A EDUCAÇÃO
HISTÓRICA DIANTE DAS IMPLICAÇÕES DA DOUTRINAÇÃO RELIGIOSA: O CASO DO
CRISTIANISMO NO BRASIL
Abordagem inicial
Quando nos debruçamos
sobre a história do Brasil, não podemos tornar uma questão menor o fato de que
a sociedade brasileira é fruto de uma importante miscigenação cultural, que
teve origem no século XVI a partir do convívio e das trocas socioculturais
logradas entre indígenas, europeus e africanos. O modo de pensar, agir e se
comportar que vige no Brasil de hoje foi moldado, historicamente, por
influências culturais dessas três etnias, sendo predominante a imposição da
cultura europeia sobre as demais, dado o processo histórico de formação da
sociedade brasileira. Neste caso, a Igreja Católica, uma instituição social
dotada de bastante poder político e regente do estamento social da Europa
ocidental no decorrer de toda a Idade Média, também exerceu em terras
brasileiras um papel central na construção e moldura das ideias e imaginários
da população.
Assim, o objetivo
deste ensaio não é resgatar, propriamente, o caráter da colonização, suas
violências e significância no processo histórico brasileiro, mesmo porque não
se poderia fazê-lo em tão curto espaço, mas, sobretudo, refletir, a partir de
uma perspectiva histórica, sobre a imposição de uma forma unívoca de vida,
pensada pela e para a Igreja, e que ao longo de séculos de doutrinação e
catequização da população, deixou estigmas profundos na mentalidade e no imaginário social. Dentre os
aspectos morais impressos no plano cultural brasileiro, destacam-se a
submissão, exploração e adestramento da mulher, a obrigatoriedade de constituir
matrimônio e uma família nuclear, o padrão sexual heteronormativo, bem como a
reprovação, perseguição e opressão aos indivíduos que não se enquadram nesse
modelo social.
Com base no exposto, nos próximos parágrafos
realizar-se-á uma breve revisão historiográfica acerca da doutrinação cristã
ocorrida desde a gênese do processo de formação do Brasil. Para tanto, será
retomado o modo de atuação dos tribunais inquisitoriais na Colônia, assim como
os seus efeitos agressivos na composição da mentalidade e da cultura da
população, enfatizando-se, ainda, a relevância que possui a educação histórica
frente a qualquer padrão social impositivo e cerceador, como é o caso do
cristianismo no Brasil.
Breves apontamentos sobre a atuação dos tribunais
da Inquisição no Brasil
É necessário retomar,
inicialmente, o contexto histórico que precede a atuação dos tribunais
inquisitoriais portugueses [comumente chamados de tribunais do Santo Ofício] em
território colonial para, a partir daí, tecer conjecturas a respeito de suas
implicações no plano cultural brasileiro e debater a importância da educação
histórica nesse processo.
Dessa forma, cabe
lembrar que no florescer do século XVI, a Igreja Católica sofria uma forte
pressão advinda da Reforma Protestante
de Lutero [1483-1546] e sentia na “pele” os seus efeitos e desdobramentos,
sobretudo porque o movimento luterano impactava diretamente o domínio
político-ideológico que o clero católico exercia no velho continente desde o
início do período medieval. Então, como tentativa de combater ou ao menos
mitigar a propagação da reforma luterana e tentar frear/retardar a diminuição
de seu poder político, a Igreja valeu-se de um mecanismo de coerção social
criado ainda na Idade Média: a Inquisição – consolidada, nesse momento,
enquanto instituição eclesiástica oficial cuja finalidade maior era investigar,
julgar e punir os fiéis suspeitos de heresia. Na visão de Anita Novinsky:
“A Inquisição representa as elites em torno das
quais se concentra toda a força do poder: a Coroa, a Igreja e a Nobreza. A fé,
os costumes, as ideias serão os objetivos da fiscalização dessa instituição.
Resguardar assim a estrutura tradicional da sociedade e os valores medievais,
com uma técnica não comum na Península Ibérica, mas emprestada como dissemos da
Europa medieval de além Pirineus” [1973, p. 564].
Esse movimento, denominado Contrarreforma, avançou rapidamente pela
Europa e produziu uma forte onda de violência, haja vista que centenas de
milhares de pessoas, acusadas e condenadas por heresias, eram punidas com toda
a sorte de torturas e/ou com a morte – em muitos casos, a punição era a tortura
física e psicológica seguida da morte na fogueira, sob a justificativa de
“purificação” da alma. A Península Ibérica talvez tenha sido a região cujo
avanço da Inquisição tenha sido maior, estendendo-se temporalmente até o século
XIX e espacialmente por suas colônias além-mar.
