Caroline de Alencar Barbosa


AS FORMAS DE APRENDER, AS FORMAS DE ENSINAR: O FASCISMO EFERVESCENTE NA ESCOLA


Sim, existe bem e mal no que fazemos. O bem em mim anseia pela liberdade. O mal existe à beira da raiva da estrada ou uma ofensa racial esperando para explodir em um mundo de perfeição, respostas e ordem. Eu sou capaz de qualquer um. Eu não estou orgulhoso do The Wave, mas não posso escapar disso! É como um chamado que só fica mais alto! Para mim, The Wave é uma história de fantasmas. O que podemos ser. O fascínio do bem e do mal. Escolhas. [Jones, 2019, p.1].

Por volta das duas últimas semanas de março do ano de 1967, durante uma aula da disciplina História do Mundo Contemporâneo, ministrada pelo professor Ron Jones com suas turmas dos segundo, terceiro e sexto períodos, um questionamento de um discente foi o ponto de partida para o início do experimento que mudaria a carreira docente de Jones, a vida dos discentes e o próprio ambiente escolar: A Terceira Onda.
        
A aula abordava a Alemanha durante os anos em que o nazismo esteve no poder e as formas de apoio das massas para a ideologia pregada por Adolf Hitler [1889-1945], líder do NSDAP [Partido Nacional-Socialista Alemão dos Trabalhadores]. Neste período a população alemã mostrava-se insatisfeita com o cenário político, econômico e social do pós-guerra e as imposições do Tratado de Versalhes, no qual a Alemanha tornava-se responsável pela guerra.

Ao situar o cenário alemão durante a Segunda Guerra Mundial, expondo o contexto e ideais propagados por Hitler e seus associados, Jones foi questionado por um discente, dando o ponto de partida para o exercício da Terceira Onda, que consistiu no seguinte:

Como poderia o povo alemão alegar ignorância do massacre do povo judeu? Como poderiam os habitantes da cidade, condutores de estradas de ferro, professores, médicos, afirmar que não sabiam nada sobre campos de concentração e carnificina humana? Como as pessoas que eram vizinhas e talvez até mesmo amigas do cidadão judeu dizem que não estavam lá quando isso aconteceu? [Jones, 1967, p.2].

Ao que Jones, em artigo publicado citou “Foi uma boa pergunta. Eu não sabia a resposta.” Porém, antes de apresentar o que foi aplicado pelo docente na turma após esse questionamento tornou-se importante ressaltar que, tanto a população alemã quanto a opinião pública internacional sabiam do que se passava, até mesmo com detalhes [Lenharo, 2006, P.7].

Jones decidiu aplicar um experimento no qual criou um ambiente que apresentou alguns dos elementos que faziam parte do cotidiano da população alemã durante o governo de Terceiro Reich [1933-1945], para demonstrar aos alunos sua ideia de teoria do movimento em que "o homem tem basicamente uma natureza autoritária. Ele gosta de ser conduzido e ser selecionado" [The Catamount, 1967, p.3]. O objetivo era demonstrar no período de uma aula a questão apresentada.

Na aula, Jones aplicou o exercício de disciplina, uma das experiências vividas pelos alemães e considerada como triunfo final. “Antes de os alunos chegarem, limpou vigorosamente a sala de aula e organizou as mesas em filas anormalmente retas. Ele diminuiu as luzes e tocou a música wagneriana enquanto os alunos chegavam” [Weinfield,1991, p.1].

Neste momento, ordenou que os alunos se sentassem com a coluna ereta, pés no chão, mãos apoiadas para alinhar a coluna. Reafirmava a importância da disciplina para melhoria da concentração nas aulas. Baseou-se em seus conhecimentos teóricos das técnicas de controle social que funcionavam durante o nazismo, onde grupos criavam uma coesão de “marchas, cantos, uniformes, exercícios militares”.

O exercício de sentar-se na posição correta foi repetido por diversas vezes até que todos os alunos entraram na sala e sentaram-se em apenas cinco minutos, em posição e silêncio. Este fato despertou a curiosidade do professor de, até onde esses alunos iriam? Por que aceitavam suas ordens? Isso o fez continuar a aplicar suas ideias, passando a incluir outros elementos e verificar como eles seriam recepcionados pelos alunos.

