APRENDIZAGEM HISTÓRICA E AS IMPOSIÇÕES DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR
Tendo em vista a
implementação da BNCC [Base Nacional Comum Curricular] e sua interferência
direta em diferentes âmbitos: currículos escolares, formação de professores/as
e políticas públicas como o PNLD [Plano Nacional do Livro Didático],
apresentaremos brevemente como foi o processo de elaboração da Base, as
principais mudanças ocasionadas pelo documento para a disciplina de História e
nos materiais didáticos e, principalmente, quais as críticas tecidas por especialistas
da área do ensino perante a tais normativas, relacionando-as às concepções da
Didática da História sobre a aprendizagem histórica.
"No dia 3 de
janeiro, o presidente Jair Bolsonaro classificou os livros didáticos como
‘péssimos’ e com ‘muita coisa escrita’ e anunciou que o governo promoveria
alterações. Dias depois, o ministro Abraham Weintraub reforçou a crítica e
disse que os livros ficarão mais baratos e sem ideologia. O
secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel, também revelou que o governo
está elaborando um novo edital do Programa Nacional do Livro e do Material
Didático [PNLD] para que os livros didáticos, distribuídos nas escolas de todo
o país, fiquem livres de “doutrinação”. O governo não adianta que mudanças são
previstas para o edital. Autores ouvidos pela Gazeta do Povo, na condição de
não se identificarem, dizem que trabalham para evitar discussões de gênero e
‘suavizar’ o conteúdo a respeito da ditadura militar." [Gazeta do povo,
2020]
Não é difícil nos
últimos meses encontrar inúmeras notícias semelhantes a esse trecho da reportagem divulgada pela Gazeta do Povo em 13 de
janeiro de 2020. Os livros didáticos e, em específico a disciplina de História,
são alvo de discursos que buscam interferir no que deve ser ensinado e aprendido
pelos brasileiros, mesmo que tais posicionamentos não
expressem conhecimento da complexidade do processo de elaboração, produção,
avaliação, escolha e uso dos materiais didáticos, bem como das pesquisas
entorno do ensino de História, ou então, que desconsiderem tais aspectos a favor da manutenção do poder,
fazendo com que tais ideias perpetuem na cultura do país. Isso se relaciona com
a dimensão política da constituição histórica de sentido que, conforme Rüsen
[2015], sempre costuma estar presente na cultura histórica, pois “o estado e a
sociedade sempre tiveram interesse em tornar a cultura política útil para o
futuro, para as sucessivas gerações, reforçando, assim, os critérios
determinantes da legitimação histórica do poder.” [Rüsen, 2015, p. 250]
Dessa forma, se
faz necessário ressaltar que documentos e prescrições que visam reger a
educação, se articulam diretamente ao contexto nacional atual e aos interesses
manifestados pelos agentes detentores do poder político do país. Movimentos
como “Escola Sem Partido” e “Escola Livre”, ataques aos professores/as e aos
materiais didáticos, bem como o avanço do conservadorismo e a perda de
conquistas sociais, têm ganhado força. Dessa forma, a Base Nacional Comum
Curricular, discutida de 2015 a 2017, é fruto de um momento político conturbado
do Brasil, cujas discussões perpassaram por diferentes gestores do poder. Como
bem ressalta Caimi [2016], documentos como a Base se relacionam com as disputas
políticas, que visam regular os sujeitos. O ensino de História em especial,
sempre está vinculado por interesses e disputas por legitimidade, inclusive
para a manutenção de determinados grupos no poder:
“A tarefa de
construir uma base curricular comum para o conhecimento histórico escolar
implica trazer ao âmbito do debate público as disputas em torno de ideias
quanto ao que, do passado, é válido e legítimo ensinar às novas gerações.”
