma postura de não valorização e por extensão de não reconhecimento daqueles espaços como de importância para a cultura e memória de sua comunidade. Isso nos fez entender as razões pelas quais algumas pessoas entrevistadas tinham uma postura preconceituosa, desrespeitosa ao ponto de não se importarem com os atos de vandalismo cometidos contra bens como o centro umbanda chamado Lar de Ita e, até mesmo, a Igreja Matriz do bairro chamada de Igreja de São Severino.
ResponderExcluirO quê é possível fazer de forma prática para reverter essa situação e garantir a preservação do patrimônio cultural para as futuras gerações, principalmente quando se trata de pessoas que não estão inseridas nos territórios escolares formais ou não?
Patrícia da Silva Fonseca
Olá Patrícia, boa tarde.
ExcluirA educação para o patrimônio é, antes de mais nada, uma problemática que envolve questões políticas, sociais e culturais. Vivemos em uma sociedade onde o esquecimento, além de sua dimensão espaço-temporal, faz parte de um processo histórico de alijamento das classes populares dos espaços distintivos de poder. Portanto, essas ações, ao longo do tempo, fez com que fosse internalizado em nós o desprezo por nossa memória e história. E isso é perceptível na fala do próprio Ronaldo Vainfas onde diz que: a nossa sociedade nos induz a despreza tudo o que diz respeito a negros, índios, mulheres, nordestinos, pobres ou seja, somos educadores desde pequenos a desprezar a nós mesmo. Portanto, em resposta a sua pergunta afirmo que devemos usar o nosso ofício para descolonizar a mente de nosso povo seja através de processos educativos formais ou não. O que importante é educar o nosso povo a reconhecer e valorizar as suas memórias e os lugares representativos dessas memória. Mostrando a eles que a história do negro, do índios, do nordestino, do pobre, das mulheres e todos tem a sua importância e deve ser regatada.
Olá! primeiramente gostaria de lhe parabenizar pela importante discussão e relato de experiência trazido por você a partir da proposta de trabalhar o ensino de história aliado a educação patrimonial, como forma fomentar a valorização, a difusão e a reapropriação dos lugares e espaços de memória da próprio bairro onde se localiza a escola e que resultou no Trabalho de Conclusão do Ensino do Ensino Fundamental II – TCF, em seu texto “ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: EDUCAÇÃO VOLTADA PARA A PROMOÇÃO DA CIDADANIA ATRAVÉS DO RESGATE E VALORIZAÇÃO DOS LUGARES DE MEMÓRIA”. Já participei como co-orientadora desse mesmo projeto, na função de pibidiana na Escola Ministro Jarbas Passarinho, Localizada no Município de Camaragibe-PE. Sabendo dos desafios que se é acompanhar um projeto de TCF, gostaria de saber se as reflexões conclusivas trazidas por você em seu texto sobre as posturas preconceituosas contra os bens culturais como o centro umbanda e a Igreja Matriz da cidade, de que forma foram percebidas, apontadas e problematizadas pelos alunos na pesquisa?
ResponderExcluircordialmente,
Wirlanny Evelyn Oliveira Barros
Olá Wirlanny, boa tarde.
ResponderExcluirMuito importante o que falou. Sim, a questão da resistência e preconceito de alguns alunos, sobretudo os de origem familiar evangélica, acabaram se configurando como um importante instrumento de discussão nesse trabalho. A parti dessa ação pude trabalhar junto a ele a questão do racismo e das desigualdades socioculturais que assolam o nosso País. Aquilo que a princípio poderia ter se tornado um entrave ao desenvolvimento do nosso trabalho se tornou em um importante instrumento didático para exemplificar como as ideias preconcebidas das coisas nos entorpece e nos desconectam de nossa própria realidade social. Por outro lado, serviu para demonstrar para que compreendêssemos como a educação para o patrimônio é muito mais abrangente do que imaginávamos, pois ela se configura como um importante instrumento de alfabetização cultura e de empoderamento dos grupos que historicamente estão alijados dos processos decisórios e dos espaços distintivos de poder.
Grata pela resposta, Eduardo.