Seguindo com o experimento, Jones adotou algumas regras de conduta para os discentes, que deveriam ser respeitadas durante as suas aulas, sob a consequência de punições nas notas ou até mesmo ser expulso da classe e do que passou a se chamar “movimento da Terceira Onda”, onde o docente decidiu:

Convencer os alunos [grifo nosso] que seu "Movimento Terceira Onda", "iria se tornar um movimento nacional que eliminaria a democracia, uma forma de governo que, segundo o Sr. Jones, "tem muitos aspectos não naturais uma vez que a ênfase é sobre o indivíduo, em vez de uma comunidade disciplinada e envolvida." [The Catamount, 1967, p.3].

As primeiras regras elencadas por ele foram: 1. Posição de atenção antes do sinal tocar; 2. Lápis e papel para tomar notas; 3. Ficar de pé ao lado da carteira ao fazer uma pergunta, devendo sempre ser iniciada com Mr. Jones. Quanto ao tratamento da Onda enquanto movimento, devemos ressaltar que, apesar de Hitler considerar o seu NSDAP como um partido, seus membros não pensavam da mesma maneira, principalmente no que diz respeito à população em geral que a consideravam enquanto um movimento, pois “a maioria dos fascistas chamava suas organizações de movimentos, campos, bandos, rassemblemts, ou fasci: irmandades que não atiçavam grupos de interesses uns contra os outros, afirmando unir e revigorar a nação.” [Paxton, 2007, P.105].

Segundo Jones, o que se percebeu em relação aos alunos foi sua facilidade em seguir essas regras e comandos autoritários, com perceptível melhoria na participação nas aulas e no aprendizado. Mas a que preço tudo isso ocorreu? 

No segundo dia, ao entrar na sala o professor vislumbra sua turma sentada em silêncio e posição de sentido. Instigado por essa iniciativa que partiu dos discentes, decidiu continuar seu experimento e anunciar os dois primeiros slogans que formariam aquele movimento rumo a uma nova sociedade, conforme já exposto em citação anterior.

Com “Força através da disciplina” e “Força através da comunidade” Jones realiza um reforço repetido destes lemas para incutir nos alunos um sentimento de que somente a disciplina e a união entre os membros da Terceira Onda elevariam o movimento, já os alunos “começaram a olhar um para o outro e sentir o poder de pertencer” [Jones, 1976, p.3]. 

Esta ideia de reforço foi utilizada por Jones através dos slogans ditos em voz alta por toda a turma. A força foi utilizada enquanto termo gerador, destacando-se a necessidade do seu uso para obtenção de disciplina, envolvimento e ação. Enquanto ponderava se continuava ou não com o movimento o professor também abordou o tema da comunidade:

Eu inventei histórias de minhas experiências como atleta, treinador e historiador. Foi fácil. Comunidade é essa ligação entre indivíduos que trabalham e lutam juntos. Está levantando um celeiro com seus vizinhos, sentindo que você é parte de algo além de si mesmo, um movimento, uma equipe, La Raza, uma causa [Jones, 1976, p.3].

Jones admitiu que “continuava esperando a rebelião, alguma dissidência estudantil, mas não houve nenhuma”, ainda segundo ele três estudantes ao se opor ao movimento foram imediatamente “extirpadas à biblioteca” [Herald Journal, 1976, p.43].

Após os slogans, ocorreu a criação da saudação, para criar um ambiente com maior semelhança em relação ao nazismo, mas, ao invés do braço estendido, levantava-se a mão direita em direção ao ombro direito em uma posição curvada. Jones afirmou que “eu chamei a saudação da Terceira Onda porque a mão se parecia com uma onda prestes a terminar. A ideia para os três [Terceira Onda-grifo nosso] veio da tradição da praia que as ondas viajam acorrentadas, sendo a terceira onda a última e a maior de cada série”. [Jones, 1976, p.3].

Seja andando pelo corredor, no refeitório ou na biblioteca, os alunos eram vistos seguindo os pressupostos da Onda. Assim, “a mística de trinta pessoas que faziam essa estranha reviravolta logo trouxe mais atenção para a classe e sua experiência na personalidade alemã. Muitos alunos de fora da turma perguntaram se poderiam participar.” [Jones, 1976, p.3].