No Brasil Colônia, a Inquisição
chegou a todas as cidades e vilas que existiam à época e o processo de doutrinação não se
limitou às populações nativas e/ou aos africanos escravizados. Judeus, expulsos
da Península Ibérica no fim do século XV e instalados na Colônia para fugir da
Inquisição, passaram a ser perseguidos pela Igreja por constituir uma
importante classe mercantil urbana que incomodava os interesses da nobreza e do
alto clero, tornando-se, assim, um dos principais alvos dos processos
inquisitoriais a partir de 1530. Muitos deles foram convertidos ao cristianismo
por imposição [chamados de cristãos-novos]
e, desde então, passaram a ter que professar uma fé “dupla”, ora mantendo suas
crenças e rituais judaicos secretamente, ora tendo de professar, ainda que de
modo aparente, a crença católica [Novinsky, 1973; 1996].
Assim, no século XVII
a Igreja Católica definiu o Brasil como um dos lugares mais privilegiados para
o degredo. De acordo com Souza [1993. p. 101, grifo meu], “para o Brasil foram
enviados os condenados como hereges,
feiticeiros, blasfemadores e visionários. Esses indivíduos perpetuaram na
Colônia o comportamento tido como desviante na metrópole”. Portanto,
“[...] até a segunda
metade do século XVII, ao menos 20% da população branca de Salvador era cristã
nova e, possivelmente, teve sua proporção aumentada no século seguinte como
resultado de casamentos mistos e da migração promovida pelo avanço às minas
auríferas. Sem deixar de lembrar o acirramento da perseguição inquisitorial no
tempo de D. João V” [Severs, 2002, p. 47].
É importante dizer que
apesar de não existirem registros de tribunais inquisidores instaurados no
Brasil, as constantes visitações provocaram marcas profundas na cultura e na
formação histórica da sociedade brasileira. Segundo Wiznitzer [1966], as
visitações incluíam não apenas as descobertas de práticas sexuais “contra” a
natureza, bruxaria e insultos à Igreja Católica, mas também a denúncia de
rituais judaicos entre os cristãos-novos. Em geral, a autoridade dos inquisidores era reconhecida
pelas tropas do governo, que ajudava a promover julgamentos pelos quais se
determinava a culpa do acusado. Da mesma forma eram realizados os autos de fé,
que consistiam em fazer a população se confessar e/ou delatar outras pessoas no prazo de trinta
dias. Quem o fazia obtinha um tratamento “misericordioso” por parte dos
inquisidores; do contrário, haveria tortura e/ou morte. Nas palavras de Antero
de Quental, o “[...] catolicismo pesou [...] por todos os lados, com todo o seu
peso. Com a Inquisição, um terror invisível paira sobre a sociedade: a hipocrisia
torna-se um vício nacional e necessário; a delação é uma virtude religiosa”
[[1871] 1987, p. 45].
Desse ponto em diante
as punições tornaram-se cada vez mais intensas e cruéis. Para além da prisão
perpétua e da morte na fogueira, instituiu-se ainda o confisco de bens do
condenado, fazendo da Inquisição uma atividade altamente rentável para a Igreja
[Novinsky, 1996]. É importante sublinhar que o réu não tinha conhecimento sobre
o regimento do processo e os inquisidores, quando não satisfeitos com a sua
confissão [que incluía a denúncia do pai, mãe, irmãos, parentes, vizinhos],
enviavam-no para a câmara de tortura e o advertiam que se ele morresse ou
tivesse algum osso quebrado, a culpa recairia exclusivamente sobre ele, já que
não havia confessado todos os pecados. Se houvesse confissão completa,
evitava-se a morte na fogueira, a qual era substituída pelo perdão seguido de
penitências das mais diversas, como o degredo, a prisão, a condenação às galés,
o uso do hábito penitencial perpétuo, a proibição de andar a cavalo ou de usar
joias e roupas de luxo etc. [Novinsky, 2000].