[Caimi, 2016, p. 88]
O processo de
implementação da BNCC nasceu através do Plano Nacional de Educação aprovado
pelo Congresso Nacional, que, através da Lei 13005/2014, estabeleceu 20 metas
para a educação do país, a serem alcanças em dez anos, ou seja, até 2024. A
meta 7 faz referência à melhoria da qualidade e da aprendizagem na Educação
Básica e, uma das alternativas para atingir tal meta, consistiu na implantação
de uma base comum a nível nacional para reger todos os anos do Ensino
Fundamental e Médio. Em 2015, foi instituída uma comissão para a elaboração da
proposta da Base, que formulou sua primeira versão, a qual pôde ser consultada
publicamente. No entanto, em relação à disciplina de História, diversos
conflitos políticos e teóricos acabaram por ocorrer durante a discussão do
documento, o que culminou na reelaboração e na formulação da segunda versão da
Base por outro grupo de profissionais. Após o golpe que depôs a presidente
Dilma Rousseff, o Ministério da Educação passou para as mãos de novos gestores,
e a BNCC contou com sua terceira versão. [Franco; Guimarães; Silva Junior,
2018, p. 1018-1019]
A primeira versão
da Base, foi elaborada por doze profissionais dedicados ao campo do ensino de
História, sendo pertencentes a diferentes instituições educacionais e regiões
do Brasil. O documento preliminar representava a possibilidade de mudança no
ensino de História discutida há décadas por pesquisadores, ao modificar o
ensino tradicional da disciplina, o qual consiste em meramente reproduzir
conteúdos, muitas vezes factuais e eurocêntricos, em forma de verdades prontas
e acabadas, o que destoa completamente das discussões contemporâneas sobre a
aprendizagem histórica:
“[...] a proposta
então apresentada mostrava avanços ao romper com modelos explicativos pautados
num código disciplinar centenário, que já não responde às demandas e desafios
que se apresentam à sociedade brasileira na contemporaneidade; ao propor a
análise histórica a partir de diferentes escalas espaço-temporais e de diversos
pontos de observação, deslocando o olhar de uma perspectiva essencialmente
eurocêntrica e da ambição de estudar ‘toda a história’; ao superar a periodização
quadripartite da história europeia, eivada de uma ótica temporal totalizante e
de uma ortodoxia cronológica, pautada pela ideia de progresso linear, ao propor
a história do Brasil como força mobilizadora da análise histórica, dando
centralidade à noção de sujeito e à formação da consciência histórica, ao mesmo
tempo em que estabelece nexos e articulações com as histórias africanas,
americanas, asiáticas e europeias; ao priorizar o tratamento das diversidades
étnicas e culturais, notadamente as que dizem respeito às leis 10639/2003 e
11645/2008; ao propor a mobilização de procedimentos de investigação e
problematização histórica, em detrimento de práticas verbalistas e de
memorização, pautadas em aulas expositivas e na centralidade do professor como
protagonista dos processos de ensinar e aprender.” [Caimi, 2016, p 90]
No entanto,
conforme Caimi [2016], esta primeira versão não somente foi modificada, como a
segunda versão descartou todos os seus pressupostos. Assim, se criou um novo
documento, por profissionais não ligados ao campo do ensino de História,
pertencentes a apenas uma instituição de ensino. A versão final do documento foi promulgada em
20 de dezembro de 2017. Tal versão, não descarta aspectos a serem trabalhados
em sala de aula relacionados às discussões atuais, como a incorporação do uso
de fontes históricas; da relação entre passado e presente; da importância do
referencial teórico; da consideração da experiência dos/as estudantes; dos
processos de identificação, comparação, contextualização, interpretação e
análise; da abordagem da diversidade cultural, de gênero e povos indígenas e
africanos.
No entanto, tais
conteúdos e abordagens são apenas “pincelados” de forma marginal no documento,
pois há a predominância das temáticas e da temporalidade eurocêntricas.
Inclusive, estas acabaram sendo ressaltadas, haja vista que a Base se organizou
pelo molde tradicional do ensino de História: “Fica implícito que existe uma
história que apresenta um modelo político, econômico, social e cultural considerado
‘norma’ e ‘outras histórias’ com significância menor. Mantém a perspectiva do
Outro colonial como subalterno” [Franco; Guimarães; Silva Junior, 2018, p.