A saudação atrelada ao símbolo representava o que era mais significativo para aquela juventude, pois, ao utilizar a mão em forma de Onda os alunos se integravam ao movimento utilizando símbolos que ressaltavam toda a cultura que os cercava. Remetia à cultura do surfe, da Califórnia. Curiosamente, apesar de interligar-se a uma cultura que era “caracterizada pela movimentação em busca de ondas, vida barata, individualismo, liberdade da multidão e ausência de emprego estável” [Zane, 1992, p. 21], esses estudantes estavam se aliando a um movimento de caráter autoritário e com base na ausência de liberdade individual e seguimento de disciplina.

Segundo Coelho [2004, p.324], a contracultura e a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos são movimentos de caráter transformador na política. Em contrapartida temos nesse mesmo cenário práticas e comportamentos transgressores e violentos formando a “mola mestra” das mudanças comportamentais do século XX.

A violência passa a fazer parte do cotidiano ao lado da intolerância, racismo e da destruição em massa. Não quer dizer que práticas como estas não ocorriam em séculos anteriores, mas este novo século traz consigo novas demandas sociais e novas discussões em torno do corpo, do trabalho, do lugar de fala e de aspectos sociais como lazer e moradia. No cenário americano da contracultura na década de 1960, vale ainda ressaltar que:

“Basicamente, os direitos civis são aqueles que dizem respeito à liberdade de expressão e à igualdade entre qualquer cidadão perante a lei. Nos Estados Unidos, essa visão torna-se mais específica, colocando como base dos direitos civis o pleno exercício dos direitos garantidos peça sua constituição. Entre eles, os principais são aqueles que garantem liberdade de culto, de pensamento, de opinião e os demais direitos relacionados diretamente às leis e tribunais. [Coelho, 2004, p.330].

Dessa forma, o que justificava a plena adesão desses alunos a um movimento que ia contra tudo o que a juventude lutava? Um movimento que limitava a liberdade, os direitos e colocava os estudantes frente à autoridade de um único indivíduo, o Sr. Jones, que podia ditar regras, expulsar e punir membros, censurar a fala e as ações desses estudantes dentro e até mesmo fora da escola. A juventude de 1960 vista como protagonista de movimentos sociais emblemáticos do século XX agora se apresentava como fiéis seguidores de uma ideologia.

Associado a uma a ideia atrativa de que a Terceira Onda iria se tornar um movimento nacional, Jones e seus “wavers” desenvolveram símbolos, saudações e seguiram normas de conduta dentro e fora da sala de aula. A todos foi atribuída uma tarefa a ser concluída: alguns eram para memorizar os nomes e endereços de todos no grupo; Outros eram fazer bandeiras da terceira onda, braçadeiras e cartões de membro [Weinfield, 1991, p.2].

Vale ressaltar que os slogans não se restringiram a “Força através da disciplina” e “Força através do envolvimento” e os elementos que deram significado ao experimento, tornando-o um movimento, não pararam na criação da saudação. Outro elemento importante e que deu força ao movimento foi o símbolo da Onda, que foi amplamente utilizado para identificar e aproximar aquela juventude que integrou o movimento pois, para a juventude californiana, era comum a prática do surfe.

Ressaltamos aqui que os símbolos e mitos não foram inventados pelos fascistas e sim selecionados aqueles que melhor serviam a seus fins a partir dos repertórios culturais de cada país [Paxton, 2007, p.76] e, nesse caso, a Onda foi o elemento escolhido na Cubblerley.

Para a juventude californiana da década de 1960, a Onda não foi somente um símbolo, mas um estilo de vida e parte de suas histórias. Segundo Zane, a história do surf na Califórnia foi representativa para a sua população, que desde 1885 começara a desenvolver uma cultura em torno da prática do surf, formando comunidades, clubes e estilos próprios de vida. A disseminação da cultura do surf no fim da década de 1950 e início de 1960 transformou o cenário californiano no qual “a população de surf explodiu, assim como a importância do surf para a cultura jovem nacional.

Assim, todos esses elementos criaram naqueles alunos o sentimento de união e o indivíduo não era mais visto como algo separado, mas parte integrante de uma comunidade, segundo o The Catamount, “Mr. Jones reforça nos seus alunos a ideia de que por meio da disciplina e envolvimento eles se tornariam seletos” [21/04/1967]. Assim, os integrantes estariam realizando a participação de uma empreitada coletiva- Sacrificar os próprios interesses em favor de um interesse grupal.