Desafortunadamente,
esse contexto de imposição religiosa e doutrinação pela fé veio a ter fim
somente a partir da proclamação da República, em 1889, momento no qual houve a
separação entre Estado e Igreja e foi instituída, pelo menos em tese, a
laicidade estatal e a consequente liberdade/pluralidade religiosa. A título de
ilustração, entre os séculos XVII e XVIII, o número total de homens e mulheres que foram
deportados da Colônia para a Metrópole em decorrência das visitações da
Inquisição foi de 2169 pessoas [835 mulheres e 1334 homens], sendo 298 no
século XVII e 1871 no século XVIII [Novinsky, 1973].
As implicações resultantes do processo de doutrinação cristã e a
importância da educação histórica
As marcas provocadas
pelas intermitentes visitações inquisitoriais à Colônia e as duras penas
impostas aos “hereges” são perceptíveis, dia após dia, no Brasil do presente.
Na atualidade, são notórios os comportamentos de intolerância e desrespeito a
manifestações religiosas e práticas culturais que não estejam interligadas ao
cristianismo. Homossexuais, negros, indígenas e mulheres sofrem, diariamente,
atos discriminatórios por fazerem parte de uma minoria social que, durante
séculos, foi desqualificada, perseguida, reprimida e desprezada pela sociedade
“cristã”, tanto nos períodos colonial e imperial – cujo catolicismo era a
religião oficial – quanto no republicano – em que o Estado passou a ser
constitucionalmente laico.
Como vimos, a Igreja Católica exerceu, por intermédio da
doutrinação cristã e da imposição inquisitorial da fé, forte influência na
formação cultural do povo brasileiro. Emergiram, desde a colonização, valores
carregados de apelo moral, tais como a preservação da ordem político-social calcada no ideal religioso, a
instituição do matrimônio e da família nuclear [formada pelo pai, mãe e filhos], a sobreposição do homem sobre a mulher, a intolerância religiosa, a
repreensão e condenação do sexo, dentre outros. A família, nesse contexto, passou a ser considerada uma instituição de
direito divino e a sua constituição originada, portanto, no casamento, que era
visto como uma união indissolúvel entre o homem e a mulher, na qual o interesse
maior era puramente a procriação [Gomes, 1993].
Nesse
modelo patriarcal e opressor, a mulher ocupa um papel social secundário, de
submissão e servidão ao homem, assentado principalmente sobre o padrão moral da
Igreja Católica – consolidado na Idade Média e exportado para o Brasil entre os
séculos XVII e XIX. Assim, recai sobre a mulher a função quase que exclusiva de engravidar/criar os filhos e
cuidar do lar, enquanto que o homem tem a incumbência de trabalhar para
sustentar e manter a família [Del priore,
1992]. Com o passar do tempo, a própria sociedade se identifica com esses
papéis historicamente definidos no imaginário social, de forma a vigiar e
reprovar qualquer “desvio de conduta”, tornando-se este o fio condutor e
norteador de como, por exemplo, a mulher deveria agir e se comportar socialmente.
Retomando Mary Del Priore, tem-se que:
“Na visão da Igreja,
não era por amor que os cônjuges deveriam unir-se, mas por dever: para pagar o
débito conjugal, procriar e finalmente lutar contra a tentação do adultério. O
sentimento de dever e disciplina reproduziam a perspectiva de um adestramento
feminino no que dissesse respeito a práticas e afetos no interior do
matrimônio, mas também fora dele. Era a identificação mesma que fazia as
mulheres em relação a tais exigências que as distinguiam como ‘santas’ ou
devassas” [1992, p. 175-176, aspas da autora].
Com efeito, essa
feitura de hábitos e costumes, tão ensejada pela Igreja, não se restringiu à
mulher, estendendo-se também a todos os indivíduos do corpo social. Moldou,
igualmente, o “comportamento aceitável” e a mentalidade do homem branco, do
negro, do indígena, da criança/adolescente, do idoso etc. Neste sentido, a
doutrinação por meio da fé produziu um legado de padrões socioculturais que
direcionaram, por séculos, o modo de viver e pensar dos sujeitos, tanto em sua
subjetividade histórica quanto no plano coletivo.
Assim, superar as
barreiras de uma mentalidade arcaizante e impregnada no plano conjuntural não é
tarefa fácil. Por isso, a
História enquanto disciplina escolar tem a árdua missão de auxiliar a
desconstruir paradigmas, estereótipos e concepções de caráter moral, por vezes
discriminatórias e excludentes, que foram arraigadas durante muito tempo no
imaginário e na mentalidade da população brasileira. Para tanto, ganha
destaque, nesse processo, a educação histórica, preconizada e entendida por Jörn
Rüsen [2006] como parte integrante da hermenêutica historicista. Para o autor,
“[...] o professor tem
que entender a educação como o historiador tem que entender a história – isto
é, hermeneuticamente, como um tipo de texto constituído por forças humanas
intencionais e contendo um sentido que pode ser decifrado, revelando as
próprias intenções do leitor e as possibilidades de interação entre texto e
leitor” [Rüsen, 2006, p. 9].