ResponderExcluirOlá professor Eduardo! Em uma sociedade de pessoas cada vez mais individualizadas, promover a reflexão sobre a comunidade e seus espaços é sem dúvida um ponto de esperança. Parabéns pelo seu trabalho! Gostaria de saber como foi o aceite por parte da Escola e da comunidade para com a pesquisa? O projeto sem dúvida proporcionou aos alunos uma nova perspectiva de mundo, seria possível uma continuidade do projeto fora da escola para futuros inventários e salvaguarda?
ResponderExcluirMais uma vez, parabéns pelo trabalho realizado!
Lana Martiéli Schröer
Olá Lana, boa noite.
ExcluirDe inicio houve algumas resistências,sobretudo dos pais dos alunos participantes, a maioria deles evangélicos neopentecostais, que duvidam das intenções do projeto. Ou melhor, suspeitavam que de alguma forma estava aliciando os seus filhos para proposito escuso. Só após a intervenção da direção escolar, do conselho da escola e de alguns professores evangélicos mais esclarecidos é que pudemos avançar com o nosso trabalho. Por outro lado, os próprios alunos se mostraram resistentes em, por exemplos, realizar levantamentos de campos no centro de Umbanda da comunidade e na Igreja Católica local. Essas problemáticas acabou se tornando ponto de partida para dar início a um trabalho de desconstrução de preconceitos e descolonização desses estudantes. Em suma, ao final do trabalho, após diversas intervenções, os alunos compreenderam a importância de se reconhecer, preservar e se apropriar do seus lugares de memória. Com relação aos inventários eles, a partir da minha vivencia, eles são viáveis em contextos em que há um todo um trabalho didático prévio para que, após conhecer a realidade local, poder aplicá-los dentro do contexto social local.
Olá, Eduardo! Gostaria de comentar o quão importante percebe-se, na atualidade, o esforço que teu trabalho expõe. Trazer ao alcance de todas e todos essas problematizações acerca do patrimônio cultural, partindo do enunciado pela própria comunidade, vem a romper a longa história meramente memorialista. Nesse sentido, minha pergunta/curiosidade é sobre como tens percebido esse processo de revalorização desses espaços. Houve, por exemplo, alguma ressonância em seus usos ou novos usos, que puderam ser percebidos na/pela comunidade?
ResponderExcluirGrato,
Tianey Weiss
Olá Tianey, boa noite.
ResponderExcluirObrigado! Excelente pergunta, pois a partir desse esforço pudemos trabalhar e conseguir desperta o interesse de nossos estudantes a respeito da importância da preservação e usufruto dos seus lugares/espaços de memória. Em uma certa altura do projeto, percebi um esforço dos alunos que já tinha alguma relação com aqueles bens, que eles se esforçavam para defender, cada um a sua maneira, estratégias para garantir a valorização daqueles lugares. Isso foi muito importante no sentido de que se estavam passando a desenvolver o sentimento de pertença por aquele patrimônio que pertencia a eles. E o legal era que eles são parte da comunidade onde esses bens estão inseridos. Um exemplo é que os alunos que frequentavam a Quadra do Vasco passaram a se articular com outras pessoas da comunidades para viabilizar atividades culturais. Outros, passaram a se articular com o outros professores para que algumas atividades, de suas disciplinas, fossem realizadas no espaço do Teatro Lobatinho e Lar de Ita. Enfim, são muitas histórias e ramificações tomadas por esse trabalho,
Eduardo, obrigado pelas considerações.
ExcluirPrezado Eduardo, parabéns com o trabalho tão significativo com esses meninos e meninas da periferia, já tão estigmatizados e carentes de tudo. Mostrar que eles têm uma cultura valiosa ajuda na construção da preservação e da cidadania, sem falar no agente ativo na comunidade. Eles e elas a preservam porque tem um valor íntimo, não é um monumento a uma figura desconhecida eleita pela elite branca. Tenho algumas curiosidades: Em quais séries do ensino fundamental você implantou o projeto? E Pensou em trabalhar no ensino médio? Grato e mais uma vez parabéns.
ResponderExcluirOlá Luciano, Boa noite.
ResponderExcluirObrigado por suas considerações. O projeto de TCF foi implantando junto aos estudantes do EJA IV FUNDAMENTAL II. Infelizmente não tive a oportunidade de implanta-lo no Ensino Médio, contudo tenho a pretensão de empregar em breve esse trabalho no médio.