O slogan “Força através da comunidade” deu subsídios para os estudantes que, ao cumprimentarem-se com a saudação nos corredores, atraíram a atenção de alunos de outras classes, “que clamavam para saber o significado da saudação”, disse Coniglio, ex-aluno da Cubberley e ex-integrante da Terceira Onda. Os estudantes começaram a pular suas aulas regulares, pedindo para fazer parte da Terceira Onda. Em três dias, a turma de Jones se expandiu de 20 para 60 alunos.” [Weinfield,1991, p.3].

Assim, o movimento vivenciou sua ampliação de turmas e número de integrantes, pois a mística de mais de trinta pessoas que nos refeitórios, corredores, biblioteca faziam a saudação em formato de onda trouxe mais atenção para a classe e sua experiência na personalidade alemã. Com essa presença ativa e solicitação de inclusão por parte de outros discentes, os integrantes da Onda, orientados por Jones, criaram cartões de inscrição para os novos adeptos.

Cada vez mais os alunos mostraram-se dispostos a manter o movimento forte e unificado, convencidos de que estavam realizando um serviço a seu país. Por isso, para evitar a rebelião, foram feitas regras que tornava ilegal, para qualquer membro do grupo, se reunir em grupos maiores que três fora da classe.

Apesar de tais regras estritas, houve ofensas. “Membros indisciplinados foram banidos para a biblioteca e suas notas foram reduzidas.” [The Catamount, 1967, p.3]. No documentário Lesson Plan, Philip Neel, ex-aluno da Cubberley e ex-integrante da Terceira Onda relatou que “as pessoas com cartões marcados deveriam denunciar quem descumprisse as regras da Onda, porém depois descobriu-se, através de Jones, que mais de três pessoas fizeram denúncias”, além disso os membros mais radicais da Terceira Onda passaram a atacar membros da imprensa estudantil que queriam escrever sobre o assunto.

Dessa forma, a Terceira Onda tornou-se um problema na Cubberley, gerando um clima de tensão e violência que foi percebido por membros da escola e pais de alunos onde “um grupo teria tido 50 pais que apoiaram um boicote para remover Jones como professor por causa de "um movimento eles não entendem muito bem".” [The Catamount, 1967. p.3]. Jones relatou que “o rabino de um dos pais me ligou em casa. Ele foi educado e condescendente. Eu disse a ele que estávamos apenas estudando a personalidade alemã. Ele parecia encantado e me disse para não me preocupar. Ele conversaria com os pais e acalmaria a preocupação deles” [Jones, 1976, p.5].

Após esses acontecimentos encaminhou-se para o fim o experimento mais bem-sucedido de Jones na Cubberley. Decidido a finalizar o movimento da Terceira Onda, convocou seus membros para uma reunião no auditório da Cubberley afirmando que iriam ouvir o seu líder nacional proferir um discurso:

Às doze horas eu fechei a sala e coloquei guardas em cada porta. Mais de duzentos alunos foram espremidos no quarto. Não foi encontrado um lugar vago. O grupo parecia ser composto por estudantes de muitas persuasões. Havia os atletas, os líderes estudantis, os solitários, o grupo de crianças que sempre saía cedo da escola, os motociclistas. A coleção inteira, no entanto, parecia uma força quando eles se sentaram em perfeita atenção. Cada pessoa focando no set de TV que eu tinha na frente da sala. Ninguém se mexeu. A sala estava silenciosa. Foi como se todos nós fossemos testemunhas de um nascimento. A tensão e a antecipação estavam além da crença. [Jones, 1976, p. 7].

Assim, no auditório lotado de estudantes, Jones ligou a televisão e “a grande Onda viu sua conclusão onde os alunos no auditório ouviram Hitler discursar no aparelho de TV” [The Catamount, 1967, p.5]. Após a exibição na TV, Jones tomou a palavra e explicou que tudo aquilo que fora vivenciado naquela semana não passou de um experimento e ressaltou como os estudantes que ali se encontravam foram facilmente levados ao fascismo, praticando violência, segregação, tornando-se fanáticos e alienados.

