Mariana de Sá Gaspar e Maria Paula Costa


APRENDIZAGEM HISTÓRICA E AS IMPOSIÇÕES DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR


Tendo em vista a implementação da BNCC [Base Nacional Comum Curricular] e sua interferência direta em diferentes âmbitos: currículos escolares, formação de professores/as e políticas públicas como o PNLD [Plano Nacional do Livro Didático], apresentaremos brevemente como foi o processo de elaboração da Base, as principais mudanças ocasionadas pelo documento para a disciplina de História e nos materiais didáticos e, principalmente, quais as críticas tecidas por especialistas da área do ensino perante a tais normativas, relacionando-as às concepções da Didática da História sobre a aprendizagem histórica.

"No dia 3 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro classificou os livros didáticos como ‘péssimos’ e com ‘muita coisa escrita’ e anunciou que o governo promoveria alterações. Dias depois, o ministro Abraham Weintraub reforçou a crítica e disse que os livros ficarão mais baratos e sem ideologia. O secretário-executivo do MEC, Antonio Paulo Vogel, também revelou que o governo está elaborando um novo edital do Programa Nacional do Livro e do Material Didático [PNLD] para que os livros didáticos, distribuídos nas escolas de todo o país, fiquem livres de “doutrinação”. O governo não adianta que mudanças são previstas para o edital. Autores ouvidos pela Gazeta do Povo, na condição de não se identificarem, dizem que trabalham para evitar discussões de gênero e ‘suavizar’ o conteúdo a respeito da ditadura militar." [Gazeta do povo, 2020]

Não é difícil nos últimos meses encontrar inúmeras notícias semelhantes a esse trecho da reportagem divulgada pela Gazeta do Povo em 13 de janeiro de 2020. Os livros didáticos e, em específico a disciplina de História, são alvo de discursos que buscam interferir no que deve ser ensinado e aprendido pelos brasileiros, mesmo que tais posicionamentos não expressem conhecimento da complexidade do processo de elaboração, produção, avaliação, escolha e uso dos materiais didáticos, bem como das pesquisas entorno do ensino de História, ou então, que desconsiderem  tais aspectos a favor da manutenção do poder, fazendo com que tais ideias perpetuem na cultura do país. Isso se relaciona com a dimensão política da constituição histórica de sentido que, conforme Rüsen [2015], sempre costuma estar presente na cultura histórica, pois “o estado e a sociedade sempre tiveram interesse em tornar a cultura política útil para o futuro, para as sucessivas gerações, reforçando, assim, os critérios determinantes da legitimação histórica do poder.” [Rüsen, 2015, p. 250]

Dessa forma, se faz necessário ressaltar que documentos e prescrições que visam reger a educação, se articulam diretamente ao contexto nacional atual e aos interesses manifestados pelos agentes detentores do poder político do país. Movimentos como “Escola Sem Partido” e “Escola Livre”, ataques aos professores/as e aos materiais didáticos, bem como o avanço do conservadorismo e a perda de conquistas sociais, têm ganhado força. Dessa forma, a Base Nacional Comum Curricular, discutida de 2015 a 2017, é fruto de um momento político conturbado do Brasil, cujas discussões perpassaram por diferentes gestores do poder. Como bem ressalta Caimi [2016], documentos como a Base se relacionam com as disputas políticas, que visam regular os sujeitos. O ensino de História em especial, sempre está vinculado por interesses e disputas por legitimidade, inclusive para a manutenção de determinados grupos no poder:

“A tarefa de construir uma base curricular comum para o conhecimento histórico escolar implica trazer ao âmbito do debate público as disputas em torno de ideias quanto ao que, do passado, é válido e legítimo ensinar às novas gerações.” [Caimi, 2016, p. 88]