1024]. Assim, podemos afirmar que foi perdida a chance que profissionais da
área da História tinham de fazer com que pesquisas realizadas há anos sobre a
aprendizagem histórica fossem válidas para um documento que visa reger a
educação em todo o país. Ao invés de contribuir para modificações que acabassem
com a tão criticada História tradicional, esta acabou sendo ressaltada. Dessa
maneira, quando por vezes professores/as e historiadores/as ligados às
universidades criticarem o ensino da História escolar, não podemos esquecer que
a academia também influencia diretamente [mesmo que muitas vezes negligencie
discussões sobre o ensino] nas normativas que regem as escolas e na formação
dos/as professores/as que atuam em sala de aula, e que, portanto, também tem
uma parcela de culpa a assumir quando a História escolar apresenta problemas.
Mas, afinal, do
que se trata a aprendizagem histórica, que se contrapõe à História escolar
tradicional, discutida atualmente pelo campo do ensino de História? Conforme
Rüsen [2010] - historiador que, a partir de um viés humanista e de sua teoria
da História, discute os processos de formação do pensamento histórico através
das constituições de sentido que implicam na vida prática -, a aprendizagem
histórica consiste no objeto de pesquisa da Didática da História, sendo
definida como “um processo mental de construção de sentido sobre a experiência
do tempo através da narrativa histórica, na qual as competências para tal
narrativa surgem e se desenvolvem”. A narrativa histórica pode ser compreendida
enquanto aprendizado quando “as competências forem adquiridas através de uma função
produtiva do sujeito, com as quais a história será apontada como fator de
orientação cultural na vida prática humana relacionada a três dimensões
temporais [...]” [Rüsen, 2010, p. 43-45.] Assim, o trabalho de concretizar e
diferenciar a competência narrativa consiste no objetivo da aprendizagem
histórica, que ocorre por meio da consciência histórica a fim de orientar a
vida prática dos sujeitos através da relação entre passado, presente e futuro.
A consciência
histórica, enquanto operação mental inerente a todos os indivíduos [mesmo que
não seja percebida de forma totalmente consciente], relaciona as dimensões
temporais, sendo que os pensamentos e interpretações realizados no presente
necessitam da experiência do passado, bem como definem orientações e lançam
expectativas para o futuro. Portanto, as ações dos sujeitos se relacionam com a
relação entre tais temporalidades operadas através da consciência histórica [a
qual, dependendo de quais concepções e usos realizam do passado, pode ser
categorizada como instrumento de análise em quatro tipos: tradicional,
exemplar, crítica e ontogenética].
Neste sentido, a
aprendizagem histórica ocorre quando, tais operações são trabalhadas a fim de
desenvolver o pensamento histórico a partir dos próprios fundamentos da ciência
histórica. Como apontado por Rüsen [2010], isto inclui o passado fazer sentido
para o presente [“presença perceptível do passado”], a valorização da
subjetividade do aprendiz e de sua “carência de orientação” no presente, e a
relação entre diferentes sujeitos para a construção da identidade histórica
através de uma comunicação argumentativa.
Portanto, a
aprendizagem histórica não ocorre quando as aulas de História meramente
transpõem conteúdos [que muitas vezes não são de interesse do presente, ou não
estabelecem percepções de sentido para os/as estudantes] em forma de
informações sobre o passado, o qual acaba sendo concebido como verdade, “como
de fato ocorreu”. Tal aprendizagem pode ocorrer quando as experiências dos
alunos e alunas são levados em consideração na produção do conhecimento,
narrativas diferentes são apresentadas, o passado é buscado a partir das
carências do presente a fim de fazer sentido para a orientação cultural dos
sujeitos. Isso fica em grande medida limitado quando se têm uma lista extensa
de conteúdos a serem trabalhados e “aprendidos” no ensino básico. Como afirma
Rüsen [2010]:
“Somente quando a
história deixar de ser aprendida como a mera absorção de um bloco de
conhecimentos positivos, e surgir diretamente da elaboração de respostas a
perguntas que se façam ao acervo de conhecimentos acumulados, é que poderá ela
ser apropriada produtivamente pelo aprendizado e se tornar fator de
determinação cultural da vida prática humana.” [Rüsen, 2010, p. 44]
Em relação à
organização da BNCC, essa se estrutura em Competências Gerais da Base [válidas
para todas as disciplinas escolares]; Competências Específicas [referentes a
cada área]; Unidades temáticas, Objetos de Conhecimento e Habilidades
[organizados em tabelas explicativas para cada série curricular do Ensino
Fundamental]. Tais requisitos impostos pelo documento devem ser seguidos no
país inteiro. Dessa forma, os conteúdos, a ordem a ser trabalhada [por
bimestres ou trimestres], as habilidades a serem desenvolvidas e as avaliações
da aprendizagem, são engessadas de forma pronta para serem aplicadas nas aulas.