O fim da Terceira Onda dividiu opiniões entre os alunos entrevistados pelo The Catamount em 1967 em que um estudante do segundo período, Joel Amkraut, colocou, "todos nos sentimos estúpidos sobre isso. Ele com certeza nos fez de bobos. Eu acho que eu esperava um líder nacional.". Outro estudante, Todd Austin, guarda-costas pessoal do Sr. Jones, expressou a opinião de que "eu realmente meio que gostei. Eu fui para a reunião, porque eu estava curioso". Steve Coniglio relatou ter ficado satisfeito com o resultado afirmando que "foi provavelmente a unidade mais interessante que eu já tive. Foi bem-sucedida em seu objetivo de alcançar as emoções dos alemães sob o reinado nazista".

A Terceira Onda não trouxe consigo a guerra, o genocídio, nem a mudança no cenário nacional, porém o que inquietou e fez questionar foi a facilidade com que as pessoas aceitam, em contextos e sociedades distintas, práticas como essas. Segundo Steve Coniglio, um ex-aluno e integrante da Terceira Onda, ao final da experiência, o sentimento era de que “ali estávamos nós, todos conhecedores da história recente, e a situação a repetir-se” [Lesson Plan, 2011]. 

A pressão social levou as pessoas a compactuar com atos, tais como Auschwitz. Assim, discute-se o que levou aquela juventude a praticar atos de vandalismo, agressões e violência. A ocorrência de situações de desconforto, alienação e exclusão pode ter sido fator decisivo para a adesão desses estudantes ao fascismo, portanto foi preciso buscar as razões nos perseguidores e não nas vítimas. Nesse caso, o experimento da Cubberley e seus resultados refletem um sintoma social de que o fascismo pode se manifestar das formas mais diversas e nos mais variados contextos.

A prática/adesão ou não do fascismo pode, em alguns casos, ser compreendida mais como uma questão social do que psicológica sendo possível identificar uma necessidade de obedecer a regras e normas estabelecidas por um poder, cuja consciência e moralidade dão lugar à dependência e essa disciplina, com forte adesão, muito ocorre mais por necessidade humana de “identificar-se como cidadão confiável” [Adorno, 1995, p.124], mesmo que essa identificação não tenha base sólida, nem razão consistente.

Referências
Profª Ma. Caroline de Alencar Barbosa. Mestre em Educação na Universidade Federal de Sergipe [PPGED/UFS]. Graduada em História na Universidade Federal de Sergipe [DHI/UFS]. Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente [GET/UFS]. E-mail: caroline@getempo.org

ADORNO, Theodor W. Educação e Emancipação.Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1995. [livro]

COELHO, Frederico Oliveira. Revolução comportamental no século XX. In: O século sombrio: guerras e revoluções do século XX. SILVA, Francisco Carlos Teixeira da. Rio de Janeiro, Elsevier, 2004, pgs. 323-344. [artigo]

JONES, RON. The Third Wave, 1967: na account.The Wave Home, 1976. Disponível em: http://www.thewavehome.com/. Acesso em 11 de fevereiro de 2019. [internet]

KLINK, Bill. From journalism book to... Cubberley Senior High School, Palo Alto, vol. 10, nº 10, 3 de março de 1967, p. 2. [livro]

LENHARO, Alcir. Nazismo: “o triunfo da vontade”. 7º ed.- São Paulo: Ática, 2006. [livro]

LESSON PLAN: A Documentary about “The Third Wave. Direção e Produção: Philip Neel e David H. Jeffery. State of Crisis Productions, 2011. [livro]

PAXTON, Robert O. A anatomia do fascismo. Tradução de Patrícia Zimbes e Paula Zimbes. São Paulo: Paz e Terra, 2007. [livro]

SAN FRANCISCO. Ron Jones interview. 2019. Disponível em: http://66.147.244.77/~ronjones/wave-interview/Acesso em 11 de fevereiro de 2019. [internet]

TEACHERS CALLS EXPERIMENT IN FASCISM. Herald Journal, 14 de julho de 1976. [internet]

WEINFIELD, Leslie. Remembering The Third Wave. In: Península Magazine, 1991. Disponível em: http://www.thewavehome.com/1991_The-Wave_article.htm Acesso em 11 de fevereiro de 2019. [internet]

ZANE, Wallace W. Surfers of Southern California: structures of identity. Dissertação de mestrado em Artes. Universidade McGill, Montreal. 1992.