O processo de implementação da BNCC nasceu através do Plano Nacional de Educação aprovado pelo Congresso Nacional, que, através da Lei 13005/2014, estabeleceu 20 metas para a educação do país, a serem alcanças em dez anos, ou seja, até 2024. A meta 7 faz referência à melhoria da qualidade e da aprendizagem na Educação Básica e, uma das alternativas para atingir tal meta, consistiu na implantação de uma base comum a nível nacional para reger todos os anos do Ensino Fundamental e Médio. Em 2015, foi instituída uma comissão para a elaboração da proposta da Base, que formulou sua primeira versão, a qual pôde ser consultada publicamente. No entanto, em relação à disciplina de História, diversos conflitos políticos e teóricos acabaram por ocorrer durante a discussão do documento, o que culminou na reelaboração e na formulação da segunda versão da Base por outro grupo de profissionais. Após o golpe que depôs a presidente Dilma Rousseff, o Ministério da Educação passou para as mãos de novos gestores, e a BNCC contou com sua terceira versão. [Franco; Guimarães; Silva Junior, 2018, p. 1018-1019]

A primeira versão da Base, foi elaborada por doze profissionais dedicados ao campo do ensino de História, sendo pertencentes a diferentes instituições educacionais e regiões do Brasil. O documento preliminar representava a possibilidade de mudança no ensino de História discutida há décadas por pesquisadores, ao modificar o ensino tradicional da disciplina, o qual consiste em meramente reproduzir conteúdos, muitas vezes factuais e eurocêntricos, em forma de verdades prontas e acabadas, o que destoa completamente das discussões contemporâneas sobre a aprendizagem histórica:

“[...] a proposta então apresentada mostrava avanços ao romper com modelos explicativos pautados num código disciplinar centenário, que já não responde às demandas e desafios que se apresentam à sociedade brasileira na contemporaneidade; ao propor a análise histórica a partir de diferentes escalas espaço-temporais e de diversos pontos de observação, deslocando o olhar de uma perspectiva essencialmente eurocêntrica e da ambição de estudar ‘toda a história’; ao superar a periodização quadripartite da história europeia, eivada de uma ótica temporal totalizante e de uma ortodoxia cronológica, pautada pela ideia de progresso linear, ao propor a história do Brasil como força mobilizadora da análise histórica, dando centralidade à noção de sujeito e à formação da consciência histórica, ao mesmo tempo em que estabelece nexos e articulações com as histórias africanas, americanas, asiáticas e europeias; ao priorizar o tratamento das diversidades étnicas e culturais, notadamente as que dizem respeito às leis 10639/2003 e 11645/2008; ao propor a mobilização de procedimentos de investigação e problematização histórica, em detrimento de práticas verbalistas e de memorização, pautadas em aulas expositivas e na centralidade do professor como protagonista dos processos de ensinar e aprender.” [Caimi, 2016, p 90]

No entanto, conforme Caimi [2016], esta primeira versão não somente foi modificada, como a segunda versão descartou todos os seus pressupostos. Assim, se criou um novo documento, por profissionais não ligados ao campo do ensino de História, pertencentes a apenas uma instituição de ensino.  A versão final do documento foi promulgada em 20 de dezembro de 2017. Tal versão, não descarta aspectos a serem trabalhados em sala de aula relacionados às discussões atuais, como a incorporação do uso de fontes históricas; da relação entre passado e presente; da importância do referencial teórico; da consideração da experiência dos/as estudantes; dos processos de identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise; da abordagem da diversidade cultural, de gênero e povos indígenas e africanos.

No entanto, tais conteúdos e abordagens são apenas “pincelados” de forma marginal no documento, pois há a predominância das temáticas e da temporalidade eurocêntricas. Inclusive, estas acabaram sendo ressaltadas, haja vista que a Base se organizou pelo molde tradicional do ensino de História: “Fica implícito que existe uma história que apresenta um modelo político, econômico, social e cultural considerado ‘norma’ e ‘outras histórias’ com significância menor. Mantém a perspectiva do Outro colonial como subalterno” [Franco; Guimarães; Silva Junior, 2018, p. 1024]. Assim, podemos afirmar que foi perdida a chance que profissionais da área da História tinham de fazer com que pesquisas realizadas há anos sobre a aprendizagem histórica fossem válidas para um documento que visa reger a educação em todo o país. Ao invés de contribuir para modificações que acabassem com a tão criticada História tradicional, esta acabou sendo ressaltada. Dessa maneira, quando por vezes professores/as e historiadores/as ligados às universidades criticarem o ensino da História escolar, não podemos esquecer que a academia também influencia diretamente [mesmo que muitas vezes negligencie discussões sobre o ensino] nas normativas que regem as escolas e na formação dos/as professores/as que atuam em sala de aula, e que, portanto, também tem uma parcela de culpa a assumir quando a História escolar apresenta problemas.