Isso limita em grande medida a autonomia e as particularidades dos professores
e professoras, bem como a dos/as estudantes, o que torna extremamente limitante
a possibilidade de desenvolvimento da aprendizagem histórica.
Um dos grandes
reflexos dessa padronização do ensino, é refletido no PNLD [Programa Nacional
do Livro Didático], que a partir de 2017 [antes mesmo da homologação da versão
final da Base] publicou o edital anual seguindo as novas normativas. Assim, os
livros didáticos a partir de então, tiveram que atender aos critérios
estabelecidos e se adaptar completamente à BNCC, contemplando em cada série as
mesmas temáticas, os mesmos períodos e eventos, sendo que as coleções
precisaram apresentar nas obras os códigos que constam quais as habilidades
definidas pela Base estavam presentes em cada temática abordada. Além dos
conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, a BNCC também determinou, por
exemplo, a adaptação, conforme seus pressupostos, da formação continuada de
professores e a avaliação e acompanhamento da aprendizagem dos/as alunos/as.
Assim, as obras inscritas para participar do PNLD a partir do edital de 2017,
devem apresentar atividades com gabaritos e o Manual do Professor impresso e
digital com orientações de como utilizar os livros, para garantir as
competências e as habilidades previstas pela Base. [Franco; Guimarães; Silva
Junior, 2018, p. 1026-1032]
Vale ressaltar
que os livros didáticos de História, enquanto objetos culturais - conforme
define Bittencourt [2008] -, fazem parte da tradição escolar e, em grande
medida, há anos acabavam por influenciar fortemente a organização e os
conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Além disso, conforme Silva
[2017], desde a década de 1930 através da Comissão Nacional do Livro Didático
[CNLD], esses materiais se estabeleceram enquanto política pública no Brasil e,
portanto, estiveram sujeitos, em diversos momentos, às modificações e
imposições por parte de órgãos do poder, com diferentes intencionalidades,
fossem para regular e fiscalizar o ensino, ou para ampliar o acesso de
materiais didáticos aos/às estudantes. No entanto, com a adaptação de todos os
pressupostos normativos da Base Comum Curricular, esses materiais possivelmente
ganharão ainda mais protagonismo nas aulas de História, haja vista que
comtemplam, agora de forma obrigatória, “tudo” o que se deve ensinar e
aprender.
Portanto, é
possível afirmar que a Base Nacional Comum Curricular [promulgada em dezembro
de 2017], visa padronizar a educação do país. Consideramos a importância de um
documento que oriente o ensino no país de forma consistente, no entanto, que
não limite a autonomia docente e que leve em consideração as especificidades
dos/as estudantes de todas as regiões do país, a fim de que seja possível a
aprendizagem histórica. Os debates de mais de três décadas entorno do ensino de
História acabaram por ser em grande medida deixados de lado na BNCC,
evidenciando que a oportunidade de mudança no processo de ensino e aprendizagem
que tivemos, acabou por se reverter na perpetuação de uma História tradicional,
que pode se alinhar perfeitamente aos interesses do atual governo.
Cabe questionar:
como os sujeitos envolvidos no ensino de História rearticularão suas práticas
em meio a tais imposições, e isto inclui professores/as das escolas, docentes
universitários que formam professores e historiadores/as em geral. Enfatizamos
que é de fundamental importância discutirmos o ensino de História em meio a
este contexto, para garantirmos nossos objetivos para com a aprendizagem
histórica e, para isso, são necessárias pesquisas voltadas à investigação da
BNCC, dos materiais didáticos e principalmente das práticas empreendidas em
sala de aula diante de tais imposições.