18 comentários:

  1. Pensando o tema do fascismo na atualidade brasileira, que estratégias o professor poderia utilizar no combate a emergência de um discurso fascista no ambiente escolar, em tempos que o educador é constantemente encurralado pelas críticas de ser um ‘doutrinador’.

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    1. Prezado Thiago, boa noite.

      Gostaria de agradecer a leitura e apreciação do texto.
      Em relação à postura do professor em sala de aula quando trata de temáticas como esta é necessário um planejamento cauteloso dos recursos que irá utilizar. É importante que ocorram leituras e pesquisas aprofundadas sobre estes conteúdos, pois os mesmos geram muitos questionamentos e debates. A leitura de teóricos como Adorno, Francisco Carlos Teixeira e Paxton podem auxiliar nesse processo.
      Assim, previamente, é necessário identificar/elencar por quais motivos as pessoas cometem tais atos. Ressalto aqui a força do tema no âmbito educacional, por ser a escola um ambiente de elucidação, formação de conceitos e de pensamento crítico. Esclarecer estes pontos de forma clara e bem conceituada pode fornecer aos discentes ferramentas de combate a barbárie e ao extremismo político.

      Atenciosamente

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  2. Por meio de que atividades ao seu ver o professor das Ciências Humanas, em especial do campo de História podem trabalhar essas temáticas com os estudantes do Ensino Básico sem precisar recorrer a experimentos do tipo? Que metodologias podem alcançar os resultados de maneira eficaz e com menos riscos?

    Matheus Siqueira Barboza

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    1. Prezado Matheus, boa noite.

      Agradeço a leitura e apreciação do texto.
      Acredito que o debate consiste em um bom método para tratar esses temas. Apresentar previamente aos estudantes textos, documentários e fontes históricas que forneçam aos discentes as bases teóricas pode contribuir para uma construção do conhecimento mais consistente. Por exemplo, ao tratar de temáticas como o fascismo e a disseminação do antissemitismo podem acessar documentos disponíveis no site Yad vashem um centro de memória que utiliza uma base educacional para preservação da memória das vítimas e dos eventos da Shoah. Esses acervos documentais são de grande relevância para o ensino de história e devem ser amplamente utilizados em sala de aula.

      Atenciosamente
      Caroline de Alencar Barbosa

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  3. Cada vez que leio sobre esse experimento me sinto assustada, quando vi os dois filmes (o americano, e o posterior lançado na Alemanha) também me senti ameaçada. Afinal, foi provado justamente o quão facilmente as pessoas podem não só participar, como apoiar ativamente um movimento fascista, sem se quer perceber.
    A senhora nos trouxe essas informações sobre a experiência norte-americana afim de ligar com o atual panorama educacional brasileiro? Se sim, acredito que como profissionais críticos só nos resta ensinar nossos alunos a questionar esses tipos de abordagens. Em que cenários a senhora acredita que esse tipo de movimento pode se proliferar no Brasil atual?
    Obrigada por seu artigo, ele é justamente o tipo que nos faz lembrar o quanto o ensino de História é importante em nossa sociedade!

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    1. Prezada Krishna, boa noite.

      Agradeço a leitura e apreciação do texto, bem como os comentários.
      De fato perceber que uma experiência retratada no cinema foi um experimento real nos causa inquietação. Apesar da pesquisa não ter como objetivo realizar uma conexão com o Brasil na atualidade é inevitável que este debate ocorra, pois o tema está em efervescência em nosso cotidiano, nas mais variadas esferas e cenários. Percebemos esse discurso vindo de realidades até mesmo inesperadas, percebendo que o fascismo só precisa de pessoas dispostas a aceitar suas premissas.

      Ao analisar a Terceira Onda me deparei com outro experimento de simulação e criação de um ambiente fictício a partir das considerações feitas pelo psicólogo Phillip Zimbardo em “O Efeito Lúcifer” (2007), que tratou de seu experimento, realizado na Universidade de Stanford, onde os alunos passaram por uma situação na qual uns foram selecionados para guardas e outros para presos. Zimbardo percebeu a semelhança nos resultados e nos depoimentos dos envolvidos em seu experimento e os alunos de Jones. Inclusive este caso também foi retratado pela ótica cinematográfica.