Mas, afinal, do que se trata a aprendizagem histórica, que se contrapõe à História escolar tradicional, discutida atualmente pelo campo do ensino de História? Conforme Rüsen [2010] - historiador que, a partir de um viés humanista e de sua teoria da História, discute os processos de formação do pensamento histórico através das constituições de sentido que implicam na vida prática -, a aprendizagem histórica consiste no objeto de pesquisa da Didática da História, sendo definida como “um processo mental de construção de sentido sobre a experiência do tempo através da narrativa histórica, na qual as competências para tal narrativa surgem e se desenvolvem”. A narrativa histórica pode ser compreendida enquanto aprendizado quando “as competências forem adquiridas através de uma função produtiva do sujeito, com as quais a história será apontada como fator de orientação cultural na vida prática humana relacionada a três dimensões temporais [...]” [Rüsen, 2010, p. 43-45.] Assim, o trabalho de concretizar e diferenciar a competência narrativa consiste no objetivo da aprendizagem histórica, que ocorre por meio da consciência histórica a fim de orientar a vida prática dos sujeitos através da relação entre passado, presente e futuro.

A consciência histórica, enquanto operação mental inerente a todos os indivíduos [mesmo que não seja percebida de forma totalmente consciente], relaciona as dimensões temporais, sendo que os pensamentos e interpretações realizados no presente necessitam da experiência do passado, bem como definem orientações e lançam expectativas para o futuro. Portanto, as ações dos sujeitos se relacionam com a relação entre tais temporalidades operadas através da consciência histórica [a qual, dependendo de quais concepções e usos realizam do passado, pode ser categorizada como instrumento de análise em quatro tipos: tradicional, exemplar, crítica e ontogenética].

Neste sentido, a aprendizagem histórica ocorre quando, tais operações são trabalhadas a fim de desenvolver o pensamento histórico a partir dos próprios fundamentos da ciência histórica. Como apontado por Rüsen [2010], isto inclui o passado fazer sentido para o presente [“presença perceptível do passado”], a valorização da subjetividade do aprendiz e de sua “carência de orientação” no presente, e a relação entre diferentes sujeitos para a construção da identidade histórica através de uma comunicação argumentativa.

Portanto, a aprendizagem histórica não ocorre quando as aulas de História meramente transpõem conteúdos [que muitas vezes não são de interesse do presente, ou não estabelecem percepções de sentido para os/as estudantes] em forma de informações sobre o passado, o qual acaba sendo concebido como verdade, “como de fato ocorreu”. Tal aprendizagem pode ocorrer quando as experiências dos alunos e alunas são levados em consideração na produção do conhecimento, narrativas diferentes são apresentadas, o passado é buscado a partir das carências do presente a fim de fazer sentido para a orientação cultural dos sujeitos. Isso fica em grande medida limitado quando se têm uma lista extensa de conteúdos a serem trabalhados e “aprendidos” no ensino básico. Como afirma Rüsen [2010]:

“Somente quando a história deixar de ser aprendida como a mera absorção de um bloco de conhecimentos positivos, e surgir diretamente da elaboração de respostas a perguntas que se façam ao acervo de conhecimentos acumulados, é que poderá ela ser apropriada produtivamente pelo aprendizado e se tornar fator de determinação cultural da vida prática humana.” [Rüsen, 2010, p. 44]

Em relação à organização da BNCC, essa se estrutura em Competências Gerais da Base [válidas para todas as disciplinas escolares]; Competências Específicas [referentes a cada área]; Unidades temáticas, Objetos de Conhecimento e Habilidades [organizados em tabelas explicativas para cada série curricular do Ensino Fundamental]. Tais requisitos impostos pelo documento devem ser seguidos no país inteiro. Dessa forma, os conteúdos, a ordem a ser trabalhada [por bimestres ou trimestres], as habilidades a serem desenvolvidas e as avaliações da aprendizagem, são engessadas de forma pronta para serem aplicadas nas aulas. Isso limita em grande medida a autonomia e as particularidades dos professores e professoras, bem como a dos/as estudantes, o que torna extremamente limitante a possibilidade de desenvolvimento da aprendizagem histórica.