Referências
Mariana de Sá Gaspar é
formada em História pela UNICENTRO [Universidade Estadual do Centro-Oeste] e
pesquisadora da área de Ensino de História.
Dr.ª Maria Paula Costa é
professora e pesquisadora pela mesma universidade e coordenadora do Laboratório
de Ensino de História.
BITTENCOURT,
Circe. “Livros e materiais didáticos de História”. In: ____. [org.] Ensino de História: fundamentos e métodos. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 293-324. [artigo]
BRASIL. Base
Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2017.
CAIMI, Flávia
Eloisa. A História na Base Nacional Comum Curricular. Revista do Lhiste.
Porto Alegre, v. 3, n. 4, jan./jun., 2016, p. 86-92. [artigo]
FRANCO, Aléxia
Pádua; GUIMARÃES, Selva; SILVA JUNIOR, Astrogildo Fernandes da. Saberes
históricos prescritos na BNCC para o ensino fundamental: tensões e concessões. Ensino
em Re-vista. Uberlândia, v. 25, n. Especial, 2018, p. 1016-1035. [artigo]
GAZETA DO POVO. Bolsonaro
quer mexer com mercado bilionário de livros didáticos. Veja quem mais fatura.
Disponível em:
https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/bolsonaro-mercado-de-livros-didaticos-veja-quem-mais-fatura/.
Acesso em 14 de fevereiro de 2020. [internet]
RÜSEN, Jörn.
Aprendizado histórico. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS,
Estevão de Rezende. [orgs.]. Jörn Rüsen: e o ensino de
História. Curitiba: UFPR, 2010, p. 41-49. [artigo]
____. Os
fundamentos da cultura histórica. In: ____.
Teoria da história: uma teoria da história como ciência.
Curitiba: UFPR, 2015. [livro]
SILVA, Marcelo
Soares Pereira da. O livro didático como política pública: perspectivas
históricas. In: ROCHA, Helenice Aparecida Bastos; REZNIK, Luis; MAGALHÃES, Marcelo
de Souza. Livros didáticos de História: entre políticas e narrativas.
São Paulo: FGV, 2017, p. 101-120. [artigo]
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ResponderExcluirVocê afirma que a atual versão da BNCC, reforça práticas tradicionalistas de ensinar história, guia-se por um divisão do tempo eurocentrica e privilegia a história europeia em detrimento da dos povos colonizados, apresentadas em segundo plano. Conclui que isso revela a não adesão a um ensino formador do pensamento histórico, contrariando a apredizagem histórica proposta por Rüsen, implicando em pouca mudança nas práticas docentes, que nessa visão continuaria sendo um transmissor de informações. Creio, em suma, ser esse seu raciocínio, correto? Mas o que me chamou a atenção e tenho experimentado na pela é a questão dos conteúdos terem sido abordados sem aprofundamento, de forma aligeirada, como você menciona com "pinceladas". Qual a relação você vê entre estes retrocessos e o neoliberabismo? Eles pioram a qualidade da educação?
ResponderExcluirWillyan da Silva Caetano
Obrigada pela leitura e pelos questionamentos, Willyan.
ExcluirSim, um dos objetivos do texto é refletir como a BNCC limitou a possibilidade de desenvolvimento da aprendizagem histórica no espaço escolar, haja vista que manteve (agora, de forma autorizada) características da História escolar tradicional.
Algumas pesquisas da área da Educação têm evidenciado que a Base se relaciona ao avanço do neoliberalismo no país (iniciado desde a década de 1990 e interferindo desde então na educação), sendo a BNCC um dos resultados desse processo, que inclui a participação de capital privado nas políticas educacionais brasileiras. Outro aspecto importante são as mudanças políticas dos últimos anos no Brasil que contribuíram para tal retrocesso. Podemos observar no documento, que há o estabelecimento de competências e habilidades voltadas ao desenvolvimento de um cidadão “produtivo”, voltado ao mercado de trabalho. A existência de tais competências e habilidades já evidenciam uma educação mais tecnicista.