Ainda de acordo de Rüsen [2006], um dos elementos
centrais no processo de educação histórica é a emergência da consciência
histórica, que segundo o autor não deve ser vista como um desdobramento do
conhecimento sobre o passado, mas tomada, sobretudo, como uma ferramenta que estrutura o “conhecimento histórico como um meio
de entender o tempo presente e antecipar o futuro. Ela é uma combinação
complexa que contém a apreensão do passado regulada pela necessidade de
entender o presente e de presumir o futuro” [RÜSEN, 2006, p. 14]. Deve ser
considerada, portanto, uma “categoria geral que não tem apenas relação com o aprendizado e o
ensino de história, mas cobre todas as formas de pensamento histórico; através
dela se experiência o passado e se o interpreta como história.” [Rüsen, 2006,
p. 14].
É sob essa batuta que, nós, professores de
História, podemos contribuir para romper barreiras de cunho conservador e/ou
retrógrado, alicerçadas no plano das ideias, das mentalidades e dos
imaginários, e avançar, de alguma maneira, no aspecto da superação da
consciência moral construída historicamente por meio da doutrinação e
catequização da Igreja Católica no Brasil.
Considerações finais
Neste breve texto,
tencionou-se percorrer o papel protagonizado pela Igreja Católica na formação
social e moral da sociedade brasileira. Cabe ressaltar que a Igreja, buscando
recuperar o poder político exercido ao longo dos séculos de domínio católico na
Europa e, ao mesmo tempo, combater o avanço do protestantismo, intentou, a
partir dos séculos XVI e XVII, manter a sua supremacia político-religiosa
distante de qualquer ameaça que pudesse interferir ou prejudicar o modelo
social reinante no Ocidente desde o século V. Para tanto, a atuação dos
tribunais da Inquisição foram primordiais na prevalência da doutrina e ideário
católico, sobretudo na Península Ibérica, onde os processos inquisitoriais só
vieram a se encerrar nos idos do século XIX. As implicações culturais
decorrentes da Inquisição, contudo, seguem vivas no imaginário social de muitas
populações.
No caso do Brasil, as
marcas da doutrinação pela imposição de uma única crença, a cristã, fizeram-se
presentes na formação dos comportamentos e do pensamento moral da sociedade. O
matrimônio – um dos traços culturais católicos mais arraigados socialmente – é
um exemplo da força que teve a cristianização propagada na Colônia e no
Império. Como vimos, é decorrente da instituição do casamento a demarcação de
papéis sociais historicamente constituídos, fortalecidos e defendidos pelo
próprio corpo social até a atualidade. Vale reiterar que qualquer
comportamento, costume ou forma de vida que não seja a apregoada pela doutrina
cristã é reprovado e perseguido amiúde pela sociedade, seja no tocante ao
formato familiar, à sexualidade ou mesmo no que diz respeito ao modo de se
vestir e pensar.
Esse aspecto da
conduta moral, assentada nos preceitos religiosos e constituída desde o período
colonial, contribui diretamente para a manutenção do quadro de desrespeito,
discriminação e intolerância às diferenças, muito vivo no Brasil contemporâneo.
Não se pode negar, todavia, que especialmente no último decênio, a primazia da
doutrinação pela fé cristã tem sido dividida entre a Igreja Católica – que não
detém mais a mesma força de outrora – e as igrejas evangélicas, sobretudo as de
ordem neopentecostal, as quais vêm ganhando bastante espaço não só na disputa
pela feitura e [de]limitação da mentalidade social, como também no campo
político-econômico, dialogando com o próprio ethos capitalista, conforme análise feita por Max Weber [1864-1920]
na obra A ética protestante e o espírito
do capitalismo – um importante estudo diacrônico do surgimento e
consolidação do protestantismo como instituição para a manutenção do status quo capitalista. Ademais, a onda conservadora que paira
sob o céu do tempo presente, em que governantes defendem publicamente a tortura
e o extermínio de pessoas com as quais não têm a mesma identificação cultural,
está igualmente calcada no passado doutrinário-inquisitorial católico, no qual
a Igreja utilizava-se da tortura e da execução de indivíduos para disseminar a
sua ideologia e perpetuar-se no poder. Destarte, ainda que a ascensão religiosa
de hoje figure entre os evangélicos, a forma de doutrinação e as implicações
histórico-sociais dela resultantes guardam semelhanças com os tempos de
catequização e predomínio católico.