      Dessa maneira, percebemos ao longo da pesquisa que a ascensão de movimentos de extrema-direita na atualidade, incluindo o Brasil e as palavras de ódio proferidas por esses grupos carecem de análises pela perspectiva da Educação com a finalidade de promover um debate significativo e, se possível, contribuir para subsidiar os profissionais do ensino, principalmente nas humanidades, na elucidação dessas temáticas.

      Atenciosamente
      Caroline de Alencar Barbosa

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  4. Parabéns pelo texto!
    Durante alguns anos trabalhei com o filme alemão em sala no contexto do nazi fascismo e, sinceramente, foco apavorado com a conjuntura nacional na qual nos encontramos atualmente.
    Você percebe possibilidades para que, enquanto professores de história, possamos contribuir para a "cura" destes nefastos sintomas que se apresentam em nossa sociedade?

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    1. Prezado Jeferson, boa noite.

      Agradeço a leitura e apreciação do texto.
      Pensar em uma “cura” vem da nossa crença na redenção a partir da educação. Porém, é um erro acreditar que todas as pessoas fascistas declaradas possuem pouca instrução. Muitas vezes o movimento é contrário, pois as pessoas têm conhecimento sobre a temática e insistem em promover um discurso de negação. Para alguns, a extrema-direita e a intolerância é uma escolha consciente. Assim, cabe aos educadores proteger-se desses ataques diretos com base argumentativa consistente para não deixar-se levar por um comentário em sala, uma crítica e até mesmo um ataque direto. Estamos lidando com tempos nefastos e necessitamos de todos os recursos disponíveis para enfrentá-lo.


      Atenciosamente
      Caroline de Alencar Barbosa

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  5. Parabéns pelo texto, Caroline. Seu estudo é importante para pensar sobre o quanto a história se faz importante no currículo e na vida das pessoas. De fato, os comportamentos fascistas exercem um fascínio muito grande sobre os jovens. A demonstração de força, poder fazer parte de um grupo seleto, mas também ter alguém para seguir, um líder carismático. Suas reflexões fazem pensar também sobre a responsabilidade do professor de história na escola do século XXI. Concordo com Thiago (comentário acima), quando ele diz que o professor atualmente é apontado como um doutrinador. Sobretudo se você for professor de história, eu acrescentaria. Você já chegou a exibir o filme para alunos da educação básica? Recomenda que isso seja feito?

    Andreza Maynard

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    1. Prezada Andreza, boa noite.

      Agradeço a apreciação do texto e os comentários.
      Infelizmente ainda não tive a oportunidade de utilizar o filme em sala de aula. Acredito que o mesmo é um recurso que pode fomentar um debate significativo sobre o tema. Particularmente eu realizaria a exibição junto com a apresentação do caso californiano, pois assim poderia transpor o fictício e, dessa forma, analisar junto aos discentes o que eles consideram enquanto elementos motivadores para a imersão dos alunos da Cubberley na simulação e quais as críticas deles a partir desta identificação. Entendo o ambiente escolar como um espaço de convivência de indivíduos plurais e com características físicas e psicológicas que os diferem entre si. Dessa forma, considero que o papel do educador aparece no sentido de fornecer caminhos para o respeito e a tolerância entre os discentes, além de aprimorar seus conhecimentos técnicos, críticos e do mundo.

      Atenciosamente
      Caroline de Alencar Barbosa

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  6. Oi, Caroline. Tudo bem?

    Em primeiro lugar, gostaria de te parabenizar pelo excelente (e importante) texto, especialmente em tempos em que podemos visualizar, novamente, o autoritarismo de perto.

    Conhecia muito superficialmente o experimento realizado por Jones, no qual te referistes no texto. No entanto, apesar de inquietante, foi interessante refletir sobre a lógica desenvolvida por ele, especialmente quanto ao desenrolar da história. Achei significativa também a fala do estudante que colocastes no final, em que ele cita: “[...] ‘ali estávamos nós, todos conhecedores da história recente, e a situação a repetir-se’.”. Fiquei inquieta, como disse anteriormente, observando como as pessoas podem ser facilmente manipuladas e escorregar em um discurso fascista.