Em relação ao ensino de História, discutido em nosso texto, podemos afirmar que, com a limitação do desenvolvimento da aprendizagem histórica e tantas imposições a serem seguidas pelos/as docentes, há um maior controle em relação ao que deve ser ensinado e aprendido, dificultando a melhora na qualidade da educação, haja vista que, devido a tais limitações, possivelmente, os conteúdos serão trabalhados de forma simplista dificultando a aprendizagem histórica. Dessa forma, podem contribuir para uma História sem sentido (que poderá ser apenas trabalhada para inserir os/as alunos/as no mercado de trabalho, passar em processos seletivos como Enem e vestibulares, etc.). No entanto, é importante ressaltar que, em um primeiro momento de discussão e formulação do documento para a disciplina de História (primeira versão da Base), foi levada em consideração a mudança proposta para o ensino pelo campo de pesquisa do ensino de História.
Atenciosamente, as autoras.
Obrigado pelos esclarecimentos
ResponderExcluirA BNCC desconsidera o conjunto de saberes advindos da formação inicial e continuada dos professores, os saberes da experiência, os curriculares e mesmo os saberes provenientes da relação que os docentes estabelecem entre si, seja no campo da pesquisa acadêmica ou da luta sindical. Acredito que, além da necessária reflexão sobre como os docentes rearticularão suas práticas, é fundamental que a compreensão de que qualquer rearticulação deve ser na direção de vincular a Educação e o ensino de História com os interesses dos setores subalternizados da sociedade, no sentido de se contrapor a hegemonia privatista que tem dominado a política educacional nas últimas décadas.
ResponderExcluirRossano Rafaelle Sczip
Obrigada pela leitura e pelo apontamento.
ExcluirConcordamos com sua afirmação, pois os debates que envolvem a Base Nacional Comum Curricular são envoltos a uma complexa rede de questões e considerá-las, mesmo que dentro de um recorte é essencial para o amadurecimento não só da pesquisa, mas do ensino.
Att,
Autoras
Olá, caras autoras. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirA partir do que foi exposto, o que fazer diante desse "engessamento" dos conteúdos, habilidades e avaliações da aprendizagem ?
Entendo que não há uma fórmula pronta e acabada, mas como o proceder diante da imposição de um documento que limita nossa atuação no processo de construção do conhecimento histórico?
MARIA FABÍOLA DA SILVA
mariafabioladasilva@yahoo.com.br
Obrigada pela leitura e pela questão.
ExcluirEsse "engessamento" dos conteúdos presente neste documento e toda pressão existente para que sua execução ocorra, acarretará em mais um desafio para os (as) professores(as) no "chão da escola". Pensamos que uma questão central é não perder de vista a realidade dos estudantes para que a narrativa histórica a ser apresentada em sala faça sentido e assim possam pensar e articular sua experiência, enquanto sujeitos históricos, a esse conteúdo. Apesar do documento se distanciar da importância da utilização das fontes históricas, essa prática consiste num importante elemento para a problematização em sala de aula e quando possível, dentro dessa nova realidade, ajudaria no diálogo e na produção de conhecimento histórico.
Att,
Autoras
obrigada pela resposta. Abraços!
ExcluirMariana e Maria Paula, parabéns pelo texto. A BNCC impacta muito na proposta do Ensino de História relativo à liberdade de ensino por parte dos docentes. Quais ações poderiam ser implementadas para que o ensino de história não seja somente uma transposição didática sem reflexão? Há alguma sugestão neste sentido?
ResponderExcluirDanielle Luzia Ramos de Moraes Navarro
Obrigada pela leitura e pelo comentário, Danielle.
ExcluirEmbora tenha se tornado mais difícil a execução de algumas propostas devido á quantidade de conteúdos a serem trabalhados e ao tempo limitado disponível em sala de aula, é possível que os/as docentes trabalhem, por exemplo, com análise de fontes sobre as temáticas abordadas, bem como levem em consideração as narrativas dos/as estudantes, trabalhando com as diferentes interpretações da História. É importante ressaltar que, por mais que existam várias imposições, também há as práticas que os/as professores/as podem adotar para possibilitar um ensino que faça sentido para os/as estudantes e que vise a aprendizagem histórica de fato.
Atenciosamente, as autoras.
Muito obrigada.
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