Referências
Fábio Alexandre da Silva é doutorando em História pela Universidade
Federal de Pelotas – UFPel [2020-2023], mestre em Educação pela Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste [2020] e licenciado em História pela
Universidade Norte do Paraná [2017]. Possui experiência na área educacional,
tendo ministrado aula na Educação Básica, Técnica e Superior, e desenvolve
pesquisas principalmente nos campos de Teoria e Metodologia da História, Ensino
de História e História do Brasil.
DEL PRIORE, Mary. Família,
mulher, sexualidade e igreja na história do Brasil. São Paulo: Loyola,
1992. [livro]
GOMES,
Luiz Roldão de Freitas. O casamento no direito brasileiro: aspectos diante da
constituição federal. Rio de Janeiro: Forense, 1993. [livro]
NOVINSKY, Anita
Waingort. Confessa ou
morre: o conceito de confissão na inquisição portuguesa. Revista Transdisciplinar Luso-Francesa
Sigila, 2000. [livro]
NOVINSKY, Anita Waingort. Um novo conceito de
marranismo: o patrimônio judaico-português. In:
I Colóquio Internacional “O Patrimônio Judaico Português”, 1996, Lisboa. Anais... Lisboa: Associação
Portuguesa de Estudos Judaicos, 1996. [livro]
NOVINSKY, Anita Waingort. Uma fonte inédita para a
história do Brasil. Revista de História, v. 46, n. 94, p. 563-572,
1973. [artigo]
QUENTAL, Antero de. Causas da decadência dos povos peninsulares. v. 2.
Lisboa: Ulmeiro, 1987. [livro]
RÜSEN,
Jörn. Didática da história: passado, presente e
perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 1, n.
2, p. 07-16, jul./dez. 2006. Disponível em:
http://www.revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/view/279/285.
Acesso em: 30 mar. 2020. [internet]
SEVERS, Suzana Maria de Sousa Santos. Além da exclusão: convivência entre cristãos novos e cristãos
velhos na Bahia setecentista. São Paulo: USP, 2002. [livro]
SOUZA, Laura de Mello e. Inferno
atlântico: demonologia e colonização [séculos XVI-XVIII]. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993. [livro]
WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004. [livro]
WIZNITZER, Arnold. Os judeus no Brasil colonial. São Paulo: Pioneira,
1966. [livro]
Buscando o paralelo feito entre o período da colonização e os dias atuais, é evidente o poder exercido para “demonização” daquilo que foge dos padrões religiosos pela Igreja Católica e pela Igreja Evangélica. Apesar disso, percebe-se que as práticas culturais e os personagens sociais são presentes na nossa herança cultural, mesmo diante da inquisição e dos processos de doutrinação. Entende-se então, a importância da educação histórica na garantia de fazer lembrar aquilo que tentou-se encobrir e castigar. Voltando-se para o processo da Educação Histórica, como podemos despertar a consciência histórica dos alunos, para que eles possam reconhecer aspectos da sociedade atual que são influenciados pela doutrinação religiosa? Como o professor de História pode auxiliar nessa associação entre compreender o passado e despertar o estudante para o tempo presente? E de quais meios ele pode utilizar tendo em vista o campo conservador e de silenciamento social que o educador se encontra atualmente?
ResponderExcluirParabéns pela temática abordada.
Rafaela Silva dos Santos.
Olá, cara Rafaela! Muito obrigado pela apreciação do texto e por sua participação.
ExcluirBem, indo às suas perguntas, imagino que não haja outro caminho para superar as mazelas provocadas por séculos de doutrinação religiosa que não seja a Educação Histórica. Como nos lembra Rüsen, despertar a consciência histórica dos educandos perpassa pela localização desses sujeitos no tempo/espaço. E isso só se torna alcançável na Escola, por intermédio de aulas de História (e afins) críticas e reflexivas. Cabe ao professor de História, portanto, oportunizar aos estudantes o contato direto com fontes/documentos históricos, que quando bem trabalhados fornecem elementos bastante profícuos para a conscientização. No caso da Inquisição, um exemplo é o trabalho com imagens do período, as quais podem auxiliar a construir essa consciência do quão cerceadora e brutal foi a doutrinação pela fé no período inquisitorial.