Um dos grandes reflexos dessa padronização do ensino, é refletido no PNLD [Programa Nacional do Livro Didático], que a partir de 2017 [antes mesmo da homologação da versão final da Base] publicou o edital anual seguindo as novas normativas. Assim, os livros didáticos a partir de então, tiveram que atender aos critérios estabelecidos e se adaptar completamente à BNCC, contemplando em cada série as mesmas temáticas, os mesmos períodos e eventos, sendo que as coleções precisaram apresentar nas obras os códigos que constam quais as habilidades definidas pela Base estavam presentes em cada temática abordada. Além dos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula, a BNCC também determinou, por exemplo, a adaptação, conforme seus pressupostos, da formação continuada de professores e a avaliação e acompanhamento da aprendizagem dos/as alunos/as. Assim, as obras inscritas para participar do PNLD a partir do edital de 2017, devem apresentar atividades com gabaritos e o Manual do Professor impresso e digital com orientações de como utilizar os livros, para garantir as competências e as habilidades previstas pela Base. [Franco; Guimarães; Silva Junior, 2018, p. 1026-1032]

Vale ressaltar que os livros didáticos de História, enquanto objetos culturais - conforme define Bittencourt [2008] -, fazem parte da tradição escolar e, em grande medida, há anos acabavam por influenciar fortemente a organização e os conteúdos a serem trabalhados em sala de aula. Além disso, conforme Silva [2017], desde a década de 1930 através da Comissão Nacional do Livro Didático [CNLD], esses materiais se estabeleceram enquanto política pública no Brasil e, portanto, estiveram sujeitos, em diversos momentos, às modificações e imposições por parte de órgãos do poder, com diferentes intencionalidades, fossem para regular e fiscalizar o ensino, ou para ampliar o acesso de materiais didáticos aos/às estudantes. No entanto, com a adaptação de todos os pressupostos normativos da Base Comum Curricular, esses materiais possivelmente ganharão ainda mais protagonismo nas aulas de História, haja vista que comtemplam, agora de forma obrigatória, “tudo” o que se deve ensinar e aprender.

Portanto, é possível afirmar que a Base Nacional Comum Curricular [promulgada em dezembro de 2017], visa padronizar a educação do país. Consideramos a importância de um documento que oriente o ensino no país de forma consistente, no entanto, que não limite a autonomia docente e que leve em consideração as especificidades dos/as estudantes de todas as regiões do país, a fim de que seja possível a aprendizagem histórica. Os debates de mais de três décadas entorno do ensino de História acabaram por ser em grande medida deixados de lado na BNCC, evidenciando que a oportunidade de mudança no processo de ensino e aprendizagem que tivemos, acabou por se reverter na perpetuação de uma História tradicional, que pode se alinhar perfeitamente aos interesses do atual governo.

Cabe questionar: como os sujeitos envolvidos no ensino de História rearticularão suas práticas em meio a tais imposições, e isto inclui professores/as das escolas, docentes universitários que formam professores e historiadores/as em geral. Enfatizamos que é de fundamental importância discutirmos o ensino de História em meio a este contexto, para garantirmos nossos objetivos para com a aprendizagem histórica e, para isso, são necessárias pesquisas voltadas à investigação da BNCC, dos materiais didáticos e principalmente das práticas empreendidas em sala de aula diante de tais imposições.