    Lendo sobre isso tudo [especialmente no último parágrafo, em que tu fala em “[...] obedecer a regras e normas estabelecidas por um poder [...]”], não pude deixar de lembrar de Foucault, em Microfísica do Poder. Foucault desenvolve a ideia de que o poder está em todos os lugares e em todas as relações, sendo ele [poder] uma rede produtiva – de discursos, inclusive. Nesse sentido, está correto, em sua opinião, traçar esse paralelo? Seria possível obter do pensamento foucaultiano uma contribuição para essa reflexão que fazes?

    Novamente, Caroline, te parabenizo pelo texto. Foi uma leitura importante e extremamente pertinente. Sucesso!

    Abraços,
    Larissa Medina Marques.

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    1. Prezada Larissa, boa tarde.

      Agradeço a leitura e apreciação do texto.

      Sinceramente o meu contato com Foucalt não é muito aprofundado. Os teóricos que utilizo para o desenvolvimento da minha dissertação são especialistas em Fascismo e tenho uma ampla leitura no que se refere ao nazismo alemão.

      Sem ter a intenção de me apropriar de teorias das quais não tenho domínio para discutir, agradeço seu comentário. Com certeza irei me aprofundar nas teorias de Foucalt para tentar perceber essas nuances que você identificou.

      Muito Obrigada!

      Atenciosamente
      Caroline de Alencar Barbosa

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  7. ENOS ANDRÉ DE FARIAS21 de maio de 2020 às 19:17

    Caríssima Professora,

    Sua pesquisa e escrita, de suma importância para nosso momento histórico e social, onde o discurso fascista e a polarização da política, tem mantido esse assunto evidência. Mas minha pergunta transcende o texto: gostaria que você relatasse como os demais professores da escola acompanhou seu projeto, já que a exibição de filmes como metodologia de ensino, nem sempre é aceita pelos demais professores.

    Grato.

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    1. Prezado Enos, boa tarde.

      Agradeço a leitura e apreciação do texto.

      Em relação ao filme durante a pesquisa para a dissertação, o mesmo não foi utilizado. Meu objeto de estudo são os jornais estudantis e o caso real ocorrido na Califórnia.
      Nesse caso, o filme foi citado para indicar que existem produções cinematográficas baseadas no caso da Cubberley.

      Obrigada!

      Atenciosamente
      Caroline de Alencar Barbosa

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  8. Olá professora Caroline! Parabéns pelo ótimo texto! Eu leciono História nos anos finais do Ensino Fundamental e percebo um aumento de ideias, práticas, posturas e piadas que podem ser classificadas como autoritárias, repressoras, depreciativas e discriminatórias, tanto por parte de alguns professores quanto por parte de alguns alunos, o que é mais preocupante. Você acredita que no caso dos alunos, a influência dos pais e do uso indiscriminado das redes sociais são os principais fatores para que os jovens aprendam e reproduzam discursos e práticas protofascistas? Você acredita que o crescimento dessas ideias em ambiente escolar está ligado ao contexto histórico que estamos vivenciando, não só no Brasil, mas em outros países ocidentais?

    Oscar Martins Ribeiro dos Santos

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    1. Prezado Oscar, boa tarde.

      Agradeço a leitura e apreciação do texto.

      As redes sociais de fato formam uma massa de pensamento (não necessariamente crítico) nos jovens e até mesmo nos pais. Muitos são levados pelas informações sem a busca tão necessária da fonte de disseminação desses dados.
      Esse reflexo aparece na sala de aula e nos intensos debates que ocorrem na mesma, sobretudo em torno de temas como estes.

      Sobre o crescimento destas ideias sigo muito as formulações de Paxton em relação a ascensão do fascismo, onde o mesmo apresenta que um novo fascismo teria que, necessariamente, encontrar o “outro conveniente” ou "inimigo objetivo" termo de Peter Gay que traz como elemento dos regimes fascistas a busca pelo "bode expiatório", o culpado de todos os erros e mazelas da população.
      Por exemplo, a respeito de “um fascismo norte-americano”, nas palavras do mesmo autor, este seria “autenticamente popular, seria religioso, antinegros e, a partir do 11 de setembro, também antiislâmico” (2008, p. 287).
      Deste modo, percebemos que há possibilidade de apropriação do fascismo em um contexto totalmente distinto, a partir da inclinação das massas em aceitar a ideologia, reforçada pela censura, violência e propaganda, porém que estes elementos variam conforme o contexto.


      Atenciosamente
      Caroline de Alencar Barbosa

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