Nessa trajetória, penso que um dos caminhos possíveis também é o uso de ferramentas como o cinema, pois a partir dele se consegue "transportar" o aluno para determinada sociedade/época, facilitando, em certa medida, a construção do conhecimento histórico. Como você bem pontuou, hoje voltamos a estar imersos num panorama de perseguição político-ideológica e censura. Então, diante de tal cenário, trabalhar com filmes - problematizando-os devidamente - é um recurso potencial para auxiliar o professor no processo de ensino-aprendizagem.
Espero tê-la respondido.
Um abraço!
Fábio
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá Fábio, acho que a sua discussão é muito importante para discutirmos a falta de tolerância e respeito por outras religiões e crenças, que surgem com força nos dias de hoje. Contextualizar nossa história é permitir a compreensão do processo e sobretudo criar uma moralização em defesa da diversidade religiosa em nosso país. Parabéns
ResponderExcluirEverton Carlos Crema
Olá, Prof. Crema! Muito obrigado pela sua participação e contribuição. De fato, necessitamos urgentemente explicitar cada vez mais o processo histórico e direcionar olhares para a construção de um quadro mais consciente e de respeito à diversidade étnico-religiosa e de gênero, tão cara à história brasileira.
ExcluirAbraços,
Fábio
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa Noite Fábio, primeiramente gostaria de dizer que gostei muito do texto que você produziu, esse texto propõe uma discussão muito necessária em nossa sociedade atual, onde pessoas se utilizam da religião para disseminar ideias preconceituosas frente a quem pensa diferente delas.
ResponderExcluirEu gostaria de perguntar como você acha que o professor de história deve proceder ao abordar esse assunto (e também outros temas tidos como tabu em nossa sociedade) com os alunos em sala? pois, tendo em vista que por serem jovens, alguns alunos nesse processo de amadurecimento de ideias poderiam se utilizar do que é dito para se voltar contra o que os pais acreditam e com isso criar grande problemas em seu meio social(especialmente familiar), gerando inclusive reclamações dos mesmos. Como os professores podem contornar esse problema?
Atenciosamente
Renan Lopes Belo
Olá, Renan! Obrigado pela participação e contribuição, fico feliz que tenha apreciado o texto.
ExcluirEntendo o seu ponto de vista, realmente vivemos tempos que guardam semelhanças com os governos ditatoriais brasileiros (1964-1985) e isso, claro, impacta uma série de questões e obviamente interfere no chão da escola. Todavia, não podemos nos intimidar. A inquisição católica faz parte da história da humanidade e seu legado trouxe implicações seríssimas do ponto de vista cultural, chegando com bastante força aqui no Brasil e na América, como tentei demonstrar no ensaio. Assim, a temática jamais pode ser suprimida das aulas ou tratada de maneira secundária, mesmo com toda essa vigilância e tentativas de silenciamento que emergem na atualidade. Embora o tema seja complexo e controverso, justamente porque toca em pontos nevrálgicos da cultura brasileira, isto é, a fé e a religiosidade, sua abordagem deve ser, claro, respeitosa por parte do docente/discentes, porém, colocadas as crenças pessoais de lado, deve-se explicitar o quão brutal foi a doutrinação pela fé e os processos inquisitoriais dela decorrentes.
Nesse processo, por mais polêmica que possa gerar, sobretudo na conjuntura atual, entendo que o trabalho com imagens e audiovisual auxilia grandemente na construção do conhecimento sobre o período. Para além de fontes escritas (relatos, textos religiosos, fontes literárias) e do manual didático escolar, os quais dão substrato para as aulas, o emprego de pinturas/ilustrações e filmes é bastante efetivo, pois permite ao discente ser "transportado" para aquela época, percebendo empiricamente as mazelas que foram causadas nos séculos de predomínio católico-cristão. Exemplo disso é o filme 'O Nome da Rosa' [1986], de Umberto Eco e Jean-Jacques Annaud, que descreve de maneira crítica e detalhada o cotidiano de um mosteiro medieval em tempos de Inquisição. Gerar debates produtivos, portanto, é parte fundamental nessa trajetória, tendo em vista que não avançaremos sobre o mar revolto que se apresenta, hoje, sem abordar criticamente temáticas como esta.
Espero ter me feito entender.
Abraços,
Fábio