Referências
Mariana de Sá Gaspar é formada em História pela UNICENTRO [Universidade Estadual do Centro-Oeste] e pesquisadora da área de Ensino de História.
Dr.ª Maria Paula Costa é professora e pesquisadora pela mesma universidade e coordenadora do Laboratório de Ensino de História.

BITTENCOURT, Circe. “Livros e materiais didáticos de História”. In: ____. [org.] Ensino de História: fundamentos e métodos. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 293-324. [artigo]

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: Ministério da Educação, 2017.
CAIMI, Flávia Eloisa. A História na Base Nacional Comum Curricular. Revista do Lhiste. Porto Alegre, v. 3, n. 4, jan./jun., 2016, p. 86-92. [artigo]

FRANCO, Aléxia Pádua; GUIMARÃES, Selva; SILVA JUNIOR, Astrogildo Fernandes da. Saberes históricos prescritos na BNCC para o ensino fundamental: tensões e concessões. Ensino em Re-vista. Uberlândia, v. 25, n. Especial, 2018, p. 1016-1035. [artigo]

GAZETA DO POVO. Bolsonaro quer mexer com mercado bilionário de livros didáticos. Veja quem mais fatura. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/bolsonaro-mercado-de-livros-didaticos-veja-quem-mais-fatura/. Acesso em 14 de fevereiro de 2020. [internet]

RÜSEN, Jörn. Aprendizado histórico. In: SCHMIDT, Maria Auxiliadora; BARCA, Isabel; MARTINS, Estevão de Rezende. [orgs.]. Jörn Rüsen: e o ensino de História. Curitiba: UFPR, 2010, p. 41-49. [artigo]

____. Os fundamentos da cultura histórica. In: ____.  Teoria da história: uma teoria da história como ciência. Curitiba: UFPR, 2015. [livro]

SILVA, Marcelo Soares Pereira da. O livro didático como política pública: perspectivas históricas. In: ROCHA, Helenice Aparecida Bastos; REZNIK, Luis; MAGALHÃES, Marcelo de Souza. Livros didáticos de História: entre políticas e narrativas. São Paulo: FGV, 2017, p. 101-120. [artigo]

13 comentários:

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  2. Você afirma que a atual versão da BNCC, reforça práticas tradicionalistas de ensinar história, guia-se por um divisão do tempo eurocentrica e privilegia a história europeia em detrimento da dos povos colonizados, apresentadas em segundo plano. Conclui que isso revela a não adesão a um ensino formador do pensamento histórico, contrariando a apredizagem histórica proposta por Rüsen, implicando em pouca mudança nas práticas docentes, que nessa visão continuaria sendo um transmissor de informações. Creio, em suma, ser esse seu raciocínio, correto? Mas o que me chamou a atenção e tenho experimentado na pela é a questão dos conteúdos terem sido abordados sem aprofundamento, de forma aligeirada, como você menciona com "pinceladas". Qual a relação você vê entre estes retrocessos e o neoliberabismo? Eles pioram a qualidade da educação?

    Willyan da Silva Caetano

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    1. Obrigada pela leitura e pelos questionamentos, Willyan.
      Sim, um dos objetivos do texto é refletir como a BNCC limitou a possibilidade de desenvolvimento da aprendizagem histórica no espaço escolar, haja vista que manteve (agora, de forma autorizada) características da História escolar tradicional.
      Algumas pesquisas da área da Educação têm evidenciado que a Base se relaciona ao avanço do neoliberalismo no país (iniciado desde a década de 1990 e interferindo desde então na educação), sendo a BNCC um dos resultados desse processo, que inclui a participação de capital privado nas políticas educacionais brasileiras. Outro aspecto importante são as mudanças políticas dos últimos anos no Brasil que contribuíram para tal retrocesso. Podemos observar no documento, que há o estabelecimento de competências e habilidades voltadas ao desenvolvimento de um cidadão “produtivo”, voltado ao mercado de trabalho. A existência de tais competências e habilidades já evidenciam uma educação mais tecnicista.
      Em relação ao ensino de História, discutido em nosso texto, podemos afirmar que, com a limitação do desenvolvimento da aprendizagem histórica e tantas imposições a serem seguidas pelos/as docentes, há um maior controle em relação ao que deve ser ensinado e aprendido, dificultando a melhora na qualidade da educação, haja vista que, devido a tais limitações, possivelmente, os conteúdos serão trabalhados de forma simplista dificultando a aprendizagem histórica. Dessa forma, podem contribuir para uma História sem sentido (que poderá ser apenas trabalhada para inserir os/as alunos/as no mercado de trabalho, passar em processos seletivos como Enem e vestibulares, etc.). No entanto, é importante ressaltar que, em um primeiro momento de discussão e formulação do documento para a disciplina de História (primeira versão da Base), foi levada em consideração a mudança proposta para o ensino pelo campo de pesquisa do ensino de História.
      Atenciosamente, as autoras.

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  3. A BNCC desconsidera o conjunto de saberes advindos da formação inicial e continuada dos professores, os saberes da experiência, os curriculares e mesmo os saberes provenientes da relação que os docentes estabelecem entre si, seja no campo da pesquisa acadêmica ou da luta sindical. Acredito que, além da necessária reflexão sobre como os docentes rearticularão suas práticas, é fundamental que a compreensão de que qualquer rearticulação deve ser na direção de vincular a Educação e o ensino de História com os interesses dos setores subalternizados da sociedade, no sentido de se contrapor a hegemonia privatista que tem dominado a política educacional nas últimas décadas.

    Rossano Rafaelle Sczip

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    1. Obrigada pela leitura e pelo apontamento.
      Concordamos com sua afirmação, pois os debates que envolvem a Base Nacional Comum Curricular são envoltos a uma complexa rede de questões e considerá-las, mesmo que dentro de um recorte é essencial para o amadurecimento não só da pesquisa, mas do ensino.
      Att,
      Autoras

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  4. Olá, caras autoras. Parabéns pelo texto.

    A partir do que foi exposto, o que fazer diante desse "engessamento" dos conteúdos, habilidades e avaliações da aprendizagem ?
    Entendo que não há uma fórmula pronta e acabada, mas como o proceder diante da imposição de um documento que limita nossa atuação no processo de construção do conhecimento histórico?
    MARIA FABÍOLA DA SILVA
    mariafabioladasilva@yahoo.com.br

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    1. Obrigada pela leitura e pela questão.
      Esse "engessamento" dos conteúdos presente neste documento e toda pressão existente para que sua execução ocorra, acarretará em mais um desafio para os (as) professores(as) no "chão da escola". Pensamos que uma questão central é não perder de vista a realidade dos estudantes para que a narrativa histórica a ser apresentada em sala faça sentido e assim possam pensar e articular sua experiência, enquanto sujeitos históricos, a esse conteúdo. Apesar do documento se distanciar da importância da utilização das fontes históricas, essa prática consiste num importante elemento para a problematização em sala de aula e quando possível, dentro dessa nova realidade, ajudaria no diálogo e na produção de conhecimento histórico.
      Att,
      Autoras

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    2. obrigada pela resposta. Abraços!

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  5. Mariana e Maria Paula, parabéns pelo texto. A BNCC impacta muito na proposta do Ensino de História relativo à liberdade de ensino por parte dos docentes. Quais ações poderiam ser implementadas para que o ensino de história não seja somente uma transposição didática sem reflexão? Há alguma sugestão neste sentido?

    Danielle Luzia Ramos de Moraes Navarro

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    1. Obrigada pela leitura e pelo comentário, Danielle.
      Embora tenha se tornado mais difícil a execução de algumas propostas devido á quantidade de conteúdos a serem trabalhados e ao tempo limitado disponível em sala de aula, é possível que os/as docentes trabalhem, por exemplo, com análise de fontes sobre as temáticas abordadas, bem como levem em consideração as narrativas dos/as estudantes, trabalhando com as diferentes interpretações da História. É importante ressaltar que, por mais que existam várias imposições, também há as práticas que os/as professores/as podem adotar para possibilitar um ensino que faça sentido para os/as estudantes e que vise a aprendizagem histórica de fato.

      Atenciosamente, as autoras.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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